A Little Back and Forth Lately

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Flashback.

Eram quatro os comprimidos que eu tomava todos os dias pela manhã. Não achava que eles tinham efeito nenhum, a não ser fazer com que eu me sentisse uma zumbi, mas continuava tomando. Alguma coisa precisava melhorar em algum momento. A morte de Brody tinha acabado de completar oito meses, e eu não conseguia ver perspectiva de a minha vida voltar ao normal.

Eu ia à terapia toda semana para tentar entender como, ao contrário do que meu próprio cérebro acreditava, eu continuava culpando Taylor por aquela tragédia. Ele havia me pedido perdão de mais jeitos do que era possível, e eu tentava com todas as minhas forças andar em frente. Mas era impossível. Sempre que olhava para ele, me lembrava do meu irmão, pensava que ele poderia não estar morto se não fossem pelos acontecimentos daquele dia. E, então, uma espiral de desassossego ainda pior começava. Eu me culpava por culpar Taylor. Racionalmente, eu entendia que havia sido uma fatalidade, mas não conseguia controlar meus próprios pensamentos. Meu remorso se transformava em penitência, quando eu começava a achar que, se ele estivesse no lugar de Brody, seria pior ainda. Eu já estaria morta de tanta tristeza. E, então, eu ficava completamente penalizada por comparar a morte de Brody com a possível morte de Taylor. Por fim, eu achava que o problema todo tinha sido que eu não estava com eles no bar para controlar tudo aquilo, para impedir o que tinha acontecido. O resultado desse turbilhão de pensamentos era que todos os dias eu me agarrava a Taylor tomada pelo pânico de que ele pudesse morrer e, na sequência, caía no choro, querendo que ele sumisse da minha frente.

Ele foi compreensivo no início. Me deu espaço. Mas, com o tempo, meus rompantes devem tê-lo cansado. Não podia julgá-lo. Eu sabia que ele mesmo se lamentava e se cobrava pelo acontecido. Não pode ter sido fácil lidar com o jeito como eu fiquei.

Então, o inevitável aconteceu.

Nós nos afastamos. Até o ponto em que eu preferia ficar sozinha do que vê-lo e ter que lidar com meus sentimentos. Quando percebi isso, lutei de novo contra mim mesma. Eu o amava tanto. Não podia isolá-lo daquele jeito, mas tê-lo por perto me fazia ter os piores acessos de ansiedade de todos os tempos. A ponto de que eu querer me matar, querer que tudo acabasse.

Nós mantínhamos o noivado na esperança de que ele sobrevivesse, mas estava cada vez mais claro que estávamos fadados ao fracasso. E aquilo acabava comigo.

Foi em uma noite muito, muito, quente que aconteceu.

Taylor me ligou do trabalho dizendo que passaria em casa para vermos um filme. Essas pequenas coisas faziam com que eu acreditasse que nosso relacionamento ainda se segurava, ainda que por um fio. Mas, quando ele chegou, foi como se algo se suspendesse no ar, pronto para cair no chão. Eu soube. Ele me beijou e eu quis me agarrar àquele beijo, mas ele acabou rápido demais.

Taylor tinha trazido cervejas. Eu não conseguia mais ver ele bebendo. Me dava ânsia. Às vezes, até taquicardia. Por alguma razão, havia algumas semanas, ele fazia questão de tomar álcool na minha frente, como se para me desafiar ou para mostrar que uma coisa não tinha nada a ver com a outra. Não falei nada. Mas, quando vi que ele ia tomar a quarta garrafa, não aguentei.

_ Taylor, pelo amor de Deus. Outra?

Ele rolou os olhos. _ Qual o problema, Layla?

_ Já te disse que não me sinto bem quando você bebe. Por favor...

_ Não é como se eu fosse sair dirigindo bêbado por aí e morrer em um acidente. Relaxa.

Acho que se ele tivesse me dado um tiro no meio do peito, não teria doído tanto. Aquilo era cruel. Que resposta má. Pisquei quando senti meus olhos se encherem de lágrimas e me deixei cair no sofá. Ele largou a garrafa e veio até mim, ofendido consigo mesmo.

_ Desculpa, Lay. Me desculpa. Foi uma coisa horrível de se falar.

Era bem óbvio que tinha sido horrível. Mas era tudo um absurdo. Parecia que minha vida tinha se transformado em um drama europeu sem trilha sonora. Só o que eu ouvia era a minha própria agonia.

_ Eu não consigo mais.

Ele me abraçou e me balançou de um lado para o outro, dizendo no meu pescoço que tudo ia ficar bem.

_ Eu não consigo mais, Taylor. - falei um pouco mais alto.

Ele passou os dedos no meu rosto. Enxugou as minhas lágrimas. _ Vai passar. - a voz dele saiu suspirada.

Ele estava tão cansado. Eu era só mais um problema. Já chegava. Prendi todo o choro e a tristeza dentro de mim quando falei novamente.

_ Taylor. Eu quero que você vá embora.

Ele já estava tão acostumado que nem protestou. Me deu um beijo na bochecha e se levantou para pegar a carteira. Eu pedia muito que ele fosse embora. Mas não era exatamente isso que eu estava falando. Era bem pior.

_ Tay...

Ele olhou para trás e eu precisei lutar com muita força, mas muita mesmo, para não chorar de novo.

_ Eu não quero que você volte.

Os braços dele caíram ao lado do corpo. _ Como assim, Layla?

Ele veio na minha direção. Eu me levantei e estiquei o braço para que ele se mantivesse distante de mim.

_ Eu já pedi desculpa. Eu não devia ter falado.

_ Eu não aguento mais você pedindo desculpas, Taylor. Sua vida não pode se resumir a me pedir perdão. Eu te perdoo. Você não fez nada, na verdade. Mas eu não posso mais.

_ Eu tenho sido horrível com você. Eu vou mudar.

Ele tentou se aproximar e eu dei um passo para trás.

_ Não é isso.

_ É, sim. Claro que é. Eu vou melhorar. E você também. O terapeuta não disse que você está melhorando?

Ele não estava facilitando. Taylor não iria facilitar. Eu sabia que ele me amava, e aquilo não seria nem um pouco fácil, mas eu precisava que ele fosse. Eu precisava saber que tinha resolvido alguma coisa. Eu precisava libertar a gente daquela prisão terrível. Me joguei nos braços de Taylor e o beijei, numa manobra que não sabia que se conseguiria completar. Andamos pela sala aos beijos e às lágrimas. Quando chegamos próximos à porta, eu o soltei e girei a chave. Ele percebeu e me olhou paralisado.

_ Você está cometendo um erro. A gente se ama.

_ Eu estou uma bagunça, Taylor. Eu não sei quando vou voltar ao normal. Eu não sei se vou voltar ao normal. Você não merece isso. Nós não merecemos. E, por mais que me doa dizer, - segurei o choro com a mão. - você não está me fazendo bem. Eu não quero mais te ver. Não quero. Me perdoa. Eu te amo, mas eu não quero morrer. E você está me matando agora.

Foram intermináveis os segundos em que Taylor olhou nos meus olhos. Suas íris estavam escurecidas e brilhosas das lágrimas que ele lutava para conter. Do mesmo jeito que eu sabia que precisava me afastar dele, sabia também que nunca amaria ninguém daquela maneira.

Taylor me puxou de encontro a si pela cintura e colou a boca na minha testa. _ Eu te amo, Layla. Eu não vou desistir de você. Nunca.

A porta se abriu, ele saiu. A noite foi passada em claro. Mas eu estava aliviada. Nós estávamos livres um do outro.

A Tempo [completa]Where stories live. Discover now