I Don't Even Know Her Name

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Flashback.

Ele era decididamente o menino mais lindo que eu já tinha visto na minha vida inteira. Encostei as costas no balcão e olhei para o palco de novo para ter certeza. Era isso mesmo. O cara mais bonito da face da Terra. Eleanor chegou com duas cervejas.

_ Gato, não?

Não ouvi direito e me virei para ela assustada.

_ Oi?

Ela riu. _ O cara da banda. O da direita. Gato demais.

Franzi as sobrancelhas como se não soubesse do que ela estava falando. _ É? Não sei.

Ellie gargalhou. Já estava meio bêbada. _ Você mente muito mal!

Rolei os olhos e ri também.

Fazia seis meses que eu estava em Pittsburgh. Tinha me mudado de uma pequena cidade também no Estado da Pennsylvania, onde eu e meu irmão morávamos com nossos tios. Não posso negar que agarrei a oportunidade de sair de lá assim que ela se mostrou para mim. Consegui um emprego na equipe de vendas de uma confecção, procurei um apartamento e, em duas semanas, estava pronta. Mas Brody, que havia finalmente tomado vergonha na cara e entrado em uma faculdade comunitária, ficou com os parentes. Insisti para que ele tentasse uma transferência, morasse comigo e os deixasse livres de nós, mas o mesmo tanto que lutei por isso minha tia Mellie lutou contra. Ela achava que era seu dever cuidar de nós e principalmente de Brody, a quem amava como um filho. Ele não se opôs. Acho que era cômodo. Já eu não aguentava mais a sensação de ser uma parasita. Tia Mellie e tio Albert me tratavam muito bem, não podia reclamar disso, e nunca nos acusaram de nada parecido. Inclusive, me impediram de procurar outro lugar para morar quando eu me tornei maior de idade e Brody já era crescido o suficiente. Aceitei porque sabia que ela fazia aquilo de coração, mas a casa era pequena e não tinha por que continuar dando despesas a quem cuidou de mim por tanto tempo. Meus pais se separaram quando eu tinha dez anos e Brody seis. Três anos depois, em um intervalo de cinco meses, meu pai sumiu no mundo e minha mãe morreu. Eu custo a acreditar que ele tenha sido vítima de algum crime, mas ainda há cartazes de desaparecido procurando por Jasper Brown. Minha mãe, minha doce mãe, foi traída por seu coração. Ela teve um infarto. Depois, outro e outro e outro, até que não aguentou e se foi.

Mas chega da minha triste história familiar.

Assim que comecei no emprego novo, me afeiçoei a Eleanor, que dividia uma mesa comigo no apertado escritório. Passamos a almoçar juntas e conversar sobre tudo e, quando percebi, ela tinha se tornado a pessoa mais próxima que eu tinha. Nossa maior diferença era que Ellie era a personificação da animação. Estava sempre pronta para tudo, trabalhava, se divertia, fazia bicos e ajudava em abrigos. Dormia três horas por noite e acordava diva e ainda empolgada no dia seguinte. Só de pensar na rotina dela, eu já me cansava.

Assim, naqueles primeiros meses, tentei me focar em ser uma colaboradora extremamente concentrada e eficaz. O máximo que fazia era sair para jantar ou ir tomar uma cerveja em um bar perto de casa. Naquele dia, porém, Ellie tinha finalmente me convencido a ir ao famoso Pitt's Pit. Ela estava sempre lá, dizia que o lugar tinha um clima agradável, pessoas bonitas e música boa. Além disso, uma banda acústica ia tocar e, se eu não fosse, ela pararia de falar comigo até a próxima vida.

O Pitt's Pit era escuro. Tinha um bar central, com balcão que formava um círculo. Algumas banquetas encostadas nas paredes e um pequeno palco. Não era apertado, porque não estava cheio. E era mesmo agradável. Ainda mais porque, meu Deus, eu estava olhando para o menino mais lindo das galáxias. Já disse isso? Ele era alto, usava uma calça preta justa e uma camiseta cinza de gola V, também justa. Não parecia querer se mostrar, porque não fazia o tipo musculoso. Era magro. Do jeito que artistas indie são magros, mas sem tatuagens. Ele não tinha nenhuma que eu pudesse ver. O cabelo era loiro, todo bagunçado, meio comprido, preso em um rabo mal feito, que deixava várias mechas caírem no seu rosto. O rosto, aliás, que rosto. Tinha uns olhos expressivos, que eu não conseguia saber de que cor eram, sua pele brilhava do suor e as bochechas estavam vermelhas. Ele sorria para as pessoas enquanto cantava. Mas nem todas estavam olhando para o palco. Como é que as pessoas não estava vendo o ímã que era aquele garoto? Quando eu percebi, estava sorrindo também. E ele deu uma piscadela pra mim.

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