CAPITULO 24

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*** capítulo sem correção ortográfica ***

Thales

O segundo jogo já vai começar e por mais que eles me peçam para jogar, não aguento mais, minhas coxas queimam, meu pés estão esfolados e estou faminto, mas ao menos durante as últimas três horas eu não pensei em nada além da bola aos meus pés e na quantidade de gols que consegui fazer.
Um dos garotos que machuquei me olha feio enquanto caminhamos em direção aos bancos, eu não ligo, até sustento o seu olhar desejando que ele venha até mim, embora eu esteja cansado e fraco, eu não recusaria uma boa briga. Não hoje.
— Ei Thales. — Diego, um dos garotos responsáveis por montar os jogos me chama. — Cara eu sei que você é foda, mas da próxima vez que você jogar dessa maneira eu vou te por para fora. — ele me ameaça e paro de andar virando-me para encara-lo.
— Como é? — provoco-o, mesmo tendo compreendido bem o que ele disse.
— Não me leva a mal. — ele parece recuar e imagino que eu não esteja com uma aparência muito amigável nesse momento.
— Eu jogo como eu achar que devo e vocês que se fodam se estão achando ruim. — começo a andar ignorando seu chamado, passo pelo moleque que estava me encarando e dou uma ombrada nele, o garoto vem para cima de mim e fecho minha mão em punho para acerta-lo, meu sangue ferve nas minhas veias e sei que no momento em que eu começar a bater, não vou parar mais.
Olho para o garoto que não faço ideia de quem seja, mas que está prestes a tomar uma surra e tudo o que vejo é Duda, seus cabelos claros, seu sorriso irritante, sua boca, colada na dela, a porra da sua mão em torno dela...
Eu não quero bater nesse moleque, não é dele que estou com raiva.
Tento passar por ele, mas dessa vez é ele quem me dá uma ombrada, tão forte que dou um passo para trás.
— É melhor você me deixar passar. — falo o mais baixinho possível e Diego aparece olhando para nós como se ele fosse alguma merda de autoridade por aqui.
— Parem com isso agora, o que acontece no campo, fica no campo porra. — ele repete uma das primeiras regras que aprendemos ao jogar futebol.
— Eu to indo embora. — digo ao passar pelo idiota que dessa vez fica me olhando como se pudesse me matar, ignoro os olhares e saio mancando um pouco devido a uma distensão.
— Não tenho medo de você não maluco. — ele grita vindo pra cima de mim. — Vou arrebentar sua cara e depois partir a porra da sua perna no meio, quero ver você vir dar uma de folgado pra cima de mim. — ele continua falando e caminhando até mim, não tenho medo dele e muito menos das suas ameaças, não sou muito de brigar mas já apanhei o suficiente para saber que toda dor passa, por pior que ela possa ser.
— Então vem me quebrar. — digo quando me lembro do dia em que meu padrasto me ameaçou da mesma forma. Ele tentou, mas tudo o que conseguiu foi quebrar o próprio pé na parede. Claro que depois eu paguei caro por sua dor. E as lembranças daquele dia em que ele me colocou de joelhos na sua frente é o que faltava para que a humanidade suma de dentro de mim e o ódio me domine.
Não sei quando parto para cima dele, nem quantos socos dou na sua cara, nem ao menos quantos caras são necessários para me tirar de cima do moleque, só sei que tudo acabou quando sinto o impacto das minhas costas no chão duro e vejo o rosto do Diego na minha frente.
— Thales você tá fora. — ele fala baixinho enquanto me ergue do chão segurando minha camiseta. — Saia daqui e não volte mais.
— Aquele filho da puta me provocou. — aponto para o moleque que está apoiado em um outro banco, seu rosto está inchado e há tanto sangue que tenho medo de que ele esteja morto.
Olho para minhas mãos, elas estão manchadas de sangue, dois dedos estão tão esfolados que posso ver a carne pendurada, eu fiz aquilo com ele e nem ao menos me lembro. Eu perdi a luta contra o mal, eu deixei que ele me dominasse.
No fundo eu sou um monstro, exatamente como ele.

***

Demora quase meia hora até que eles me deixem ir, Diego me faz prometer que não voltarei no campo onde cresci, tenho vontade de implorar para que ele reconsidere, mas ele diz que precisa manter a ordem e no fundo eu sei que ele está certo. Peço desculpas e me sinto um lixo quando dou as costas para o único lugar onde me sinto em paz, além de Ayla, e saio.
Está acontecendo, estou ruindo, perdendo tudo o que tenho, exatamente como sempre soube que seria.
Faço o caminho mais longo até minha casa, a cada passo meus machucados pulsam, meu peito se comprime e eu me sinto pior, não compreendo o prazer que alguém pode sentir ao machucar alguém repetidas vezes, ou o tamanho do ódio que ele pode sentir, só sei que não estou bem, a imagem daquele garoto machucado e desfigurado por minhas mãos não me deixam, quero voltar e pedir desculpas, mas sei que não adianta mais, eu o humilhei diante de todos e isso não se apaga.
Paro duas vezes para vomitar, mesmo que não tenha quase nada em meu estomago, sei que a adrenalina está começando a deixar meu corpo e começo a sentir frio, estou doente, de ódio, ciúmes e medo e me sinto perdido sem saber o que fazer.
Eu esmurrei um garoto até ele desmaiar e sequer me lembro do que fiz, e se ele morresse? O que está acontecendo comigo? Será que estou me transformando em um monstro? Será que um dia...
Não. Não. Não.
Me apoio em uma parede tentando parar as perguntas que se formam em minha cabeça, eu não sou ele, eu não sou como ele, eu sou a vítima, eu sou aquele que é machucado, tocado, obrigado a fazer coisas da qual eu nunca vou me esquecer e que fazem com que eu me odeie. Eu não sou ele, eu nunca vou ser como ele.
A noite está quase chegando quando vejo a minha rua, preciso me esforçar para não ir até a casa dela, sei que a essa hora Ayla está sozinha, mas ainda estou cheio de raiva e por mais que eu saiba que precisamos conversar, hoje não é um bom dia para isso.
Aperto o passo ignorando completamente a vontade que tenho de ir até ela, ainda estou magoado, não, estou puto da vida, mas eu preciso dela, tanto que sinto que posso morrer se não ouvir a sua voz, e sei que nesse momento eu acreditaria em qualquer coisa que ela me contasse porque eu preciso dela, muito mais do que eu posso admitir.
Ayla  me ajudaria, limparia meus machucados e me ouviria, ela não me julgaria, nem me olharia como se eu fosse um monstro, para ela eu sou o garoto bom, o seu melhor amigo e isso é tudo o que eu preciso agora.
Mas não vou.
Não sei porque, algo dentro de mim me impede de pedir sua ajuda, talvez ainda reste um pouco de orgulho dentro do garoto fodido que sou, talvez um coração partido seja mais forte do que a necessidade, que se foda, não ligo.
Assim que passo pelo portão sinto que algo estranho está acontecendo, ou talvez seja apenas o medo querendo me avisar que o dia ainda não acabou, que no inferno, quando algo está ruim, ela tende a piorar. O problema é que hoje eu não vou me submeter a suas vontades, hoje ele não vai me tocar, se tentar me bater vou reagir, aliás estou esperando por isso e hoje estou furioso demais para permitir qualquer tipo de aproximação.
Antes mesmo de abrir a porta eu ouço sua voz e toda a minha fúria se transforma em medo, pânico, desespero. Sinto minhas pernas, já exaustas, fraquejarem, meus punhos se desmancharem mostrando dedos trêmulos e por mais que eu tente, não consigo respirar.
Ela está aqui dentro, com ele.
Empurro a porta que bate com força na parede e ouço o barulho de algo caindo no chão, mas não me importo em olhar para ver o que é, tudo o que consigo enxergar é o maldito do meu padrasto seminu sentado de frente para Ayla.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto para ela que se levanta assim que me vê.
— Jesus Cristo Thales o que houve com você? — ela vem até mim e segura minha mão erguendo-a, só então noto que o sangue úmido que escorre por ela é meu e não do garoto que bati.
— O que diabos você aprontou agora moleque? — ele exige saber, mas não vou falar.
— Thales. — ela espalma a sua mão em meu peito e preciso de toda a minha força para continuar calmo. Ela está aqui a quanto tempo? Ele a tocou? Ele a machucou?
— O que você está fazendo aqui? — pergunto bem baixinho ignorando a presença da minha mãe que acaba de entrar na sala segurando um pano de prato na mão.
— Thales. — minha mãe grita dramaticamente como se importasse comigo e meus olhos desviam imediatamente para ela. — O que você fez? — ela pergunta, mas também não respondo.
— Eu vim trazer a sua mochila e... — Ayla começa a falar, mas seguro seu braço puxando-a para fora do meu cativeiro, eu não a quero aqui perto desses monstros imundos, eu não a quero sob o olhar sujo dele, eu não posso suportar a ideia de que ela possa sequer ser ameaçada por ele.
Mas ele me prometeu, ele disse que se manteria longe dela, essa foi a nossa promessa, o nosso acordo, eu me ajoelharia para ele, eu deixaria ele fazer coisas imundas e ele manteria suas mãos longes dela e da Tati, ele não pode toca-las, ele tem a mim.
— Vamos embora daqui. — digo ignorando as vozes dele e da minha mãe, não me importo com o que vai acontecer quando eu voltar, eu só preciso tirar ela daqui.
— Thales, para com isso. — ela tenta se livrar do meu toque, mas não permito, eu preciso protege-la do mal, preciso leva-la para longe deles. — Thales, me solta. — ela grita e puxa o braço com força, só então eu paro e olho para ela, Ayla está apavorada, esse não é o olhar que eu quero que ela tenha para mim.
Eu não sou um monstro.
— Porque você foi lá? — digo quando estamos dentro da sua casa.
— Eu fui te ver, levar sua mochila que você deixou na sala e saber o que aconteceu para você sair daquele jeito.
— Ele tocou em você? — as palavras queimam minha garganta e o tempo que espero por sua resposta parecem com a eternidade.
— O que? — ela pergunta horrorizada.
— Ele te tocou, ele te ameaçou? Fala logo porra! — estou desesperado e quando Ayla dá um passo para trás se afastando de mim, percebo que eu devo estar assustando-a. — Por favor. — imploro e ela nega com a cabeça, mas eu preciso de mais, preciso de palavras ou sinto que posso enlouquecer.
— Ayla, diga para mim se aquele maldito machucou você.
— Não Thales, ele não me machucou.
— Você jura? — seguro seus braços mantendo meus olhos fixos nela. — Por favor não minta para mim, não tenha medo das suas ameaças, me fale, eu preciso saber.
— Thales. — ela retira minhas mãos de cima dela e coloca a mão em meu rosto, seu toque é quente sob minha pele fria, estou tremendo e nem sei mais se é por medo, raiva ou se talvez eu tenha chegado ao limite que uma pessoa pode suportar, eu só preciso saber que ela está bem e então eu posso desabar.

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Olá pessoal!!!
Segunda linda com capítulo do nosso garoto lindo e quebrado no arrrrr

Semana passada tava rolando um papo muito bacana entre as leitoras sobre como Thales está canalizando tudo o que vem acontecendo através da raiva e eu fiquei muito feliz em ver que vocês estão conseguindo compreender esses detalhes.

Essa é a magia do wattpad, poder analisar minuciosamente cada capítulo como se fosse único e na verdade é.

Então deixa aqui seu comentário e sua estrelinha.

Beijos e uma excelente semana!!!

Um Milhão de Promessas - DEGUSTAÇÃO Where stories live. Discover now