Capítulo 17

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Capítulo 17

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      Como era comum acontecer no alto da serra, faltou energia elétrica. Eles ficaram no escuro e velas foram providenciadas. Estava frio e o céu escuro e sem nuvens exibia estrelas cintilantes. Slauka subiu até seu quarto e voltou com dois cobertores grossos, chamando Asia para a varanda. Asia estranhou o interesse dela em ficar congelando do lado de fora, mas depois de sair e se aproximar do beiral de proteção, observou maravilhada aquela escuridão silenciosa salpicada de pontos brilhantes. Apesar do frio do inverno, não estava ventando ou chuviscando essa noite, era até agradável ficar lá fora enrolada em um cobertor olhando tudo aquilo. O céu escuro e cheio de estrelas, livre da neblina que era comum naquela região, proporcionava uma noite linda.

      Slauka trouxe algumas velas para a varanda e as prendeu ao muro de proteção. Sentaram-se cada uma em um banco-balanço e aguardaram o retorno de Andrey e Lars. Slauka estava muito animada e ficou cantarolando uma música antiga que Asia deduziu ser em alemão. Asia estava apreensiva com a volta de Andrey, mas ficou em silêncio ouvindo a voz de Slauka.

      Eles chegaram pouco tempo depois. Reinis estava cansado demais, esgotado por toda a tensão e preocupação que passou desde o dia anterior e com o que ainda teria que lidar no dia seguinte. Comeu um pouco e subiu para conversar com Daina. Andrey e Lars, com aspecto mais tranquilo, se dirigiram à varanda para acompanhá-las.

      Lars se aproximou do banco e puxou Slauka, que estava deitada em sua extensão, fazendo-a erguer seu tronco. Ele estava sorridente, mostrando um temperamento tranquilo e satisfeito, que contradizia o que Asia presenciara à tarde. O banco rangeu um pouco quando Lars se sentou, fazendo Andrey rir, enquanto se sentava ao lado de Asia.

      - Não ria, é só barulho. Não vai cair, não sou tão pesado assim. E Slauka não pesa nada - concluiu Lars afável olhando para cima, onde as correntes ficavam presas ao teto, enquanto envolvia Slauka com os braços.

      Andrey pegou a mão de Asia para ele, assim que sentou ao seu lado. Asia gostou, mas esperava por algo mais. Michel foi para a varanda e também se sentou ao lado de Asia, sem se preocupar se eles queriam ou não sua companhia.

      Ninguém ali parecia preocupado em deixá-los a sós. Asia olhou rapidamente para Michel, que sorria para ela com inocente curiosidade. Ela percebeu que continuava a ser a novidade da casa e, como mariposas em torno da luz, todos a cercavam. Nesse momento, ela não queria mais estar perto das pessoas daquela família, queria ficar sozinha com Andrey, mas era tudo muito novo para ela e se deixou levar pelo rumo das conversas que se seguiram.

      Eles conversaram um pouco sobre a reunião, com Andrey insistindo em manter a conversa em assuntos mais leves e divertidos. Slauka agora o chamava de "Andrey" persistentemente, forçava propositalmente, o que fez Andrey rir dela.

      Michel não costumava falar muito, mas prestava atenção em tudo. Há pouco tempo, até as meninas de Laura nascerem, Michel era o pequeno da casa. Suas opiniões eram sempre ouvidas sob sorrisos e comentários adultos: avaliadas e elogiadas como se elogiam as crianças inteligentes. Michel gostava da atenção que recebia, mas sempre imaginava que suas ideias não recebiam o devido crédito, sendo classificadas como opinião juvenil. Adotara, portanto, a postura de ouvir mais do que falar, procurando estar presente em todas as discussões. Em meio a todas as conversas que tiveram na varanda, ele percebeu algo que as duas mulheres não haviam notado: uma mudança na forma como Lars e Andrey se dirigiam um ao outro. Havia, agora, certa cumplicidade e entendimento entre os dois, de uma maneira diferente da que existia antes. Alguma coisa havia acontecido durante a conversa que houve entre eles e Reinis: Lars estava sabendo de algo novo.

Nemtsi e Selvagens - As almas cativasWhere stories live. Discover now