The Day that Our Love Died

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Flashback.

Quando Eleanor entrou no quarto do hospital, eu já tinha tomado a minha decisão. Para além da dor que eu sentia, como se tivesse sido atropelada por um caminhão, eu estava vazia. Oca. Não tinha mais nada dentro de mim. Amor, esperança, tudo destruído. Eu enxergava minha vida coberta por um véu turvo de desilusão e desengano.

Ellie parou do meu lado e tomou minha mão. Continuei fitando a parede à minha frente. Nem lágrimas eu tinha mais. Estava seca.

_ Você veio sozinha? - perguntei.

_ Sim, vim. Como você pediu. O que aconteceu, Lay?

Senti Eleanor afagar minha cabeça. Eu queria morrer, mas não tinha coragem de me matar. Então, eu ia fugir. Lembrei de novo da cena de Taylor com aquela mulher e instintivamente agarrei o cobertor na altura na minha barriga.

Eu quis ir embora do prédio do estúdio o mais rápido possível. Eu não queria que ele me visse e tentasse me explicar algo que não tinha explicação. Soquei o botão do elevador 12, 57, 89 vezes, mas ele não vinha. Corri pelas escadas, as lágrimas escorriam e eu não conseguia ver direito. Eu não vi uma caixa que havia sido deixada ali, no meio do caminho. Eu não vi. Eu tinha que ter visto, mas não.

Eu tropecei.

Quando acordei, tudo doía. Todas as células do meu corpo pareciam gritar. Eu tinha cólicas. Uma dor lancinante e terrível que queria me matar. Com alguma força, me levantei do chão e arrastei os pés pela calçada até achar um táxi. Sentei e dei meu endereço. Que coisa horrível para se acontecer. Taylor tinha outra. Não era possível. Ele dizia que me amava e tinha outra. E agora eu ia ter que criar meu filho sozinha.

Coloquei a mão na cabeça. Tinha um calombo. Eu precisava passar numa farmácia para comprar um analgésico. Tentava segurar o choro, mas o motorista me olhava pelo retrovisor a todo momento. Resolvi focar nas minhas mãos no meu colo.

E foi aí que eu vi. Tinha sangue.

Tinha uma mancha de sangue na minha calça, bem no meio das minhas pernas.

A cólica.

Que burra.

Moço, me leva pro hospital. Eu achei que tinha falado, mas não falei. Continuamos indo em direção à minha casa. Apertei as pernas, numa tentativa desesperada de segurar a vida dentro de mim. Foi só na porta da minha casa que o taxista me ofereceu ajuda para sair e viu que eu devia estar ferida.

Eu lembro de tudo como num plano contínuo. Entrei no hospital, fui levada para exames. Doía, mas eu não sentia nada. Eu chorava e pedia ajuda, dominada pelo medo. Não sei se desmaiei ou se fui sedada. Só que acordei algum tempo depois num quarto.

Tinha soro no meu braço, e a cabeça pesava e parecia não fazer parte do meu corpo. No meu ventre, não tinha mais dor. Respirei aliviada. Molhei minha boca seca, me concentrei e consegui chamar uma enfermeira. Minutos depois, uma senhorinha entrou acompanhada de uma mulher mais jovem, uma obstetra.

_ Layla? Como está sentindo? - a médica perguntou enquanto a enfermeira verificava algo no meu braço.

Eu queria respostas. E eu queria voltar no tempo. Senti a garganta fechar de novo em desespero.

_ Dolorida... Eu não lembro direito o que aconteceu. Meu bebê. Tá tudo bem? Eu caí e fiquei um pouco zonza. Acho que demorei muito pra chegar. Tá tudo bem?

Não estava nada bem. Médicos são treinados a mostrarem essa face impassível diante das tragédias, mas os olhos falam. E os olhos dessa médica estavam me dando uma notícia horrível.

_ Layla, infelizmente, você teve um aborto. Seus bebês não sobreviveram.

Meus bebês. Meus bebês. Meus bebês?

_ Bebês?

_ Você estava grávida de gêmeos... Há alguém que devamos chamar? O pai...?

Meu corpo inteiro se contorceu. Eu queria vomitar minhas entranhas, mas não tinha nada dentro de mim. Mais nada. O pai! A vontade me tomou instantaneamente. Eu queria que o pai morresse. Ele, quem estava com ele. Eles deviam morrer. Não meus bebês.

Oca. Eu estava oca.

Disse a elas que não precisavam se preocupar, eu mesma avisaria alguém que estava lá. Liguei para Eleanor na sequência, tentando ao máximo não parecer desesperada.

Ellie demorou meia hora para chegar. Em trinta minutos, todo meu amor tinha se transformado em ódio. Taylor era tóxico. Ele só me causava dor. Dor em cima de dor. Uma atrás da outra. Meus bebês agora não existiam mais. Nada tinha sobrevivido. Nada ia sobreviver. Eu nunca mais queria ver ele na minha vida. Eu nunca mais queria pisar nessa cidade do inferno. Essa cidade maldita que me tinha me dado tudo apenas para arrancar das minhas mãos depois.

_ Ellie. Eu quero que você me ajude com uma coisa.

_ Claro, claro, o quê? Quer que eu liguei para o Taylor?

_ Eu quero que você nunca mais fale esse nome perto de mim. Nunca mais. Eu estou indo embora de Pittsburgh. Assim que eu sair daqui. E eu nunca mais vou voltar.

A Tempo [completa]Where stories live. Discover now