Tell Me that You Love Me

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Flashback.

Positivo.

Olhei o teste de farmácia com atenção. Os dois risquinhos azuis estavam lá, inequívocos, como em todos os outros cinco que eu tinha feito naquela tarde.

Eu estava grávida.

Grávida.

Tentei deixar a informação decantar no meu cérebro. Como foi que isso tinha acontecido? Bom, essa parte era meio clara. Aquela noite que eu e Taylor passamos juntos e que tinha sido tão linda. Fiz uma conta mental. Sim. Tinha sido aquele dia. Definitivamente.

Eu não tinha me preocupado com proteção nenhuma. No único momento de lucidez que tive e quando pensei a respeito muito rapidamente, me fiei ao fato de que estava completamente desregulada por causa do remédios que tomava e era impossível que algo acontecesse. Além disso, eu estava absorta pelo momento e por aquelas sensações. Nunca achei que fosse ficar grávida.

Pois bem, ali estava. Aparentemente, eu estava esperando um filho, sim, e não era pouco.

Esfreguei os olhos. Eu estava nervosa, mas não conseguia chorar. Na verdade, eu não queria chorar. Mas buscava alguma solução. Se é que aquilo era um problema. Meu raciocínio não estava tendo sucesso em nada.

Tentei ser lógica. Peguei o telefone para ligar para Eleanor. Minha mão tremia tanto que eu mal conseguia segurar o aparelho. Larguei o celular na mesa da cozinha, ao lado de todos os testes espalhados. Aquela profusão de palitos brancos e riscos azuis e rosas.

Eu e Taylor não havíamos nos falado mais depois da manhã em que ele saiu da minha casa com a caixa. Nada, nenhuma palavra. E agora eu estava ali esperando um filho dele, sem saber como contar ou se deveria contar. Talvez não. Mas ele tinha direito de saber.

E se ele não me quisesse mais? E se ele quisesse?

Fiz chá.

Minha atitude diante da notícia da minha gravidez foi fazer chá. Enquanto olhava a água borbulhar e depois se colorir de amarelo claro na xícara, deixei minha cabeça livre. Foi ali, tomando chá de camomila, que eu percebi que seria impossível fazer qualquer outra coisa. Fui invadida por uma ternura que nunca havia sentido antes. Como se minha vida passasse a fazer sentido apenas porque havia dentro de mim outra vida. Aquele pequeno feijãozinho já estava se alimentando de mim e do meu amor instantâneo por ele.

Meu Deus, eu estava grávida! Mais do que isso, eu já era mãe! E, bem ou mal, essa criança era fruto do nosso amor. E como eu ainda tinha amor por Taylor. Todo o amor do mundo.

Chamei Ellie para vir em casa. Num arroubo de sanidade e clareza, e aproveitando que era sábado, limpei todo o apartamento e assei um bolo. Quando ela chegou, a sala cheirava a laranja.

_ Você cozinhou? - ela farejou o ar.

_ Um bolinho, só pra tomarmos um café.

Eu sorri e nós sentamos à mesa.

_ Ellie. Te chamei aqui porque...

Ela me interrompeu, deixando sua xícara na mesa e quase derrubando o café. _ Porque claramente aconteceu alguma coisa muito séria pra você ter assado um bolo. Estou em pânico.

_ Eu também. - dei uma risada abafada.

_ O que foi? Você e o Taylor voltaram? Deus do céu, porque isso está demorando demais.

Olhei para o líquido escuro na minha caneca. Parte de mim queria ser tragada por um lago negro e desaparecer. A outra queria ter uma família feliz com o homem que amava, queria se tratar de verdade e superar tudo. A outra parte queria viver.

_ Estou grávida, Ellie.

Os olhos de Eleanor se arregalaram até o limite. Eu pude ver o castanho se tornar preto com a dilatação da sua pupila. _ Grávida? Deus, de quem?

_ Como de quem, Eleanor? Do Taylor! A gente teve um revival há uns dois meses...

Ela colocou a mão na boca. Estava chocada, eu sabia.

_ Estou chocada.

_ Não vai me dar parabéns? - perguntei, hesitante.

Acho que Ellie pensou que eu não iria em frente com aquilo. Seu rosto derreteu em alívio e alegria.

_ Claro que eu vou! Claro!

Ela se levantou e não esperou que eu fizesse o mesmo. Me agarrou e me apertou contra seu peito. _ Eu vou ser tia! Que coisa mais linda! Estou tão feliz que quero te esmagar, Layla!

Ela já estava me esmagando, mas dei risada. Ellie se sentou novamente. _ E quando você vai contar pra ele?

Olhei para baixo.

_ Layla! Layla, olha pra mim! Você tem que contar pra ele, tá me entendendo? Ele é o pai. Ele tem que saber. Mesmo que vocês não voltem.

_ Eu acho...

_ Não tem "eu acho"!

_ Eleanor! Deixa eu terminar. Eu ia dizer que acho que quero tentar de novo. Com ele.

Ela suspirou e sorri, deitando a cabeça para um lado e fechando os olhos, um pouco teatralmente, mas do jeito dela. _ Eu acho que você tem toda a razão. Talvez não seja fácil. Quer dizer, não vai ser fácil, com toda a carga emocional dos últimos tempos. Mas vocês merecem essa chance. E meu sobrinho lindo também!

Com o apoio de Ellie, decidi que não só iria ter um filho, como iria tentar voltar com Taylor. As novidades me deram um novo fôlego. Me preparei mentalmente para contar para ele e resolvi fazer isso na segunda-feira mesmo. Eu iria até o estúdio de música onde ele estava trabalhando. Eu ia contar tudo. Tinha medo da reação dele, mas também tinha esperança de que fosse dar tudo certo. Ele tinha lutado tanto contra a minha decisão de me separar. Ele ia gostar.

Como não fazia havia meses, eu me arrumei pra esse momento. Escolhi uma roupa, passei um pouco de maquiagem, perfume. Não tinha carro desde o acidente com Brody, então peguei um ônibus e desci na frente do estúdio. Meu coração palpitava dentro do peito como uma bateria. Já tinha escrito um roteiro mental, que não tinha nenhum suspense ou surpresa. Eu iria pedir licença pra entrar na vida dele de novo, mas dessa vez estaria acompanhada. Nós íamos dizer que nos amávamos, porque era verdade e um amor como o nosso tinha que dar certo.

A gente ia ser tão feliz.

Era um prédio baixo, de quatro andares. O estúdio ficava no terceiro. Peguei o elevador, torcendo as mãos. Sentia minha garganta um pouco travada. Pelas minhas contas e pelo que Ellie tinha conseguido descobrir com Jake, ele deveria estar trabalhando, mas quase no fim do expediente. Segui para a porta da recepção, que normalmente ficava aberta, porque o estúdio era pequeno e, na verdade, nunca tinha ninguém na recepção. Entrei e vi Taylor pelo vidro, dentro da sala de gravação.

Ele estava lindo como sempre. O cabelo bagunçado, a camisa meio aberta, os mil colares no pescoço. Mas a mulher sentada no colo dele não fazia o menor sentido. Fazia ainda menos sentido o fato de ele estar beijando essa mulher.

Senti um buraco se abrir sob os meus pés e me engolir. Tive enjoo. Achei que ia vomitar ali mesmo. Eu achei que ia morrer. Dei dois passos para trás, abri a porta e saí. Minha respiração falhava. Meu cérebro piscava. Coloquei as duas mãos sobre a minha barriga.

A onda de decepção me afogou.

Eu estava sozinha.

Taylor tinha desistido de mim.

A Tempo [completa]Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt