We Can Dance All Night

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Estou parada há meia hora na frente do espelho, esperando que o zíper do meu vestido suba sozinho. Ele é preto, godê, com um grande laço branco preso atrás da cintura. A decoração do casamento vai ser inteira em preto e branco.

Exatamente como a minha situação agora.

Se tenho alguma sorte nisso tudo, é o fato de Paul estar tão escolado na matéria "Trauma de Pittsburgh" que nem cogita em me confrontar sobre o assunto Taylor. Deve ser a única coisa boa de me comportado como essa louca, transtornada e histérica por quase dez anos. O máximo que ele fez foi jogar alguns verdes, tentando descobrir sobre o que estávamos conversando quando ele chegou. Dei zero audiência para essa tentativa, e Paul desistiu. O que acho maravilhoso, pois está suficientemente complicado lidar com a bola de basquete que se instalou na boca do meu estômago e não me deixa mais comer ou respirar direito.

O jantar de ontem à noite, o tradicional jantar do ensaio de casamento, foi um tormento sem fim. Enquanto tentava dar a menor atenção possível a Paul, cuja face já não consigo mais olhar sem ter enjoo, coitado, precisava conter minha tristeza pelo jeito como Taylor me tratava, alternando indiferença e desprezo. Pensando agora, prefiro o desprezo, porque significa que ele ainda sente alguma coisa, qualquer coisa.

Estou repassando alguma memória do evento da noite, parada como uma estátua, com as costas de fora, quando Jake entra inadvertidamente no quarto.

_ Layla! Desculpa!

Ele tampa os olhos e vai saindo.

_ Ei, Jake. Me ajuda com esse zíper, por favor.

Eu escuto como minha voz sair monótona e baixa, como uma gravação de mim mesma. E ele parece perceber também. Eu não sei o quanto Taylor contou pra ele dos últimos acontecimentos ou se contou alguma coisa. Não me importa, eu só quero a ajuda dele porque preciso diminuir o contato entre eu e Paul. O pensamento da mão do meu noivo _me contorço ao pensar nisso_ fechando meu vestido me dá ânsia. Me sinto uma pessoa horrível. Eu devo ser mesmo pavorosa por dentro. Pobre Paul, está sendo traído das piores formas possíveis, e eu fazendo pouco-caso dele.

Jake se aproxima e sobe o fecho. As mãos dele são assustadoramente grandes, mas delicadas. _Pronto. Você está linda, Lay. - ele aperta meu ombro de leve.

Sinto a cachoeira se formar na beira dos meus olhos, mas me recuso a fazer isso com Jake. Ele vai se casar em cerca de uma hora, e eu não tenho esse direito. Engulo o choro e sorrio. _ Você está maravilhoso! Estou tão feliz por vocês.

Graças a Deus, vou com Ellie e não Paul para o local da cerimônia. Ela, sensacional e generosa, tenta falar comigo sobre tudo o que está acontecendo, mas não deixo. Me proibi de fazer isso com ela.

A cerimônia é linda. Ela está incrível, Jake chora como uma manteiga derretida. Taylor é a visão mais bonita que já presenciei em um altar. Ele olha pra mim uma vez só, na troca das alianças. Tem algo de dor no olhar dele, mas quem desvia o rosto sou eu, pois lembro que ele mesmo já passou por esse momento e não foi comigo. Esse pensamento me mata um pouco. Apenas na hora dos cumprimentos, me permito chorar. As lágrimas se dividem entre a felicidade pela minha melhor amiga, que merece tudo de mais maravilhoso que a vida pode oferecer, e a sensação de que nosso amor é impossível e acabou. De novo.

Durante a primeira hora e meia da recepção, medito e reflito comigo mesma sobre o que posso fazer. Terminar com Paul e dar um escândalo a essa altura não é mais uma opção, meus amigos não precisam disso. Decido tentar colocar em prática meus dotes de atriz e ser o mais simpática e animada que conseguir. Não vai ser muito, mas vai ter que servir. Assim que sair dessa cidade horrível, vou colocar minha vida no lugar. Terminarei esse embuste de noivado e seguirei em frente, do jeito que der.

A Tempo [completa]Where stories live. Discover now