CAPÍTULO 2

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*** capítulo sem correção ortográfica ***

Thales

Tento não mancar, mas meus pés estão me matando, Duda fala sem parar e por mais que eu tente acompanhar seu raciocínio, não consigo, tem alguma coisa errada com a minha cabeça e isso eu já sei faz tempo, minha mãe acha que é culpa do futebol, que não presto atenção em nada porque não me interesso por outra coisa além de chutar bola.
Isso não é verdade, eu me interesso, eu tento, me esforço, as vezes me esforço tanto que minha cabeça dói. E ela sempre dói, mas a verdade é que não consigo manter minha concentração, basta apenas um ou dois minutos para que as coisas se evaporem da minha mente como uma nuvem de fumaça e eu não me lembre mais o que está sendo dito.
É por isso que amo jogar, quando estou no campo não ouço nada, não preciso prestar atenção em nada além da bola e o nosso destino, no máximo um “passa pra mim” ou um “ aqui Thales” e só, diálogos perfeitos de dois segundos.  O suficiente para que meu cérebro bugado não apague.
Mas não é o que acontece agora.
— Aquele cara de agasalho preto, você não viu? — Duda se vira para nós e começa a caminhar de costas.
— Não.
— Você viu Ayla? — ele pergunta para ela, os olhos brilhando de empolgação.
— Eu vi, ele estava anotando algumas coisas, eu acho. — ela responde animada.
— Eu sabia! — Duda bate as mãos como se estivesse em uma competição, aliás tudo para ele é uma competição, da hora que acorda até a hora que vai dormir, meu amigo está sempre competindo, consigo mesmo, com os outros. Comigo. — Ele nos viu Thales, eu sei que ele estava ali por causa da gente. — ele me dá um empurrão animado, mas não me deixo levar por suas maluquices.
Duda tem certeza que um dia estaremos em um grande time, jogando juntos e ganhando muito dinheiro. Pura bobagem.
— Não sei, Duda. — continuo concentrado na pedrinha a minha frente enquanto meu amigo fala sem parar, mas embora meus olhos esteja fixos no chão, posso sentir os olhos dela em mim.
Conheço Ayla desde que éramos bem pequenos, crescemos os três juntos, e por mais que as outras pessoas achem esquisito, ela é nossa melhor amiga assim como somos os melhores amigos dela.
Gosto do jeito tranquilo que Ayla lida conosco, as vezes ela precisa acalmar as coisas, quando estamos agitados demais, quando estou cansado ou quando Duda é um babaca, ou seja, quase sempre. Funcionamos bem assim e não damos a mínima para o que dizem sobre nós.
— Eu também acho Duda. — ela fala chamando minha atenção.
— Até você vai começar com isso agora?
— E porque não?
— Olhe em volta. — estendo as mãos e aponto ao redor. — Estamos no fim do mundo, ninguém vai nos ver aqui, somos invisíveis.
— Você está enganado Thales, a estrela de vocês está brilhando e não existe distância que impeça a luz de uma estrela de ser vista. — ela se vira para mim, com seu sorriso que acalma meus medos e diz. — Vocês brilham e eles estão vendo.
O ar para de entrar em meus pulmões por alguns instantes, suas palavras finais flutuam em minha mente, querendo encontrar um lugar onde se fixarem, respiro fundo me fazendo lembrar que a realidade é outra, muito mais escura e feia que as palavras bonitas de Ayla e volto a chutar pedrinhas, não quero acreditar em suas palavras, elas são perigosas e podem me fazer sofrer.
Não quero sofrer, isso dói, enfraquece e já estou fraco demais para ilusões.
Eu só quero jogar bola, sobreviver a escola e ter Ayla e Duda ao meu lado, enquanto eu tiver isso está bom, eu serei o garoto invisível mais feliz do mundo.
— Viu só? Ela sabe o que diz. — ele pisca para ela e bufo cansado de tentar fazer eles entenderem.
O assunto se estende por todo o caminho e decido que é o momento de ficar quieto e ouvir. Ou fingir que ouço.
— Vejo vocês depois. — Duda se despede, duas quadras depois, quando chegamos a sua casa.
— Vê se não se atrasa na segunda tem prova de português. — grita Ayla quando ele começa a correr. Duda ergue o polegar e estremeço só de pensar que estamos em semana de provas e ainda não estudei para nada.
Tento não pensar muito nisso, ainda estou relaxado depois do jogo e sei que não adianta muito me torturar por algo que não posso mudar. Eu sou burro e isso é um fato.
— Você acredita mesmo nas bobagens que o Duda fala? — pergunto para ela quando estamos sozinhos.
— Sobre o olheiro? — ela me encara e confirmo balançando a cabeça. — Claro que acredito, eu sei que vocês vão sair daqui um dia.
— Você quer que a gente saia? — me sinto um pouco ansioso enquanto espero por sua resposta, é esquisito porque ir embora daqui é tudo o que sempre sonhei, mas nesse momento me parece algo... errado.
— Obvio, eu quero ver vocês nos jogos da tevê.
— Tão longe? — engulo um nó esquisito que se forma em minha garganta e ela ri, provavelmente achando que estou brincando, mas nesse momento, estar na tevê me parece algo tão distante desse momento ao seu lado e o pior, não sei ao certo se eu o quero tanto assim.

Um Milhão de Promessas - DEGUSTAÇÃO Where stories live. Discover now