Capítulo 29

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***

    Uma forte chuva incidia sobre Paris nesse início de outono. Havia chovido o dia inteiro e Olívia, ao chegar de Amsterdã, não pôde ir direto para casa como queria, tendo que se trancar em seu escritório para adiantar os relatórios a serem entregues no dia seguinte.

      Estava exausta quando deixou o prédio que o Conselho Nemtsi mantinha em Paris. Seu motorista logo se adiantou com um enorme guarda-chuva, para pegá-la sob o toldo assim que a viu deixar a recepção do prédio.

      A chuva atrasou a sua chegada ao apartamento deixando-a ainda mais cansada. Olívia, sentada no banco de trás de seu carro, observava as gotas baterem no vidro, enquanto fazia planos para o dia seguinte: entregar os relatórios e a petição do novo caso em que ela e Naam Símaco iriam trabalhar, e tirar o resto do dia de folga. Na verdade, Olívia gostaria de tirar pelo menos mais dois dias para descansar com seu marido na propriedade de sua família, mas isso não seria possível diante do pouco tempo que tinham para se dedicar ao novo julgamento.

      Ao entrar em seu apartamento percebeu a luz do escritório acesa, logo, deduziu que Louis Berard também já havia voltado de viagem e trabalhava em sua escrivaninha. Olívia caminhou até a porta, escorou o corpo no batente e o observou virar o rosto para ela:

      - Oi, chegou tarde! - comentou Berard.

      - Oi, Louis. Estou exausta, mal consigo permanecer em pé - Olívia dobrou uma de suas pernas para trás erguendo o pé para tirar o sapato com salto alto e repetiu o movimento com a outra perna permanecendo apenas com a meia-calça pisando sobre o carpete fofo.

      - Já estou sabendo sobre o sucesso no caso, vou parabenizar Naam, amanhã. A moça vai precisar de ajuda quando sair da prisão? - perguntou Berard em tom solícito.

      Olívia, que havia virado as costas para o batente da porta e se apoiava nele, deixou-se escorregar flexionando os joelhos até se sentar sobre o carpete.

      - Não, Louis, os filhos irão ajudá-la. - Ela apoiou o cotovelo esquerdo nos joelhos que mantinha flexionados, apoiou o queixo na palma da mão e virou o rosto para Berard enrugando a testa. - E Naam estará presente no momento de sua soltura, você não o encontrará aqui amanhã, está em Londres. Por isso, precisei hoje mesmo, adiantar a papelada do próximo caso. Vamos começar em seguida. Pegamos esse caso e passamos a frente de outros de nossa lista porque o rapaz ainda está vivo. Se conseguirmos agir rapidamente, talvez evitemos a sua execução.

      - É o rapaz que era da Guarda dos Spach? O que fugiu com a garota Nemtsi?

      - É sim, Louis. - Olívia tirou a mão de seu rosto e a deixou cair solta, mantendo o cotovelo ainda sobre o joelho. Virou o rosto para frente e examinou, sem ver, o batente oposto ao que estava encostada. - Temos que ser rápidos. - suspirou - Eles foram muito estúpidos, deixaram-se pegar com muita facilidade. Se não tivessem fugido talvez estivessem sem problemas agora, não acha? - voltou a olhar para Berard.

      - Creio que sim, Olívia - concordou Berard com pesar. - Mas é uma vida muito difícil. E no caso deles, eram observados de perto, não tinham chance. - Berard balançava a cabeça em sinal de negação enquanto, pensativo e descrente, baixava os olhos para sua escrivaninha. - Aquela família já se envolveu antes. - recomeçou - É a segunda vez Olívia, não creio que...

      Quando recomeçou a falar, Berard olhou de novo para Olívia, mas ela não o viu nem ouviu, havia voltado o rosto para frente deixando o olhar perdido e o interrompeu:

      - Acredito que o Conselho seja mais tolerante com as mulheres Nemtsi que são pegas se envolvendo com Selvagens do que com os homens Nemtsi que façam o mesmo. Percebo isso...

Nemtsi e Selvagens - As almas cativasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora