Capítulo 1 parte2

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Havia nevado muito naqueles dias, em um inverno que se iniciava mais intenso que de costume. O trajeto na neve foi difícil de percorrer com o coche, e o frio era um castigo para as crianças. Eles seguiram na direção leste por alguns dias, indo buscar ajuda com Alexander Novgorodsky. Reinis teve medo de que, se seguisse em direção ao Mar Báltico, atravessando-o para encontrar Indrek, seriam localizados, já que era evidente que ele procuraria pelo primo. Encontrá-lo no Condado de Kristiânia, onde mantinha residência, poderia condenar a ambos.

Por toda a viagem, Andrey permaneceu calado, não se pronunciava, e Daina o acompanhava de perto. Aiva também se mantinha quieta, falava pouco e não se afastava da mãe. Sempre que paravam para descansar, Daina se sentava com Andrey no colo, passava os dedos por seus cabelos claros e cantava para ele as músicas folclóricas que conhecia.

Nesta manhã, ao invés de seguir viagem, decidiram permanecer acampados. Ajeitaram-se próximo a um riacho e providenciaram uma fogueira. Reinis caçou uma lebre e eles procuraram se alimentar. Não haviam avançado para muito longe de seu povoado devido às dificuldades de locomoção na neve, e Reinis passou a considerar a impossibilidade de continuar daquela maneira, pensava que poderia procurar uma aldeia para se instalarem, ideia que parecia segura, já que não viu nenhuma movimentação e não encontrou ninguém em todos estes dias. Não suportava mais ver Daina e as crianças viajando sobre cavalos tantos dias, se deslocando de forma tão lenta e precária por um caminho que não facilitava a passagem do coche. Estando em um povoado ou aldeia, ele poderia conseguir outro transporte para eles, um que deslizasse pela neve, ao invés de afundar nela. Estava esfriando cada vez mais, restavam poucas horas com luz natural do dia, e logo a neve seria tanta que não seria possível continuar aquela viagem.

Mantiveram-se acomodados em torno da fogueira, e Reinis pretendia descansar mais cedo e se dirigir a uma estalagem, no dia seguinte. Ainda tremulava luz do dia, estavam conversando despreocupadamente, quando ouviram o som de cavalos que vinham naquela direção, o que os deixou alertas. Esperaram para ver se eram humanos comuns, ou se estariam sendo abordados por seres como eles. Reinis e Daina, apreensivos, levantaram-se e quando ouviram os gritos de Guerreiros em ataque começaram a correr. Não houve tempo de pegar os cavalos, não estavam prontos.

Reinis agilmente pegou uma espada e a mão de Aiva, Daina agarrou Andrey e correram todos para o interior da floresta. Eles foram ágeis e rápidos como os Nemtsi costumavam ser, e no caminho, Reinis também ergueu Aiva nos braços para que pudessem avançar mais rapidamente, fugindo dos atacantes. Mas por mais ágeis e intuitivos que Reinis e Daina fossem, eles estavam a pé, não conseguiriam fugir de combatentes em cavalos e não eram capazes de enfrentar os Selvagens que se aproximavam: seriam mortos.

Os "Selvagens", "Indomáveis" ou "Guerreiros" como gostavam de ser chamados, também não eram como os "homens comuns": eram como os Nemtsi, como Reinis e Daina, porém, suas capacidades eram mais pronunciadas, eles possuíam mais controle de seus apurados sentidos, o que os tornava mais ágeis, mais rápidos, mais intuitivos e mais capazes de vencer os oponentes em uma batalha. Não era comum um Nemtsi vencer um Guerreiro Selvagem em um duelo, mas era possível... Sozinho, entretanto, Reinis não teria chances em uma luta com eles: sabia lutar, mas essa não era sua especialidade, e não enfrentaria vários deles, nem se tivesse armas de fogo.

Eles estavam encurralados e Reinis percebeu que surgiam mais Guerreiros vindo em direção a eles, pela lateral, perto de onde estavam, o que os deixou sem rotas de fuga.

O novo grupo que se aproximou era de Selvagens, também, incrivelmente rápidos e habilidosos com suas armas. Mas, para surpresa deles, os cavaleiros trajando roupas cossacas passaram pelas árvores em torno, desviaram e entraram em confronto com seus perseguidores. Reinis pôde visualizar por entre as árvores as lutas que se travaram. Empunhavam espadas e desferiam golpes rápidos e engenhosos com extrema rapidez e agilidade. Alguns tiros também eram disparados de ambos os lados, e Reinis imaginou que as balas poderiam atingi-los.

Nemtsi e Selvagens - As almas cativasOnde histórias criam vida. Descubra agora