Capítulo 10

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Capítulo 10

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Asia correu pelas ruas de seu bairro. Foi rápida, passou por algumas pessoas que saíam tarde do trabalho e por outras que ainda caminhavam pelas calçadas. Corria sem uma percepção muito boa de tudo a sua volta, mas podia sentir o vento frio e úmido do inverno passar por seu rosto, machucando sua pele.

Ela não olhou para trás, mas percebeu que estava sendo seguida e que, por mais ágil que fosse, seria alcançada. Notou que seus movimentos e reflexos estavam mais rápidos, mas ainda não os dominava por completo. Quis instintivamente virar-se para reagir ao novo perseguidor que sentiu aproximar-se pelas costas, mas, antes que pudesse fazê-lo, ele alcançou sua mão esquerda, segurou-a e a deteve, interrompendo sua corrida em um movimento curvo que a virou de frente para ele:

- Espere, fique calma! - disse ele.

Quando Asia terminou seu movimento em curva, viu-se de frente a um homem alto e bonito, que olhava para ela com ar preocupado.

- Você está bem? Está machucada? - ele examinou Asia com os olhos, checando se havia algum ferimento nela e ainda segurando sua mão, virou-se e olhou para trás. Tornou, depois, a observá-la e indicando a pequena passagem à sua direita, continuou: - Entre aqui, não se preocupe, vou resolver tudo com eles - inclinou sua mão direita, que segurava a esquerda dela, no sentido da pequena rua. Em seguida, deu as costas para ela e aguardou a chegada dos outros.

Asia aceitou ser encaminhada por ele, seguiu correndo um pouco atordoada o caminho indicado e viu-se percorrendo a estreita rua em que anos antes esteve com sua mãe. Era noite, estava tudo mais escuro, mas sua memória a trouxe de volta ao momento em que Erine disse: "É aqui, vai ser aqui". Asia parou antes do fim da rua e, então, se virou para a entrada do beco. Ele continuava lá, em pé e aguardando. Vestia um sobretudo de lã cinza-chumbo longo, era jovem, aparentava, ela diria, uns vinte e poucos anos de idade.

Neste momento, ela se viu assombrada pelo passado e repleta de emoções. Tantas vezes sua mãe havia lhe dito que ela era diferente dos humanos com quem vivia: que seria capaz de perceber e realizar coisas que eles não podiam. Que seu destino estava traçado e ela saberia identificá-lo quando chegasse o momento certo. Nunca teve certeza de que seria realmente capaz disso, mas, naquele momento, em pé naquela rua sem saída olhando para ele, a quem parecia conhecer a vida toda, ela estava convicta de que havia encontrado aquele que a seguiria em seu destino.

Era ele, o rapaz que aparecia em seus sonhos. Ela deu um passo em sua direção, mas Vladímir apareceu diante dele e começaram a conversar.

No início, a fisionomia de Vladímir era severa, enquanto o outro demonstrava calma e segurança. Marta apareceu ao lado deles e entrou no beco caminhando em direção à Asia, mas olhando para trás, para os dois na entrada da rua. A discussão entre eles pareceu tornar-se séria, mas sem nenhum deles levantar a voz ou demonstrar alguma agressividade. Vladímir desejou, aparentemente, entrar no beco, mas o rapaz se pôs no caminho impedindo seu avanço.

Asia percebeu o desentendimento entre eles, era possível de ser notado, apesar da polidez que mantinham na discussão. Isso deveria ser um problema, no entanto, era agradável para ela vê-lo se opor a Vladímir, impedi-lo de se aproximar dela. Não desviou os olhos dele e perguntou a Marta, que já estava posicionada ao seu lado:

- Marta, vocês o conhecem?

- Sim, Vladímir o conhece há muito tempo - Marta falava com Asia automaticamente, sem se preocupar com o que dizia, enquanto olhava para a entrada do beco observando os dois discutindo. - Ele falou com você?

Nemtsi e Selvagens - As almas cativasWhere stories live. Discover now