Capítulo 33

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***

      Pela manhã, bem cedo, um pouco menos preocupado com Daina e mais tranquilo por Asia permanecer em casa na companhia dela, Andrey despediu-se da esposa e foi com Michel buscar Volker em sua casa para irem juntos ao trabalho.

      Em pé em seu quarto, em frente à porta da sacada, Asia avistava os eucaliptos do jardim que eram sacudidos pelo vento fresco da manhã. O chiado constante e oscilante das folhas chicoteadas pelo vento soava como uma tranquilizadora melodia que contrastava com o teor de seus pensamentos. Ela não esqueceu das coisas que ouviu de Slauka e da forma como Daina estava abalada quando chegou à casa na sexta feira. Repassava em sua mente o que, juntamente com Laura, ouvira na tarde anterior e tentava imaginar alguma razão para toda aquela conversa.

      Caminhou até a cama e sentou-se ao lado de sua bolsa que havia deixado aberta sobre ela. O que Daina havia dito deixou-a apreensiva: elas corriam sim, algum risco. Se Daina tinha ciência do que se tratava realmente, não contou a elas. Asia, sentada na beirada da cama, começou a escovar seus cabelos e observou, dentro da bolsa aberta, a adaga da mãe de Andrey que trouxe consigo. Não havia dito nada a ele sobre suas inseguranças, deixou que ele fosse tranquilo para o trabalho, e tentaria ajudar Daina de alguma maneira com o que a preocupava. Ela terminou de escovar seus cabelos e se preparou para o passeio. Como avaliou que seria um dia mais quente, preferiu vestir roupas leves, escolheu vestir calças jeans, uma camiseta e um tênis tipo sapatilha, preparando-se para a manhã de caminhadas. Observou um pouco indecisa sua bolsa sobre a cama e depois desceu pronta para sair.

      Da sala, pôde ver Slauka e Lars conversando na varanda e caminhou até lá. Lars ergueu os olhos para ela, que parou no limiar da porta, e sorriu dizendo:

      - Bom dia, Asia! Hoje será um lindo dia de sol, parece que será um dia bem quente, aproveitem o passeio.

      Lars deu um beijo em Slauka e ao sair da varanda, puxou Asia pelo braço um pouco mais para dentro da sala.

      - Cuide dela para mim, sim? - pediu ele - Estarei com Reinis esperando por Vladimir agora cedo. Conversaremos com ele durante toda a manhã. Ficaremos bem próximos do parque e estamos nos programando para encontrar vocês antes do almoço, assim que estiverem saindo - Lars segurou Asia pelos braços e lhe deu um beijo no rosto, coisa que não costumava fazer, e depois saiu.

      Asia pegou duas canecas de café e foi se sentar com Slauka na varanda. Achou Slauka relativamente bem, estava desperta e atenta a todos os movimentos que fazia, diferente do estado desligado que apresentava nos dias anteriores. Slauka usava sua calça solta, cinza chumbo de algodão e um sapatinho baixo, e, como uma criança, cruzava as longas pernas sobre o banco-balanço Ela vestia uma malha azul sobre a blusa branca, e Asia, notando a malha, perguntou:

      - Está com frio, Slauka? O dia está tão quente!

      - Estava mais frio pela manhã quando levantei - Slauka moveu-se para tirar o casaco fino, arrumou-o e depois o jogou nas costas sobre a blusa, amarrando as mangas na frente de seu pescoço. Em seguida, ergueu o rosto para Asia que a observava.

      - Deixe assim, ficou bom!

      Asia se aproximou de Slauka, passou as mãos nos cabelos dela na altura do pescoço e puxou-os para cima da malha, deixando as mechas ruivas caírem soltas nas costas. Slauka estava melhor, só não estava ainda alegre como de costume. Asia julgou que ela estava mais presente, mas continuava preocupada com o que quer que fosse acontecer. Nunca tinha visto Slauka assim e isso a estava deixando tão preocupada quanto Andrey.

      Depois de ajudar Slauka a se arrumar, Asia olhou para o céu que já exibia a tonalidade de azul do outono e observou a colina adiante iluminada pelo sol. Tudo que se podia ver naquela paisagem era muito verde e vivo, e a brisa fresca soprava empurrando os cabelos de Asia para trás.

Nemtsi e Selvagens - As almas cativasWhere stories live. Discover now