CAPÍTULO 11

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***capítulo sem correção ortográfica ***

AYLA

Eles conseguiram!
Depois de passar as últimas semanas ouvindo Thales e Duda falar sobre esse campeonato como se fosse a coisa mais importante do mundo, eles finalmente conseguiram e estou tão feliz que não consigo dormir. Ver o sorriso nos lábios do Thales foi contagiante, ele mal conseguia comer, de vez em quando, sem que ele notasse, eu o observava sorrindo para o prato de comida, seu rosto  pura alegria, como se ele não pudesse acreditar que fosse capaz.
Mas eu sabia, sempre soube.
Quando meu pai o chamou para ver o jogo rezei em silêncio para que ele dissesse sim, e como se ouvisse meus pensamentos, ele ficou, ninguém se importou com suas roupas sujas, nem com a suas olheiras cansadas sob os olhos, apenas queríamos mostrar a ele que nos importamos, que estamos felizes por ele, e pela forma como ele retardou a ida para casa, acho que pode sentir um pouco do orgulho que temos dele.
Agora estou aqui, virando de um lado para o outro na cama, os lençóis amarrotados e a imagem do meu amigo sorriso ao me segurar em seus braços, em minha cabeça.
Cada dia que passa os meus sentimentos por Thales mudam um pouco mais, meu coração, parece não suportar tanta euforia toda vez que o vejo, não importa se passamos o dia juntos, assim que ele aparece, dispara no peito como se fosse a primeira vez.
Pego o livro que estou lendo na minha cabeceira e folheio tentando ler um pouco, quem sabe assim eu possa dormir, mas não consigo me concentrar em nada e acabo lendo o mesmo parágrafo várias vezes, a mocinha está finalmente se acertando com o mocinho depois de passarem o livro inteiro trocando cartas e se desencontrando, mas nem mesmo o momento da revelação deles consegue me prender.
Fecho o livro e o apoio na minha barriga, desistindo da leitura e sorrindo mais uma vez ao pensar em Thales, não me lembro de achar as sardas em seu rosto tão bonitas, nem mesmo sua boca, que sempre achei grande demais e esquisita, mas que agora parece do tamanho certo para seu rosto. Principalmente quando ele sorri para mim.
Ouço um barulho familiar na minha janela, e por um instante acho que é apenas meu cérebro me pregando uma peça, e quando o barulho se repete tenho a certeza que não estou sonhando. Pulo da cama e vou na ponta dos pés até ela abrindo-a devagar para não chamar atenção do meu pai. Thales está parado do outro lado, ainda usando as mesmas roupas de quando saiu de casa, os olhos fixos no chão.
— O que houve? — pergunto em um sussurro.
— Eu posso entrar? — ele pergunta ainda sem olhar em meus olhos.
—  A essa hora? O que houve Thales — pergunto novamente e ele olha em direção a sua casa.
— Eu esqueci minhas chaves. — ele diz e meu peito se comprimi porque sei que ele está mentindo e sabe que eu estou cansada de saber que ele nunca teve uma chave, seus pais sempre tiveram a estranha mania de deixar todas as portas destrancadas, e se ele está aqui agora significa uma única coisa. Eles não o deixaram entrar.
— Vá pela frente, vou abrir a porta para você.
Thales faz o que peço, fecho a janela e aguardo um instante antes de sair do meu quarto, estou tremendo tanto que preciso respirar fundo algumas vezes antes de bater na porta do quarto do meu pai.
— O que houve filha? — ele pergunta sonolento.
— É o Thales, acho que os pais dele o trancaram pra fora. — falo baixinho mesmo sabendo que ninguém pode nos ouvir, os gêmeos estão dormindo e Thales ainda está no portão aguardando que alguém o deixe entrar.
Meu pobre amigo...
— Santo pai do céu, eu não acredito. — meu pai coloca os óculos e coça a cabeça ainda um pouco sonolento enquanto olha para a porta da frente como se pudesse enxergar através dela.
— O senhor vai deixar ele ficar aqui? — pergunto receosa e ele olha para mim como se eu tivesse acabado de falar algo absurdo.
— Mas é claro Ayla, não vou deixar o menino na rua. — ele caminha até a porta enquanto resmunga sobre a espécie de mãe que Janaina se transformou e o quanto o padrasto dele é desprezível e me sinto cheia de orgulho do meu pai porque sei que ele jamais faria isso com ninguém.
Assim que ele abre a porta avisto Thales sentado na calçada, as costas apoiada no nosso portão. Ele parece tão pequeno escondido pela escuridão da noite, encolhido em um canto aguardando pela piedade dos outros enquanto seus pais dormem em sua cama.
Eu odeio seus pais.
— Ei menino, vamos entrar. — meu pai diz e Thales se levanta em um pulo olhando para seus tênis encardidos de terra.
— O senhor tem certeza? Não quero dar trabalho. — ele parece tão envergonhado que mal consigo ouvir a sua voz.
— Não diga bobagens, venha é perigoso ficar na rua a essa hora. —  meu pai olha de um lado para o outro na rua e depois fixa os olhos na casa do outro lado da rua, todas as luzes estão apagadas e posso ver a raiva no olhar do meu pai.
Ele não é um homem violento,  nem de arrumar confusão por ai, mas meu pai odeia injustiças, talvez por ter nascido em uma família em que a cor da sua pele é motivo para que seja tratado de maneira diferente, por ele próprio ter sido alvo de muitas durante sua vida, meu pai já viu de tudo, mas como ele mesmo sempre diz, nessa vida temos sempre duas escolhas, devolver o que se recebe ou aquilo que se tem no coração.
Meu pai sempre devolve o que tem no seu coração. Amor, muito amor.
— Obrigado senhor. 
Thales entra de cabeça baixa, os ombros caídos, no mais completo silêncio, meu pai o acompanha levando-o até o banheiro sem falar nada, ele sabe que qualquer coisa que disser vai machucá-lo ainda mais.
— Tome um banho garoto, vou pegar umas roupas minhas para você, não é o ideal, mas serve por enquanto.
Thales não diz nada, seu rosto nunca se erguendo, como se a maior sujeira não estivesse em seu corpo, mas sim em seu rosto, odeio vê-lo dessa forma e sinto medo por não saber até quando ele é capaz de suportar tudo isso.
Sento no canto do sofá e aguardo, meus olhos cravados na porta do banheiro até que ouço o chuveiro desligar, penso nos motivos que tenham levado seus pais a fazer algo tão horrível, lembranças do dia em que ele me contou que é agredido desde os oito anos fazem meu estomago doer e sinto vontade de chorar por saber que ele saiu daqui tão feliz e agora a tristeza e a vergonha estampam o seu rosto.
Hoje era para ser um dia especial, mas parece que Thales não tem o direito de ser feliz, ao menos não na sua casa.
Pouco depois ele aparece de cabelos molhados, usando uma calça de moletom e uma camiseta velha do meu pai.
— Adorei o visual. — aponto para suas roupas tentando brincar, ele baixa o olhar para a camiseta que de tão velha já perdeu a cor original.
— Eu gosto. — ele ergue os ombros sem ligar para o que está vestindo e se senta ao meu lado. — São confortáveis e limpas.
Ele olha para mim por baixo dos cabelos, algumas gotas escorem por seu pescoço e se perdem na gola da sua camiseta, ele tem o cheiro do meu sabonete e  a ideia de Thales tomando banho com ele faz com que minhas bochechas se aqueçam e eu tenha dificuldade de respirar, é esquisito pensar essas coisas sobre ele porque não é como se ele fosse alguém novo, meu amigo sempre esteve aqui ao meu lado, já perdi as contas de quantas vezes estivemos assim sentados um ao lado do outro, conversando bobagens, reclamando da escola ou de não ter nada para fazer, como irmãos... não, irmãos não.
Como... amigos.
Isso, ele é meu amigo, como sempre foi, o meu melhor amigo, assim como Duda, não sei o que está acontecendo, mas preciso parar de ficar pensando coisas sobre ele porque tenho medo que ele descubra e se afaste de mim.
Thales já tem problemas demais, não quero ser mais um.
— Meu pai foi buscar um travesseiro e lençóis para você. — falo quando ele começa a olhar para mim por tempo suficiente para que eu me sinta hipnotizada por seus olhos castanhos e minha voz sai tão esquisita que ele franze o cenho.
— Não precisava.
— Claro que precisa, você não pode dormir de qualquer jeito.
— Se não fosse vocês eu dormiria na rua. — ele fala e sua voz sai tão triste que tenho vontade de chorar.
Como um anjo enviado do céu, meu pai aparece no mesmo instante segurando um travesseiro com foguetes e planetas na mão e um jogo de lençol.
— Acho que você vai ficar bem aqui. — meu pai entrega tudo para ele que agradece nitidamente envergonhado. — Esse sofá não é tão ruim quanto parece.
— Não precisava se preocupar, eu fico bem em qualquer lugar.
Meu pai olha para Thales e coça a cabeça de um jeito que conheço bem.
— Ayla ajuda ele a arrumar o sofá? Os meninos acordaram e estão me chamando, acho que tiveram pesadelos, eu já disse que não quero eles assistindo esses desenhos esquisitos.
— Pode deixar pai. — me levanto pegando o lençol das mãos de Thales.
— Se cuidem e vão dormir, os dois tem aula amanhã cedo. — ele aponta o dedo para nós.
— Pode deixar. — Thales diz enquanto meu pai sai da sala resmungando sobre não ter mais idade para dormir em caminhas de criança e quando ele bate a porta voltamos a ser apenas eu e meu melhor amigo.
Arrumamos o sofá esticando um lençol sobre ele e afofo o travesseiro para que fique mais confortável possível.
—  Prontinho, acho que está até melhor que a minha cama. —   sorrio enquanto Thales olha para mim com as mãos enterradas nos bolsos da calça.
— Ayla. — ele me chama e sinto como se todo o ar da minha sala tivesse desaparecido.
— Oi.
Ele espera até que ergo meu rosto e encaro o seu.
— Obrigado. — ele sussurra e meu coração confuso acelera no peito.
— Não tem que agradecer, quero que você se sinta em casa. — Estendo minha mão e seguro a sua, ela está fria. — Por favor, nunca deixe de vir até nós.
Thales olha pela janela para onde fica sua casa, de onde estamos só podemos ver o topo do telhado, mas sei que o que ele vê, é algo além de tijolos e telhas.
— Até quando vocês vão abrir a porta para mim?
— Sempre, nossa casa sempre vai estar aberta para você. — balanço nossas mãos no ar em uma tentativa de chamar sua atenção, nunca na minha vida vi alguém mais triste e em um ato de desespero para vê-lo bem, eu me aproximo e envolvo meus braços em torno de seu corpo.
É um abraço desajeitado, tímido e cheio de sentimentos confusos, mas é tudo o que tenho para dar a ele nesse momento.
Fecho os olhos quando apoio meu rosto em seu ombro e sinto quando suas mãos se unem nas minhas costas, ele me puxa um pouco mais para perto e então seu rosto está escondido em meus cabelos, sua respiração baixa em minha pele, seu coração triste batendo perto do meu.
Thales é o primeiro a se afastar e novamente não me encara, sinto o constrangimento me dominar e dou um passo para trás.
— Eu... eu vou dormir, se precisar de alguma coisa. — aponto para a porta do quarto dos gêmeos e ele balança a cabeça de um jeito triste e grato.
— Pode deixar.
Viro as costas para ele e começo a caminhar para meu quarto quando ele me chama mais uma vez fazendo meu coração disparar no peito.
— Oi. — digo encarando o garoto desarrumado no meio da minha sala, desejando poder guardar essa lembrança para sempre em meu coração.
— Você pode ler um pouco para mim? Só um pouco... por favor.
— Claro, eu posso.
Corro até meu quarto e pego o livro que está na minha cama, volto para a sala e Thales está sentado no canto do sofá, os joelhos erguidos e os braços em torno das pernas, me sento ao seu lado cruzando as pernas e apoiando o livro nelas, sem dizer mais nada abro o livro e começo a ler, as palavras voam de minha boca, percorrendo o curto espaço que me separa do meu amigo com a bela missão de transportá-lo para longe, para um lugar onde ele não precise se abrigar na casa de ninguém, nem sofrer por não ser amado por aqueles que deveriam se encher de orgulho dele. E nesse momento, eu amo ainda mais os livros, porque sei, o poder que eles tem de aliviar a dor de um coração machucado.
Thales abaixa uma mão até onde a minha está, seus dedos grandes e ossudos se enroscam nos meus, mas continuo lendo, ignorando o que esse gesto faz comigo.
— Eu sempre me sinto em casa quando estou com você. — ele fala e paro de ler, de respirar, de pensar. Meu cérebro precisa de um pouco mais de meio minuto para assimilar cada uma das suas palavras e tentar não compreender da forma errada, mas é em vão, eu venho fazendo um bom trabalho em mentir para mim mesma nos últimos meses e agora eu sei, nesse exato instante eu tenho certeza.
Eu me apaixonei pelo meu amigo.

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OLÁ PESSOAL!
Mais uma semana começando com esse casal fofo e tão especial.
Amo esse capítulo por tudo que ele representa na construção desse amor tão forte e puro, mas amo acima de tudo a frase que o Milton diz para a Ayla

"nessa vida temos sempre duas escolhas, devolver o que se recebe ou aquilo que se tem no coração."

E com essa frase linda eu desejo uma excelente semana a todos.
E vamos lá,  rumo as 4k de leitura para termos capítulo extra ♡♡♡

Não deixem de votar e contar para mim suas reações lendo esse capítulo

Um Milhão de Promessas - DEGUSTAÇÃO Where stories live. Discover now