Capítulo 5: Ponto fraco

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"Aquele momento que você percebe que está muito encrencado apenas pelo olhar assassino que a sua melhor amiga lança para você. É, boa sorte em tentar acalmar a fera, Guga. ── Samuel."

FERNANDA

19 - Adotar uma mascote para turma;

Se tem uma coisa que abala meu psicológico, essa coisa é toda e qualquer coisa que envolva animais. Eu, Fernanda Marcondes, tenho um ponto fraco na minha essência e esse ponto fraco são animais. Então, quando eu relatar a seguinte situação a seguir para você, tente entender o meu ponto de vista antes de reagir como o pessoal do colégio, beleza? E leve em mente: pontos fracos.

Era um belo dia da semana em que eu estava de muito mau humor porque meus amigos resolveram dias atrás, logo após uma noite de bebedeira e ainda de ressaca, que seria uma ótima ideia realizar uma lista de trinta coisas para se fazer antes da faculdade. Posso afirmar que gosto de listas em alguns momentos, ainda mais se são listas de compras de supermercado, ou seja, lista de comida, mas aquela lista... Ah, aquela lista... Não tinha comida no meio - e se tinha eu não lembrava - mas que aquela lista é do Satã... Isso ela é.

Porque, veja bem, um bando de adolescentes resolve fazer uma lista enquanto bêbados e no meio dos itens tem um lance de declaração. Declarar para quem? Quem ia se declarar? Quem estava apaixonado? Somos amigos, todos os cinco, e mesmo que eu goste de ficar em dúvida algumas vezes sobre o Pedro me aturar ou gostar de mim, considero ele meu amigo. Somos amigos e amigos não escondem de amigos que estão apaixonados! Porque, então, um de nós iria esconder que estava apaixonado?

Não tem lógica!

Ainda debatia sobre essa lista que eu seria obrigada a fazer porque Gustavo resolveu que gostava de ferrar com a minha vida quando estava de ressaca enquanto ia para o colégio, quando chutei uma pedra e ela bateu em algo. Até aí nada demais, caso esse algo não tivesse resmungando quando a pedra o atingiu.

Retrocedi os passos que havia dado e voltei para olhar no que a pedra tinha batido. Nenhuma das minhas opções ali seriam capazes de reproduzir som e quando pensei que provavelmente estava escutando coisas demais e resolvi ir de uma vez por todas para o colégio, a nada suspeita caixa de sapatos próxima a lata de lixo resolveu se movimentar. Cocei atrás da orelha, em dúvida, e debati por dois segundos se a caixa havia se movido ou não, mas então ela se mexeu mais uma vez e eu soube que alguma coisa de errada não estava certa.

Fui em direção a caixa como qualquer outra pessoa iria e a levantei. Juro para qualquer um que me pergunte que eu esperava encontrar algum brinquedo de pilha ali, mas nunca um filhotinho de cachorro abandonado. Fui atingida bem no meu ponto fraco.

Quando aquela bolinha de pelos me olhou, eu olhei para ela e ficamos naquela troca de olhares onde eu tentava não derramar nenhuma lágrima, soube que deveria fazer alguma coisa e foi isso mesmo que fiz: alguma coisa. Não que essa coisa tenha sido a minha ideia mais genial e tudo mais, mas em momentos de desespero medidas desesperadas são tomadas e, bem, eu quase nunca penso nas consequências dos meus atos.

Então quando eu retirei meus livros, cadernos e estojo de dentro da mochila e enfiei o filhote lá dentro e recomecei o caminho até o colégio, não pensei que duas horas mais tarde, na minha aula de biologia, o filhote fosse começar a chorar, o professor fosse vasculhar a minha mochila e eu acabaria onde estou agora: sentada na diretoria enquanto o diretor me encara perplexo demais e a minha mãe ainda não deu sinal de vida.

Que conste nos autos: o filhote ainda permanecia sob meu domínio.

Tentei me defender até porque sou formada em duas temporadas de How to Get Away with Murder, mas ninguém quis escutar o meu lado. Não tive o direito a defesa, mas o de permanecer calada me foi concedido sem a minha vontade já que o diretor não me deixava falar nada. Eu não estou reclamando, longe disso, só que naquele momento eu nem queria mais me explicar sobre o cachorrinho na minha mochila, mas sim queria um copo de água e não tinha o direito de falar. Seria muito injusto morrer desidratada por ter feito uma boa ação.

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