CAPÍTULO 12

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*** capítulo sem correção ortográfica ***


Ayla


Quando acordo no dia seguinte ele não está mais em casa, no lugar onde dormiu ficaram apenas os lençóis dobrados e o travesseiro a lembrança da sua mão fria e trêmula sobre a minha enquanto eu lia, sentindo seu corpo tenso relaxar a medida que as palavras escapuliam da minha boca, fazer borboletinhas se agitaram em meu estomago.
Não sei em que momento Thales adormeceu, sua mão continuou firme sobre a minha mesmo quando sua respiração se tornou mais pesada e sua cabeça pendeu para o lado.
Precisei reunir todas as minhas forças para deixa-lo sozinho na sala, parecendo tão triste e desprotegido por baixo daquelas roupas grandes demais para seu corpo de menino.
E agora, no lugar onde deixei meu amigo, tudo o que resta são as lembranças de uma noite onde as palavras o salvaram, mais uma vez.
— Bom dia pai, onde está o Thales? — pergunto ao me sentar a mesa e começar a passar manteiga no pão.
— Ele foi para casa. — meu pai diz enquanto prepara o café dos gêmeos, sem se virar para olhar para mim e agradeço por ele sempre estar correndo e não ter tempo para notar que estou arrasada por ele ter ido embora sem falar comigo.
Uma tristeza esquisita me abate e não consigo entender  daqui a pouco mais de uma hora estaremos juntos na escola como sempre foi e poderei vê-lo novamente.
— O senhor vai falar com a mãe dele?
— Não.
Ergo os olhos sem acreditar no que ouvi.
— Porque?
— Ele me pediu. — meu pai se concentra na tarefa de colocar o café na jarra.
É claro que Thales pediu para meu pai não se meter, é a típica coisa que ele faz, puxa todos os problemas para si e não permite que façam nada por ele, como se não merecesse nada.
Acontece que Thales está no limite  a forma como seu corpo tremia ontem  como ele vem se mostrando cada vez mais nervoso e assustado é a prova de que ele precisa de ajuda. Urgente.
— Mas pai, você prometeu que iria fazer algo. — resmungo em um tom acusatório.
— Ei mocinha, cuidado com o tom. — ele me repreende.
— O Thales está sofrendo, eu vejo a forma como ele... — se escudeira pela minha janela, era o que eu queria dizer, mas não posso, por mais que meu pai ame o Thales, ele não entenderia o que acontece toda vez que meu amigo vem até mim.
— É melhor se apressar antes que se atrase para a escola. — Ele diz encerrando o assunto.
Reviro o pão desmanchando-o por inteiro enquanto tento em vão engolir ao menos o café, mas é obvio que é uma tarefa inútil, nesse momento me pergunto se Thales comeu, se ele tomou banho, se conseguiu dormir direito... tantas perguntas que não consigo mais engolir nada. Então me levanto.
Quando estou no meio do caminho meu pai me chama, viro-me sem nenhuma vontade de falar com ele agora.
— Eu estou de olho nele, não se preocupe.
—Desculpa pai, mas não estou vendo você fazer nada. — As palavras voam da minha boca antes que eu possa pensar
— Nem tudo o que faço você fica sabendo Ayla.
Balanço a cabeça aceitando sua resposta e me viro, ansiosa para chegar logo a escola e poder ver com meus próprios olhos que Thales está bem.


***


Chego a escola um pouco em cima da hora e agradeço porque assim não preciso ficar igual uma louca lá fora esperando por ele. Entro na sala e sento-me no lugar de sempre,  permaneço imóvel observando a porta a sua espera, garotos e garotas entram e saem, professores chegam e se vão.  Mas ele não vem.
Nem no dia seguinte e nem no outro... nem no outro.
***
— Ontem eu fui o artilheiro da partida. — Duda se gaba, debruçado na minha mesa, seus longos braços estão cruzados sobre ela e ele está tão perto que preciso me afastar um pouco.
— Isso não é mais novidade, você é o melhor atacante daquele time. — Digo e meu amigo abre um dos seus sorriso arrogantes e bonitos.
Uma garota que acaba de entrar na sala olha para Duda sentado no seu lugar, ela se aproxima e passa suas unhas longas na nuca dele, posso ver os pelos do seu braço se arrepiarem e me sinto constrangida quando ele olha para a garota de um jeito um pouco íntimo.
— Oi. — ele fala, seus braços ainda estão arrepiados e desvio o olhar para meu caderno.
— Você está no meu lugar. — ela resmunga tentando esconder um sorriso.
— Senta aqui. — ele bate em sua coxa e a menina fica vermelha.
— Carlos Eduardo. — Duda revira os olhos quando ouve o professor o chamar pelo seu nome cortando o que seja lá que ele estava pensando em  fazer com a menina.
— Oi. — ele resmunga ainda com o cotovelo apoiado em minha mesa enquanto se vira para olhar para o professor.
— Você sabe me dizer o que está acontecendo com o Thales? — o professor olha para sua lista de chamada e imagino que deva estar se dando conta de que ele não veio a escola tempo suficiente esse ano. Por incrível que pareça, Thales parece estar conseguindo se tornar invisível, pois quase ninguém nota a sua ausência.
Quase...
Duda olha para mim e depois para o professor como se dissesse “ pergunta pra ela” e me irrito com meu amigo.
— Não sei professor, ele também não apareceu no futebol essa semana.
— Vou pedir para a coordenadora ligar para a casa dele.
Sinto uma vontade imensa de pedir para que eles chamem a policia, se Thales não veio provavelmente alguma coisa aconteceu e só de pensar nele machucado mais uma vez sinto vontade de gritar com eles, por outro lado o que me mantem quieta, além da esperança de que eu esteja exagerando, é o medo de tirarem Thales de casa, leva-lo para longe e então...
— Ayla? — o professor fala mais alto chamando minha atenção.
— Desculpa o que o senhor disse?
— Você pode responder o exercício 67 na lousa por favor?
E então meu amigo volta a ser invisível para o resto do mundo.
Levanto-me e vou até a frente da sala sentindo um frio na barriga que nada tem a ver com o exercício, mas sim com o menino que não vejo desde a noite em que ele me disse que sou sua casa.



***


Meu pai não me deixa ir a casa dele, acho que estou de castigo por ter questionado suas ações,  mesmo que ele diga que não.
Mas então porque não posso ir até ele?
Passo as tardes olhando pela janela na esperança de que ele apareça, nem que seja apenas para dizer oi. Mas ele não aparece, nem mesmo no quintal, ou a sua voz. Nada.
Todas as noites deixo minha janela aberta, quem sabe sozinho sem que ninguém o veja ele se sente confortável de vir até mim, mas mais uma vez ele não aparece e um buraco negro se forma bem no meio do meu peito.
E se algo grave aconteceu com ele?
Não que eu seja uma garota dramática ou algo assim, mas vejo tanta coisa ruim na televisão que não consigo me impedir de pensar em algumas delas. Meu pai me pede tempo, minha avó diz que os adultos estão cuidando de tudo, Duda parece alheio ao mundo e eu nunca me senti tão sozinha em toda a minha vida.
Uma semana depois Thales entra na sala de aula como se nada tivesse acontecido, ele parece bem ao passar por mim segurando as alças da sua mochila. Ele senta ao lado de Duda, como sempre fez, quando me vê olhando para ele, pisca e me dá um meio sorriso que faz meu estomago se revirar, como sempre fez, ele ri das piadas ruins que os meninos contam, finge que copia a lição da lousa, ele tenta parecer normal, mas algo está diferente nele, algo que não consigo compreender nesse momento enquanto estou radiante de alegria por vê-lo novamente e saber que ele está aqui, mesmo sabendo que ele não está bem.
Sei que no instante em que estivermos sozinhos, ele vai me contar, ele sempre me conta tudo e estou ansiosa para ouvir o que aconteceu esses dias em que ele esteve ausente.
A aula demora uma eternidade para acabar, assim que todos se levantam para ir embora espero por ele demorando mais que o normal para guardar meu material, vejo Thales se aproximar e meu coração acelera no peito, espero que ele pare, que me ajude a segurar a mochila, que pergunte se estou bem, que diga que sentiu minha falta, ou que apenas me dê seu sorriso largo e bonito, ele passar por mim e para minha surpresa, ele não para.
— Tchau Ayla. — Duda fala ao passar por minha mesa e respondo a ele,  Thales apenas vira o rosto e olha em meus olhos tão rápido que não tenho tempo sequer de dizer tchau antes de ver ele sair da sala.
Sinto o chão afundar sobre meus pés e sem saber o que fazer, tento me acalmar enquanto fecho a mochila e a coloco nas costas saindo em direção ao portão. Avisto os cabelos loiros de Duda acima da grande maioria dos meninos e preciso me esforçar um pouco para localizar Thales, como sempre, ele está ao lado de Duda e eles parecem conversar normalmente enquanto vão embora.
Me deixando para trás.
Acelero o passo e sigo meus amigos mantendo uma distância entre mim e eles, aperto minhas mãos em volta das alças da mochila enquanto caminho, eles muda a rota e sigo atrás deles sem compreender onde estão indo e porque não me esperaram, após virar a segunda rua a esquerda, Thales finalmente olha para trás e sorri, um sorriso perverso que faz o sangue em minhas veias gelarem e minhas pernas pararem de caminhar por vontade própria.
O que estou fazendo? Seguindo um garoto que me descartou da sua vida depois de me prometer que nunca mais faria isso? Me dou conta de como estou parecendo patética  e então apenas o observo se afastar de mim, lentamente enquanto ri de algo engraçado que Duda falou.
E mesmo de onde estou, sinto que ele está diferente, algo mudou em Thales, algo que sugou toda a cor de seus olhos e o afastou de mim, eu só não sei o que foi e nesse momento tenho medo de descobrir o que é.

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Olá pessoal!
E conforme prometido, hoje é dia de capítulo extra por causa do desafio das resenhas que foi batido mais uma vez.
Quero agradecer a todas que participaram e estou ansiosa para mais capítulos extras.

Enquanto isso, Thales tá cada dia mais misterioso, como se uma outra pessoa estivesse em seu lugar.
Parece que só Ayla consegue ver o que está por baixo de toda essa farsa que nosso garoto está vivendo.
Será que ela vai conseguir alcança-lo? Ou será que é demais para uma garota tão jovem lidar?

Comenta aqui comigo e não deixem de avaliar

Sexta feira tem mais!!!

Beijos

Um Milhão de Promessas - DEGUSTAÇÃO Where stories live. Discover now