Can't Stop, Can't Break

181 26 29
                                    

          

Eu beijo Taylor para não pensar. Nunca, nem nas minhas projeções mais pessimistas, imaginei que tudo isso fosse acontecer. Estou exausta, esgotada. Não sei o que fazer com todas as coisas que estão acontecendo dentro de mim. Elaboro uma lista mental da quantidade de cagadas que consegui realizar em dois dias e me alarmo. Traí meu noivo, quebrei minhas promessas, menti para minha melhor amiga. Como se não bastasse, não consigo mais encontrar dentro de mim a dor que Taylor me infligiu mesmo a distância nos últimos anos ou o ódio que cultivei. É como existissem duas versões dele, e eu estivesse ali me entregando àquela que me salva e não à que me mata. Está tudo de ponta cabeça.

Toco a boca dele com meus dedos enquanto nos beijamos. Ele me abraça, envolvendo minha cintura por inteiro com um dos braços. Eu preciso parar. Empurro seu peito levemente. Ao mesmo tempo que o afasto, sinto meu corpo se inclinar na direção dele. Meu cérebro e minha mão o expulsam, meu coração e minha boca o procuram. Meu rosto está molhado das lágrimas que caíram e meu nariz está bloqueado com o choro que eu ainda seguro. Seus polegares acariciam minha bochecha, meus olhos. Ele novamente me pega pela cintura, mas dessa vez me levanta. Eu não tenho forças, eu sou uma boneca de pano.

_ Vem, vou te levar embora.

Acordo e protesto. _Não! Eu não vou pra lugar nenhum com você.

Ele está bem debaixo de uma das lâmpadas. As rugas em torno dos seus olhos estão marcadas, como as perninhas de uma aranha, e o cabelo tem fios loiros bagunçados em todas as direções. O semblante dele é sério, os olhos estão fundos.

_ Lay... Eu só quero te levar até o seu hotel, a casa da Ellie... Onde você estiver. - ele soa derrotado.

Eu olho ao meu redor. A pressão da caixa plástica onde eu estava sentada até agora finalmente faz minhas coxas começarem a latejar. Dou alguns passos e sinto o interior das minhas pernas escorregarem com o atrito. Eu realmente fiz aquilo. Estou com vergonha de colocar minha calcinha. Taylor percebe e se vira. Eu me visto. Ele se arruma. Saímos pelos fundos e ando com ele até o carro. Um Galaxy antigo, vermelho e lindo. Ele sempre gostou de carros velhos. Sorrio por dentro.

Ninguém fala uma palavra até a casa de Ellie. Quando chegamos, ele desliga o motor.

_ Pronto. - é a única coisa que ele diz.

Eu não desço. Ele não pede que eu saia. O silêncio é ensurdecedor. Dentro de mim, há um vulcão prestes a entrar em erupção. 

_ Por favor... - ele começa cauteloso - você pode me ouvir?

Todo o problema não é poder ouvi-lo. Eu consigo ouvi-lo. Eu não quero ouvi-lo. A voz de Taylor, como sempre foi, abre o mar dentro do meu peito. Eu perco o discernimento. Já sentiu o pânico te dominar? Como ele te cobre como uma manta negra quente, impedindo seu cérebro de trabalhar e seus pulmões de respirarem. Era isso que eu sentia desde que voltei, desde o nosso primeiro e imprevisto encontro. E, ao mesmo tempo, como se estivesse enfeitiçada, não consigo lutar. Meu corpo passa a reagir como se cada instante longe dele fosse um momento perdido. Eu aparento indiferença, mas só estou tentando prolongar minha estadia ao lado dele.

Não respondo. Posso escutar o farfalhar que as mãos dele fazem ao segurar os próprios cabelos. Ele solta uma risada abafada.

_ Estou com muito medo de falar, na verdade.

Olho para o lado. O homem sentado ao volante é tão diferente do amor da minha vida. Mas ainda é ele, com o mesmo sorriso, o mesmo olhar, o mesmo jeito de levantar as sobrancelhas e fechar os olhos quando quer explicar alguma coisa. O negócio é que eu deveria me comportar do jeito que havia me preparado: com desdém.  Mas não consigo.

A Tempo [completa]Where stories live. Discover now