Capítulo 3

342 37 81
                                    


Capítulo 3

***

Brasil, final do século XX.

Era uma típica manhã de outono. Asia tinha quatro anos de idade e passou correndo pela porta da cozinha. Estava com o macacão rosa quentinho e suas botinhas de correr no jardim. Mariana limpava a cozinha e correu atrás dela dizendo:

- Venha colocar o casaco, guria! Está frio!

Asia não parou, não sentia frio algum, queria brincar e correr em seu pequeno mundo particular.

O nome de Asia era Johanna Berard; nasceu em Santa Catarina, Brasil, poucos meses depois de seus pais chegarem da França. Asia tinha o cabelo ondulado, que terminava em pequenos cachos, era castanho claro, meio dourado, que a mãe não cortava desde que nasceu e estava quase na altura da cintura. Sua face estava sempre rosada e seus olhos eram claros como os de sua mãe, num tom de mel esverdeado.

Asia quase nunca saía de casa para outros lugares, nunca viajava ou fazia passeios, exceto as visitas que fazia à cidade próxima de onde viviam. Morava com seus pais em uma propriedade grande, em Lages, Santa Catarina. Seu pai viajava muito, então, por isso, Asia vivia em companhia da mãe, que enriquecia seu pequeno mundo com histórias maravilhosas e músicas de Villa Lobos, onde Asia pedia para ouvir o "Trenzinho Caipira" repetidas e repetidas vezes, enquanto dançava fingindo estar dentro do trem. Suas tardes eram cheias de descobertas, brincadeiras e passeios pela propriedade onde procurava por bichos diferentes, em todos os lugares.

A mãe de Asia, Erine, era esbelta e muito bonita. Tinha cabelos longos e escuros, seu lindo rosto apresentava traços finos e delicados e a pele era bem clara. Ela era jovem, aparentava ter vinte e poucos anos e estava sempre bem vestida; era elegante, usava vestidos e sapatos altos que Asia insistia em desfilar pela casa.

O pai de Asia, Louis Berard, adorava a filha, e sempre que voltava de suas viagens procurava passear com ela pela propriedade. Louis Berard apresentava estatura média, era magro, mas com tipo físico forte, tinha cabelos e olhos castanhos e aparentava ter uns trinta e cinco anos de idade. Louis erguia Asia nos braços e a jogava para cima, pegando-a novamente, ela ria e pedia para ele fazer de novo. Ele a colocava sobre os ombros para que pudesse pegar frutas nas árvores do jardim; frutas que, depois, Asia levava para Mariana lavar e que sua mãe tinha de comer. Quando voltava de seus passeios e via a esposa no jardim, Louis apostava corrida com a filha, enquanto dizia:

- Vamos ver quem vai pegar a mamãe primeiro! - ele corria na frente da menina e agarrava a esposa girando-a no ar, enquanto dizia para a filha:

- A mamãe é minha! Cheguei primeiro!

Asia gritava:

- Não! A mamãe é minha, só minha! - e empurrava o pai, que se afastava rindo, observando a maneira séria que Asia usava para falar.

Na propriedade, também viviam os empregados da casa, Geraldo e Mariana, que tinham um filho de dez anos, Felipe.

Geraldo era um gaúcho risonho, com faces rosadas e olhos azuis; a pele de suas mãos era grossa, eram mãos de quem trabalhava na terra, e sempre apresentava algum corte, até mesmo nos braços, dando à pele uma aparência arroxeada. Mariana era pequena e roliça, tinha olhos verdes, cabelos claros, cacheados e volumosos, que mantinha sempre preso em um rabo-de-cavalo de aspecto estufado. Felipe era a única criança com quem Asia tinha contato, era um garoto ruivo e muito sardento, que vivia trazendo sapos para Asia ver. Quando Felipe não estava na escola, seus pais estavam atrás dele para que ajudasse nas tarefas na propriedade, e sempre que podia, Felipe fugia para o mato com Asia para procurar bichos estranhos, que quase sempre eram sapos.

Nemtsi e Selvagens - As almas cativasWhere stories live. Discover now