The Sky Is Falling All Over Again

160 30 46
                                    

Quando coloco um vestido curto, preto, com uma saia alarmantemente esvoaçante, quero que Taylor pense que eu sou a mulher mais bonita que passou na sua frente. Não posso mentir. Eu quero causar nele algum tipo de incômodo. Não há mais a menor condição de me manter indiferente, um ser inanimado, a tudo isso que está acontecendo. Ele foi horrível, eu odeio ele, ele vai pagar de algum jeito. Nem que seja morrendo de vontade de me tocar sem poder.

Sorrio para o espelho enquanto penso esse turbilhão de asneiras. Até onde eu sei, nosso beijo pode ter sido um erro de ambos os lados e ele estar tão noivo de outra pessoa quanto eu. Uma leve pontada de remorso por ter traído Paul, por não ter contado a ele nem do meu encontro sem querer com Taylor, me fura e eu seguro meu ombro, como se tivesse sentido uma dor física. Tento me convencer de que não tem nada demais querer chamar a atenção do meu ex a propósito de vingança. Minhas mãos trêmulas e meus joelhos moles são sintomas do meu ódio. É só isso: raiva.

Quando chegamos ao bar, Taylor não está. Fico decepcionada e muitíssimo irritada com ele por ter estragado minha entrada triunfal tão cuidadosamente ensaiada. Logo, porém, me esqueço disso. Meus amigos estão lá! Gente tão querida e que eu não vejo há tanto tempo. Tirando Jake e Ellie, ninguém ali sabe o que  aconteceu comigo depois que desapareci de Pittsburgh anos antes, mas todos parecem felizes de me ver. E eu fico sinceramente contente de reencontrar aqueles rostos e colocar a conversa em dia. É tudo tão agradável que esqueço da minha vingança e fico aliviada de Taylor não estar ali. Estamos no meio do papo, já com algum álcool na cabeça, quando Jake diz que para relembrar os bons tempos vai tocar alguma coisa. É então que eu olho para o palco e vejo a percussão e os dois violões. Sinto como se meu coração tivesse caído num espaço sem gravidade, flutuando num buraco dentro de mim. Não sei de onde Taylor aparece, mas eu pisco e, quando abro os olhos, ele já está em cima do palco com o violão, cumprimentando Jake e Elliott e se desculpando pelo atraso (faço leitura labial quando quero).

Durante as quatro músicas que eles tocam para não mais que 15 pessoas além do nosso grupo, Eleanor fica do meu lado, como se averiguando se eu estou me segurando firme no lugar. Eu estou. Não estava mais esperando vê-lo, mas, depois do choque inicial, sinto uma espécie de paz. Ele é só um cara, eu sou só uma moça. Nós somos exs, mas somos pessoas educadas e, sério, chega desse drama. Estou há 48 horas soterrada nele e preciso de ar. Preciso me sentir normal de novo. Racionalizo que ele é, de fato, muito bonito, talvez ainda mais quando está cantando e tocando, e não tenho como brigar com isso. A Terra é redonda, o Taylor é lindo. São realidades científicas.

Fico grata também pelo fato de ele não ficar me encarando mais do que eu estou encarando ele. Quando nossos olhares se cruzam é por pouco tempo, o suficiente só para meu estômago subir e voltar são e salvo a seu lugar de origem.

Os meninos ainda estão no palco, rindo e se preparando para descer, quando eu vou ao banheiro. Quero fechar os olhos por dois minutos e estarei ótima para voltar. Só disso que preciso. De fato, ficar longe das vozes, me olhar no espelho e me sentir bonita, lavar as mãos e passar um pouco de água na nuca, tudo isso faz eu me sentir revigorada e pronta. Mas a entrada do banheiro fica perto do balcão do bar e, quando saio, Taylor está ali. Ele estava me esperando sair.

Seja cordial. Seja cordial. Seja apenas cordial.

_ Você continua ótimo no palco! - eu sorrio.

_ Um pouco enferrujado, mas dá para se divertir.

Sorrio e novo e tento andar, mas ele continua. _ Achei que você não vinha.

A chama do ódio nasce de novo. Achou que eu não viesse por sua causa. Mas é minha amiga que vai casar. E é por ela que eu faço as coisas. Me envergonho ligeiramente quando penso no motivo que fez eu usar o vestido curto, mas passa. Porque por mais seja verdade, que Taylor mexa comigo até a alma, porque ele precisa ficar cutucando e vendo até onde eu aguento? Por que ele tem que ser tão presunçoso? O álcool tira alguns segundos do meu tempo de reflexão, então, quando percebo já estou lá:

_ Por que eu não viria, Taylor? Por sua causa?

Ele parece ser pego desprevenido, levanta as sobrancelhas e tenta começar a se explicar. Taylor gesticula quando se explica. E eu não ouço nada do que ele diz, pois minha mente se perde nos movimentos das mãos dele. Minha cabeça é uma montanha-russa ridícula.

_ Desculpa, Taylor - eu o interrompo. - A gente não tem por que discutir ou falar, enfim, dessas coisas. Vou voltar para Ellie.

Ele concorda. Ele sorri. Ele pousa sua mão no meu ombro direito quando diz que eu tenho toda razão. E é nesse momento que o telefone dele, que está no balcão bem do nosso lado, toca. E a descrição diz Jane, seguido de um coração. Os olhos dele se iluminam de um jeito quando ele vê o nome no aparelho que eu tenho vontade de vomitar.

_ Só um minuto. - ele diz e se vira para atender o telefone.

Eu deveria sair dali, mas o que eu sinto nascer e se desenvolver dentro do meu fígado me impede. Quem é Jane? Então, era isso! Éramos os dois uns grandessíssimos filhos da puta traindo as pessoas por aí. A diferença era que a única pessoa remoendo aquele inferno de beijo durante dias era eu! Fora que quem é Jane? Quero saber se é loira, se é mais alta que eu, se é mais magra, se tem mais peito, se tem mais cérebro. Quem inferno é Jane?

Quando ele volta, eu já virei o quarto drink da noite e quero matá-lo. Mas sorrio.

_ Ela não vem? - pergunto, com a maior indiferença que consigo reunir.

_ Quem? Jane? - ele ri um pouco alto. _ Não, não. Ela não tem idade.

Mas que maravilha. Taylor, este senhor trintão, pegando uma adolescente. Eu percebo os músculos do meu rosto se contraindo numa cara de desprezo. E ele vê. Ainda rindo, pergunta:

_ Quem você acha que é Jane, Layla?

_ Uma namorada, claro.

Ele tira uma mecha de cabelo que está caindo no meu olho. Por que ele faz isso eu não sei. Ainda mais quando está prestes a aniquilar meu coração de uma vez. Eu gostaria tanto de querer vê-lo morto naquela hora e não ter vontade de tomar sua mão na minha. Mas ele tira os fios do meu rosto e toca na minha bochecha, um segundo antes de dizer.

_ Jane é minha filha.

A Tempo [completa]Where stories live. Discover now