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Irina estava lá, parada diante da soleira e coberta pela capa adornada com pele de marta. Ela veio sozinha e entrou no chalé rapidamente, enquanto Dimitri fechava a porta às suas costas. Irina dirigiu-se à mesa e colocou sobre ela alguns pacotes:
- Eu trouxe açúcar e alguns temperos. Um presente por sua hospitalidade. - Irina soltou os pacotes e observou o violino sobre a mesa. - Sabe tocar violino, Dimitri Konstantinovitch? Eu ouvi alguma coisa quando cheguei.
- Sim.
- É maravilhoso. Como aprendeu? - animou-se ela um pouco admirada.
- Comecei a aprender quando ainda era criança. Saí-me bem e cheguei a ter aulas com um professor que pertencia à orquestra particular do proprietário das terras onde cresci. Mas precisei parar quando me liguei a esse grupo. Precisei aprender coisas mais práticas, não estudei mais.
- Gostaria de ouvir - disse Irina, como quem está habituada a ter seus desejos atendidos, baixando o capuz e apoiando as mãos novamente nos pacotes que havia colocado sobre a mesa.
- Seria um prazer - respondeu Dimitri indicando com a mão uma velha cadeira colocada diante da lareira, enquanto Yuri se afastava dali, indo se colocar mais próximo à mesa e a Ana e Nikolucha, que já haviam se locomovido para o outro canto da sala e se acomodado no banco assim que Irina chegou.
Dimitri tinha convicção de que tocava violino muito bem e queria ser gentil com Irina para melhorar a situação desagradável formada pouco antes. Observou Irina retirar sua capa e pousá-la sobre a mesa antes de se dirigir de maneira harmoniosa para a cadeira próxima à lareira.
Dimitri pegou seu violino, colocou-se diante de Irina e tocou para ela algumas músicas de Bach, com perfeição. Irina ouviu tudo admirada com a técnica perfeita e a expressividade natural dele e quando Dimitri terminou, ela comentou:
- Deveria se dedicar a isso. Você toca muito bem, não foi uma boa escolha parar de estudar! Talentos assim devem ser estimulados - como tendo uma nova ideia, Irina ergueu seu rosto para Dimitri. - Você poderia vir conosco para a cidade de Stván! Depois, poderia ter aulas com bons mestres nas grandes cidades. Seguir como músico.
- Eu poderia fazer isso no futuro, gosto mesmo disso. Mas, no momento, não posso deixar esse grupo. Estou fazendo a minha parte, mantendo a ordem entre os grupos dispersos dessa região. Muitos estão se unindo a mim e, assim, não teremos invasões a aldeias e cidades. Os proprietários destas terras nos dão permissão para patrulhá-las e proteger as aldeias. Somos úteis para eles também.
- Eu sei. Isso é muito bom, Dimitri Konstantinovitch - concordou ela desviando sua atenção para a janela logo atrás de si, onde o vento incidia persistentemente.
- Aceitaria tomar chá? - ofereceu Dimitri tentando ser cordial e educado.
- Sim, seria bom - respondeu Irina voltando o rosto para ele com um leve sorriso.
- Ana, poderia trazer chá para nós? - pediu Dimitri com um sorriso agradável esticado em seu rosto.
Ana Nikolaievna logo se apressou em buscar o chá que era mantido quente em um antigo samovar, mas, antes que se aproximasse com a xícara, se atrapalhou e a derrubou no chão. Imediatamente, ela se abaixou para recolher os pedaços partidos da xícara, mas, ao erguer o rosto e ver o olhar de Dimitri sobre ela, largou os cacos, levantou-se novamente e foi em busca de outra xícara. Como não havia mais nenhuma, ficou indecisa sobre o que fazer. Yuri se aproximou em silêncio pegando uma caneca para servir o chá para Irina e Ana voltou a recolher os cacos. Yuri, sem nada dizer a Dimitri, apenas o observando com seus pequenos olhos negros, trouxe o chá para Irina, que pegou a caneca e sorriu para Yuri como sorriem as pessoas que estão acostumadas a serem servidas, notando seu jeito sério e calado ao lhe entregar a caneca.
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Nemtsi e Selvagens - As almas cativas
FantasyQuem se prenderia a uma promessa que não pode ser quebrada nem com a morte? Nemtsi e Selvagens - As almas cativas é uma ficção fantasia-épica de aventura, suspense, mistério e ação. Traz à tona a arbitrariedade da razão humana em uma sucessão de aco...