Welcome to Breaktown

220 34 25
                                    

Minha noite é compreensivelmente horrível. Alterno sono profundo, cochilos e sonhos recheados de memórias da noite anterior e de anos atrás misturados em uma trama angustiante. Acordo com uma dor de cabeça surreal e o estômago virado. Minha primeira providência é buscar um remédio na bolsa e engolir o comprimido. Meu celular jaz sem bateria ao lado da cafeteira. Coloco na tomada. A boa notícia é que ainda são 7h da manhã, e eu não me atrasei para nada. A má é que tenho 347 notificações. Paul me mandou até sinal de fumaça pelo smartphone. Eleanor tentou me ligar mil vezes. A caixa postal tem gravações preocupadas. Eu estou de parabéns. Não quero, mas, se não ligar para Paul logo, é muito capaz de a polícia vir atrás de mim. O telefone chama meia vez antes de ele atender.

_ Você quer me matar do coração?

_ Paul... Me desculpa.

_ Você pega a estrada, você não dá notícias, seu celular começa a cair direto na caixa postal. Eu fiquei preocupado!

_ Eu sei. Você tem razão.

_ Botei a Eleanor atrás de você! Só fiquei mais calmo porque ela ligou no seu hotel, e eles confirmaram seu check-in!

Fico muda. Ele tinha razão. Eu tinha sido idiota em muitos níveis. Ouço um longo suspiro.

_ Você está bem? O que aconteceu, afinal?

Veja bem, Paul, estava em pânico, bebi que nem uma porca e traí meu noivo atual com meu ex-noivo. Que coisa.

_ Acho que comi algo estranho na estrada. Cheguei ao hotel, passei mal e tomei um remédio que me apagou. Foi... foi péssimo. Mas desculpa. Eu devia ter avisado.

Se eu me sinto mal por estar mentindo? Eu me sinto péssima. Mas não quero falar que encontrei Taylor, que dirá que acabei o beijando. Aquele beijo, ainda mais da maneira como aconteceu, é algo que eu pretendo esconder debaixo do tapete pro resto da vida. É isso. Está decidido. A voz de Paul é doce, me acalma. Ele me faz feliz, e eu devo a ele fingir que essa bobagem nunca aconteceu. Graças aos céus só precisarei encontrar Taylor na cerimônia, daqui a dias. E, nessa hora, terei Paul ao meu lado e minha cabeça no lugar.

Desligo o telefone e me preparo para ir encontrar Ellie. Vamos tomar café da manhã juntas e depois fazer uma prova de vestido. É algo necessário pra mim, visto que mandei minhas medidas por e-mail para ela e não faço a menor ideia se engordei ou emagreci desde então.

Ver Eleanor é uma alegria. Faz meses que não nos encontramos. Não fui à sua festa de noivado por motivos óbvios, que ela, como a pessoa incrível e compreensiva que é, não questionou. Desde que me mudei de Pittsburgh, nos reunimos duas vezes por ano, mas é sempre ela que me visita. Eu jurei que não botaria os pés nessa cidade de novo, mas a gente cresce e percebe que às vezes precisa abrir mão das nossas certezas. Não posso negar que não estou arrependida de ter vindo depois dos acontecimentos maravilhosos que eu e o álcool proporcionamos, mas é só ver minha amiga que sei porque voltei. Por ela, eu posso fazer isso. Por Ellie.

_ Laylie Lay! - ela me abraça forte assim que chego ao café em que combinamos nos encontrar.

_ Que saudade! - eu respondo. _ Como estamos? Animadas? Eufóricas?

_ Estamos preocupadas com você! Paul me ligou em pânico querendo saber do seu paradeiro, eu também não sabia...

_ Eu soube! Perdão... Mas ele me disse que você ligou no hotel, e isso acalmou os dois.

_ Sim. Mas você está bem? Aconteceu alguma coisa?

Faço um esforço grande para enviar a lembrança do momento em que Taylor me beijou _ sua boca na minha, sua língua, minha bolsa escorrendo pelo braço_ de volta para o lugar de onde tinha vindo.

A Tempo [completa]Where stories live. Discover now