Capítulo 3: D-I-V-E-R-S-Ã-O

5K 466 348
                                    

"Nunca mais, eu repito, nunca mais eu tomo esse negócio do capeta em forma de lata azul e com um gosto maravilhoso. N-u-n-c-a m-a-i-s! ── Giulia."

PEDRO

Deveria existir uma lei que proibisse as pessoas a interromperem o banho das outras.

Porque, sério, não existe coisa mais irritante do que ter seu banho atrapalhado. Ainda mais quando você está atrasado para uma festa. Tipo, atrasado mesmo. Eu tinha combinado de me encontrar com os meus amigos há meia hora na frente da casa do Samuel. E onde eu estava? Isso mesmo: tomando banho.

Ou sendo interrompido.

Parecia que todos os habitantes da minha casa tinham tomado um belo chá de sumiço bem na hora do meu banho. A campainha continuava tocando e tocando e ninguém se habilitava de ir atender. Aqui em casa é sempre: ninguém gosta de atender a porta e muito menos o telefone residencial. É sempre uma briga imensa pra ver quem vai atender esse último.

Desliguei o chuveiro e peguei a minha toalha, me secando de qualquer jeito e a prendendo na cintura. Basicamente fui escorregando até a porta de casa.

Adendo: fazer isso em um dia qualquer sem pressa.

A minha cara de surpresa só não foi mais épica que a cara de desaprovação do Gustavo e a cara de debochado do Samuel. Eles nem tentaram disfarçar o momento em que o Gusta passou dez reais - contra a vontade dele, aquilo era claro - para o Samuel.

─ Pensei que a gente fosse se encontrar só na frente da sua casa, Samuel...

Dei passagem para eles entrarem, mas é claro que eu iria escutar um mini discurso de Gustavo Rezende. Afinal, ele não seria Gustavo Rezende se não fizesse um dos seus discursos.

─ Dez minutos é um atraso tolerável, Pedro... Trinta minutos é falta de vergonha na cara. ─ ele disse enquanto passava por mim e eu, obviamente, revirava os olhos por aquele drama desnecessário. ─ E eu sei que você revirou os olhos, seu panaca.

─ Além do mais que a bunda já tava ficando quadrada de tanto esperar você, cara. Então a gente decidiu vir pra cá e pedir o táxi daqui mesmo. ─ Samuca deu um soco amigável no meu braço, mas já seguiu em direção a cozinha da minha casa. Típico. ─ E aí, tem comida nessa casa?

Fiquei parado feito um abobado na porta da minha casa, só com uma toalha amarrada na cintura. Sei lá, vai que do nada a Giulia e a Fernanda não aparecem também? Sacudi a cabeça e tratei de fechar a porta, mas ainda fiquei parado ao lado das escadas.

Samuel começou a mexer na geladeira ao mesmo tempo que Gustavo trocava mensagens com alguém pelo celular, sentado em um dos bancos americanos do balcão que separava a sala da cozinha.

Uma Anaju resmungando alguma coisa sobre alguém estar tentando a matar com o chão todo molhado enquanto descia as escadas de casa chamou a atenção de nós três e a cara de nojo dela fez com que meus amigos soltassem risadas. Parece que mais alguém vai aparecer na festa do Diogo hoje.

─ Isso é nojento. Pedro, pelo amor de Deus, vai colocar uma roupa e seca o chão depois. ─ Anaju foi em direção à cozinha e eu a segui. ─ Samuel, vê se limpa o que você for sujar.

Samuca, como o bom idiota que era, bateu uma espécie de continência para a minha irmã enquanto deixava a geladeira de lado e se dedicava a comer os biscoitos de polvilho da minha mãe. Eu ia ter que colocar a culpa na Anaju mais uma vez pelo sumiço dos biscoitos.

─ Sem querer apressar ou coisa do tipo, mas cara ─ Gustavo parou de digitar no celular e focou a atenção na pessoa extra no ambiente. ─ Fala aí, Anaju. ─ como resposta, ela apenas acenou com uma das mãos e pegou a sua bolsa, saindo no momento que uma buzina soou do lado de fora. ─ Tchau, Anaju. Pelo menos alguém dessa casa vai chegar no horário... A gente vai se atrasar desse jeito, Pedro! Enfia uma roupa logo, por favor! Não aguento mais ter que aguentar a Giulia no WhatsApp.

30 Coisas Para Fazer Antes da Faculdade | ✓Onde as histórias ganham vida. Descobre agora