Capítulo 11 parte 2

71 28 20
                                    

**

Após deixarem a avenida com trânsito lento e cortarem caminho por ruas menos movimentadas, chegaram à lanchonete. Andrey parou o carro em um estacionamento, ainda chovia e Asia, ao sair, deixou o sobretudo sobre o banco do carro.

- Leve, sua roupa ainda está molhada, vai sentir frio. - disse ele gentilmente.

- É muito comprido para eu usar, além do mais, o frio não nos afeta tanto, não é? Não vou ficar doente.

- Vai sentir frio mesmo assim, deveria levar. - Andrey a observou balançar a cabeça negativamente. Não insistiu, fechou a porta do carro e virou-se um pouco de lado, mas antes de seguir em frente no sentido da lanchonete, olhou-a com um sorriso esticado nos lábios e estendeu a mão para ela.

Asia observou por instantes aquela mão que lhe era oferecida. Olhou para o rosto dele notando o sorriso que formava um vinco em cada lado de sua face, depois, ergueu seu braço e colocou sua mão na dele, deixando-se, então, ser conduzida por ele.

Quando se viu entrando na lanchonete, Asia voltou a ser o cãozinho de rua molhado e sujo novamente. Imaginou os olhares de todos os presentes avaliando seu estado físico, mesmo que ninguém estivesse, de fato, olhando para ela. Entretanto, ela entrava ali de mãos dadas com Andrey, bonito e bem vestido. Imaginou, então, que ninguém iria confundi-la com uma mendiga perdida.

Pegaram algumas coisas para comer no self-service, encaminharam-se para as mesas e se sentaram. Andrey apoiou os cotovelos na beirada da mesa e passou as mãos no rosto, descendo, depois, o braço esquerdo para a mesa e a mão direita para a nuca, abaixando um pouco a cabeça. Ele se sentia muito cansado por ter passado praticamente duas noites sem dormir, e ter se indisposto com Vladímir ainda o preocupava.

- O que foi? - perguntou Asia observando sua postura com a cabeça baixa.

- Na verdade, estou com sono, não dormi ontem, nem tenho dormido muito ultimamente - Andrey estava um pouco sério e ergueu os olhos para Asia, engelhando a testa.

- Quer ir? - perguntou ela preocupada.

- Não, é melhor parar um pouco, não é bom dirigir assim. Vamos comer? - disse ele adotando uma postura mais ereta e esboçando um sorriso.

Aquele ambiente frio e suas roupas que ainda estavam úmidas a deixaram gelada novamente, mas não disse nada a esse respeito, já que recusara o sobretudo. Ela ainda não sentia fome e tinha medo de vomitar, como Marta sugeriu, se tentasse se forçar a comer algo, mas conseguiu, aos poucos, tomar o chocolate quente que segurava sobre a mesa com ambas as mãos para aquecer-se. Apesar do desconforto físico que sentia, era encantador para ela, que ficou tanto tempo sozinha, poder encontrar aquele homem bonito e gentil, que pertencia a seu mundo ainda tão desconhecido, alguém como ela. Ficou observando-o comer e perdeu-se em pensamentos: "Ele é como eu, meu Deus, é real! E está aqui, comigo! Mas como posso sentir que já o conheço há muito tempo? Assim, com tanta facilidade! Porque já sonhei com ele? Será isso o que mamãe quis dizer sobre reconhecer o meu destino? Fazer minhas escolhas? Mas..., é ele! - movia os olhos examinando toda a figura de Andrey. - "É ele! Ele é a pessoa destinada a mim!" Esses pensamentos tranquilos e espontâneos traziam uma alegria imensa para ela, traziam um sentimento de recompensa por tantos momentos difíceis que passou em sua vida, e nesse ponto, observando aquele que buscou por ela duas vezes, Asia imaginou que poderia ser feliz. "Seria muita sorte a minha. Mas, e se ele não pensar assim? Se ele não tiver nenhum interesse por mim?"

- Fale-me sobre você - pediu Andrey, interrompendo os pensamentos preocupados de Asia.

- O que quer saber? - respondeu ela, esboçando seu amplo sorriso com mais naturalidade.

Nemtsi e Selvagens - As almas cativasWhere stories live. Discover now