Don't Go Saying That You're Ok

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Deixar o quarto do hotel e passar a maior parte do tempo vendo flores e pequenos detalhes da cerimônia com Eleanor tinha finalmente me tirado da espiral de pavor em que eu estava entrando. Mas a felicidade dura pouco. À noite, vai haver um encontro. Uma reunião de amigos, uma espécie de despedida de solteiro, mas de Jake e Eleanor juntos. Algo diferente da festa com as roupas muito decotadas que pretendemos usar quando andarmos de limousine pela cidade tomando champanhe amanhã, quando haverá a despedida de solteira específica de Ellie. O evento será no 77th Street, o antigo Pitt's Pit, mais conhecido com o bar o Taylor. Basicamente, não sei o que fazer.

Posso não ir. Eleanor não ficará chateada, eu sei. Posso ir e fingir plenitude. Posso não ir e me arrepender. Posso ir e dar um escândalo. É impossível tomar uma decisão.

Estou fitando a tela do meu celular que já ficou preta há cinco minutos, quando vejo os dedos de Ellie estalarem na frente dos meus olhos.

_ Layla! Acorda.

Tento sorrir e parecer uma pessoa normal, mas falho, tenho certeza.

_ Para de pensar nisso. Você não precisa ir. Vem, vamos almoçar e depois experimentar o bolo do casamento. Certeza que a loja vai me dar uma fatia.

Me forço a levantar. Troco rapidamente de roupa e saio com Ellie. Ela mora em Oakland, o bairro universitário de Pittsburgh, cheio de restaurantes fofos e baratos, de bares legais (sim, esse também) e da atmosfera que eu não queria, mas sentia muita falta. Comemos uma salada em um desses lugares hipsters e depois passeamos em direção à loja de doces. Logo percebo que estamos perigosamente perto do 77th Street.

_ Não se preocupa. Ele nunca está aqui a essa hora. - ela sorri e fecha a cara imediatamente. _ Merda.

Olho para a frente. É, claro. Na calçada bem à minha frente, a uns dez metros de distância, lá está Taylor. Displicentemente bonito, com aquele boné que provavelmente mora na cabeça dele agora. Ele acena e caminha ao nosso encontro. Meu estômago se revira e quer expelir toda as folhas que estão dentro dele.

_ Que bom ver vocês!

Ele abraça Ellie e, talvez vendo que estou dura feito uma estátua, desiste de tocar em mim. Nem estende a mão para me cumprimentar, apenas sorri sem mostrar os dentes.

_ Taylor, não esperava te ver! - o tom de voz de Ellie é estranho e tenho certeza de que ele percebe. _ Estamos indo comer bolo!

Ellie é uma pessoa exagerada, extrovertida e maravilhosa. Ela é grande, tem um cabelo enorme e escuro que emoldura sua face em uma nuvem negra. Seu sorriso é gigante, seu coração é imenso. Mas quando ela está nervosa parece um boneco de ventríloquo. Eu daria risada se não estivesse mais tensa do que ela.

_ Ah. Bom, bom passeio, então! Vejo vocês à noite? - ele sorri e já se movimenta para andar.

Ellie ri de um jeito que parece uma tosse e eu me mantenho parada. Não vou falar. Não preciso falar. É só fingir que sou invisível. Vai funcionar. Ele parece não esperar nenhuma resposta mesmo, mas, antes de continuar seu caminho para bem longe de mim, para e me olha.

Congelo.

_ Ficou tudo bem aquele dia? Você saiu tão depressa. Fiquei preocupado.

Ellie pisca. Ela sabe. Eu sei que ela sabe que eu estou mentindo para ela. Mas por que Taylor precisa bancar o simpático? Quero virar as costas e sair correndo. Fecho uma das mãos com um pouco de raiva e tento parecer natural quando respondo.

_ Ficou tudo ótimo. Ótimo mesmo. Bem ótimo.

Muito natural. Parabéns.

Ele franze um pouco as sobrancelhas. Mas finalmente se dá por satisfeito, murmura alguma coisa, dá adeus e sai. Eu e Ellie sorrimos por alguns passos, paralisadas, até que ela se vira para mim de supetão. Eu já esperava.

_ O que foi isso? O que aconteceu? O que você não está me contando?

De novo, a lembrança. O momento exato em que a boca dele encostou na minha e meus lábios se entreabriram e nossas línguas se tocaram. Estremeço na espinha. Que ódio.

_ Eu estava bêbada, né? Saí correndo. Ninguém merece encontrar uma assombração dessas.

Ela levantou uma sobrancelha.

_ Sei. Mas pro Paul você mentiu completamente, certo?

Viro os olhos. Ellie está há 24 horas encafifada que eu não contei tudo para ela. Com razão, sabemos. _ Já te falei. Não quis entrar em detalhes, não tinha necessidade.

Não era nem pra você estar sabendo, amiga.

_ Vamos comer esse bolo, vai. Estou precisando de açúcar.

Ela parece se dar por vencida, por enquanto, ao menos. _ Eu posso imaginar. Até eu estou precisando de glicose. - ela se abana levemente.

Comemos o doce, voltamos para casa, conversamos, ajudo Ellie com telefonemas e sinto crescer dentro de mim uma incerteza insuportável. Eu não sei mais o que sinto. Odeio Taylor, sim, odeio. Mas quero vê-lo de novo. Quero olhar para ele, quero encostar nele. Melhor não encostar nele, na verdade. Odeio ele, disso eu tenho certeza. Mas e se a gente conversasse? E se eu contasse pra ele? Ele não merece saber nada, eu odeio ele. Mas quero olhar para ele de novo.

E é assim que decido que vou, sim, ao bar.

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É curtinho, mas logo posto o que vai acontecer! Prometo!

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