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ANY G.

Ao invés das coisas melhorarem com o tempo, tudo se tornava ainda mais difícil. Eu não iria me acostumar com o lado autoritário de Noah e não conseguia ficar quieta quando ele era rude ou irônico. Nós estávamos entrando em um joguinho de sarcasmo que acontecia o tempo todo. Eu gostava de pensar que era o nosso lance interno, algo que nos unia de certo modo. Apesar de querer parecer irritado quando eu o respondia, dava para ver que aquilo o agradava.

Meu trabalho como secretária começou e além de cuidar da vida pessoal de Noah eu também cuidava da profissional. Heyoon até me apelidou de "babá de empresário", o que eu achei muito engraçado porque era verdade. O homem não iria dar um passo em sua vida sem que eu soubesse e cuidasse de tudo. Era um ótimo jeito de conhecê-lo ainda mais, mas também era um jeito terrível de ficar ocupada o tempo todo e não ter tempo para flertar. Talvez as nossas discussões sarcásticas fossem um tipo de flerte diferente. Será que ele também pensava assim?

O expediente estava quase terminando e eu não parava de olhar o relógio. Estava morrendo de sono e precisava ir para casa dormir um pouco. Olhar as horas me fazia lembrar do meu prazo e eu me sentia vivendo os dias mais ansiosos da minha existência. As coisas estavam indo devagar demais e eu não sabia mais o que fazer para me destacar a ponto de Noah dar um passo à frente. O que mais eu poderia fazer além de tratá-lo diferente de como as outras pessoas faziam?

A porta da sala dele foi aberta e eu saí dos meus pensamentos. Noah segurava sua maleta, estava prestes a ir embora. Levantei para poder ir até sua sala deixar tudo em ordem, mas ele ergueu a mão para me parar.

— Eu já organizei tudo. — falou.

— Ah, céus, o doutor sabe fechar as cortinas? — dramatizei uma expressão de espanto.

— Eu sei fazer muitas coisas com as mãos, Soares. — sorriu de canto de forma perversa.

Eu esqueci de mencionar as piadinhas de duplo sentido que ele passou a fazer comigo. Porra, isso tinha que significar algo!

— Parabéns por isso. — ironizei, voltando até minha mesa para pegar minha bolsa e ir embora também.

Caminhamos lado a lado até o corredor e entramos no elevador juntos. Ele apertou o botão do térreo e as portas se fecharam, deixando apenas o silêncio como protagonista. Ficar excitada em um elevador ao lado de seu chefe gostoso era um clichê que eu estava gostando de conhecer. Olhei para ele de relance e ele fez o mesmo, mantendo-se sério e me encarando até desviar o olhar rapidamente de novo.

— Eu tenho que repassar a sua agenda? — comecei um assunto para quebrar aquele silêncio.

— Não, mas eu quero ver se você se lembra. Repasse a minha agenda, Soares. — tornou a me encarar.

Alguma coisa pulsou entre as minhas pernas e eu engoli em seco.

— O doutor tem uma reunião às três da manhã com alguns acionistas do Japão. E depois de eu quase formatar todo o meu computador, consegui ativar um lembrete no seu notebook. Amanhã cedo eu devo levar o Thor para passear porque o doutor vai estar dormindo por causa da reunião.

— Você deveria fazer aulas de informática. Como alguém da sua idade não sabe o básico?

— Eu sou uma pessoa vintage. — literalmente.

— Você quis dizer antiquada.

As portas do elevador se abriram e ele saiu na frente, esquecendo qualquer cavalheirismo que mandava deixar a moça se retirar primeiro.

— O doutor não pode me culpar por não gostar dessas modernidades. — fui dizendo enquanto o acompanhava.

— Não gosto do seu tom quando me chama de doutor. É sempre desdenhoso. Mude isso. — mandou como se fosse apenas uma tarefa que eu deveria cumprir.

Estúpido Cupido! ⁿᵒᵃⁿʸWhere stories live. Discover now