Dive into the Endless Dark and Deep

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Flashback.

Sem que eu conseguisse entender bem como, Taylor e Brody se tornaram muito próximos. Meu irmão se apaixonou pelo meu noivo. Sempre que podia, ia a Pittsburgh com a desculpa de me visitar, apenas para passar o fim de semana inteiro andando com Taylor para todos os lados. Taylor, por sua vez, alimentava esse comportamento. Adotou o cunhado como um de seus irmãos e o tratava como se fosse sua própria família. Era, para falar a verdade, muito adorável e me deixava bastante feliz.

Até que, simples assim, o mundo caiu.

Era uma noite de dezembro. Fazia um frio congelante e nevava. Os meninos resolveram ir ao bar, e eu chamei algumas garotas para conversar e tomar vinho em casa.

18h47. Taylor me ligou e disse "Oi, amor, cheguei ao bar agora. Não quer mesmo vir? Só eu, Jake e Brody. Traga as meninas". Respondi que íamos ficar em casa comendo pipoca, mas que o esperava mais tarde.

20h03. Taylor me telefonou de novo. Nós tinhamos bebido de um lado. Eles tinham enchido a cara do outro. "Laaaay, está tão divertido aqui!" Dei risada. Eles bebiam e ficavam ainda mais engraçados.

21h57. Depois de três garrafas, decidimos ir encontrá-los. Liguei para Taylor. "Amor, onde vocês estão? Estamos indo." Ele me disse que estavam na casa dele e que Brody tinha ido comprar bebidas na loja na saída do bar e deveria estar chegando a qualquer momento.

Resolvemos ir no carro de Clara, que não havia bebido, pois estava tomando antibióticos. Da minha casa até o apartamento de Taylor eram cerca de 15 minutos. Chegamos à frente do prédio exatamente às 22h31.

Até hoje não consigo entender como me lembro tão bem da contagem de tempo desse dia e tão pouco do que realmente fiz ou como agi. Mas sei que entrei no apartamento de Taylor e Jake às 22h33.

22h33 ficou conhecido como o horário do fim dos tempos.

Eu ouvi Taylor chamar meu nome e correr até mim. Seus olhos tinham lágrimas e ele falava muitas coisas que eu não conseguia compreender. Me recordo de ver seus lábios se mexendo ao mesmo tempo que meu coração congelava. A dinâmica das minhas lembranças desse evento é bastante complicada. São flashes de memória, imagens e sons, intercalados com alguns momentos de lucidez.

A cena número um foi Taylor tentando ficar de pé, enquanto Jake levava às mãos à cabeça. Na cena dois, ele vem até mim e segura minhas mãos. O planeta já tinha parado de girar, e eu sei disso por causa da cara como todos olhavam para mim e tentavam fazer com que eu me sentasse ou me acalmasse. Mas eu estava calma. Eu mal me mexia de tão calma. O vinho evaporou, mas eu sentia o álcool no hálito de Taylor. Pisquei.

_ Espera, gente. Eu não estou entendendo o que vocês estão dizendo. Onde está o Brody? Ele se perdeu, foi isso?

Ellie levou a mão a boca e saiu da sala, puxando Jake e falando que eles precisavam ir. Aparentemente, alguém tinha que ir pra algum lugar importante resolver algum problema. Olhei para Taylor. Meu noivo estava chorando, e eu não conseguia entender nada do que ele estava falando. Por que ninguém estava fazendo sentido?! Eu apenas sabia que era a respeito de Brody.

Foi Clara quem me tirou do torpor. Ela esfregou os olhos que pareciam molhados. Por que todo mundo estava chorando? Abaixou-se na minha frente e se apoiou nos meus joelhos.

_ Layla. Presta atenção aqui. Você está me entendendo?

Já eram 22h45. Minha cabeça não parecia estar presa ao meu pescoço, mas eu conseguia ouvir Clara, sim.

_ Sim. Estou te ouvindo.

_ Você precisa ser forte, Layla. Aconteceu um acidente com Brody.

_ Um acidente?

_ Um acidente, sim.

_ Mas onde ele está? É no hospital?

Clara olhou para o lado. Taylor virou de costas e enterrou o rosto nas mãos. Ela olhou novamente para mim.

_ Ele morreu, Lay... Eu sinto muito. Muito.

_ Taylor? - eu chacoalhei a cabeça. Ele fungou e ele se agachou no lugar onde Clara estava. _ É verdade isso?

_ Me perdoa, meu amor. Me perdoa.

Eu agarrei Taylor no meu colo enquanto ele se desfazia em soluços. O estado dele me assustava, mas eu não conseguia fazer nada. Estava vazia por dentro. Muito aconteceu naquela noite que eu não consigo me recordar, tirando a porção de trâmites legais e burocráticos que envolvem a morte de alguém alcoolizado em um acidente de trânsito.

Eram 4h17 quando, sentada no sofá da minha casa, consegui raciocinar.

_ Taylor, meu Deus, como foi que isso aconteceu?

A pergunta era retórica, apesar de eu ainda não ter conseguido entender o que Brody estava fazendo dirigindo, bêbado, na neve. As mãos de Taylor tomaram as minhas, tremendo. Ele tremia tanto. Os olhos estavam vermelhos, a voz dele saía anasalada.

_ A gente queria beber mais em casa. Eu ia buscar bebida. Eu ia. Mas ele disse que podia ir... Eu não discuti. Eu devia ter ido, eu mesmo. Mas eu não fui. Eu não devia. Eu... - a voz dele sumiu e retornou. - Me perdoa.

Nesse momento, algo se partiu dentro de mim, e eu entendi. Era irreversível. Era uma tragédia sem volta.

_ Meu irmãozinho está morto.

Era verdade. Meu irmão tinha morrido. Parecia que todo o choro que saísse de mim não era suficiente para aliviar a dor. Era como se eu tivesse perdido um pedaço de mim. E, pior de tudo, agarrada a Taylor, como se daquele abraço dependesse minha própria vida, nasceu dentro de mim a ideia mais monstruosa e tóxica de todas: meu noivo tinha matado meu irmão.

A Tempo [completa]Where stories live. Discover now