CAPÍTULO 14

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*** capítulo sem correção ortográfica ***

Ayla  

— Eu morri. — ele diz e embora eu ainda o sinta quente sob meus dedos, furioso e trêmulo, eu sei que de alguma forma ele tem razão.
Meu Thales morreu, em algum momento enquanto ele se afastava de mim, enquanto se escondia, enquanto estava longe dos meus olhos.
Ele morreu e meu coração dói porque eu não sei o que fazer.
Agradeço a Deus pela chuva, porque nesse momento não consigo afastar as lágrimas que caem dos meus olhos, não consigo sequer soltar o seu braço e deixa-lo ir, não consigo falar... só consigo sentir e sentir nesse instante é algo que dói de um jeito que eu não me lembro de ter sentido antes.
— Me solta, Ayla. — ele exige, sua voz agora mais grave e um pouco rouca.
— Não posso. — sussurro baixinho sem me importar que ele esteja me vendo chorar. Porque é verdade, não posso solta-lo, por mais que ele me peça, por mais que ele tente, eu não consigo solta-lo.
— Solta a porra do meu braço, Ayla. — ele volta a xingar e sinto como se uma faca estivesse me furando, ele não era assim, Thales jamais falaria isso para mim, como ele pode mudar tanto em tão pouco tempo? 
— O que aconteceu com você? Por favor me conta, você sempre me contou tudo. — pergunto tentando ser o mais paciente possível.
—É isso que você acha? Que sabe tudo sobre mim?
— Foi o que você me fez acreditar.
Thales passa a língua sobre a boca sugando a chuva que molha seus lábios. Sinto o conflito dentro dele, uma parte quer me contar o que houve, posso ver o pedido de socorro em seus olhos, mas a outra parte, aquela orgulhosa, a arrogante, a fria a estranha, que não conheço, mas que vem tomando cada dia mais espaço dentro dele, não permite que eu veja o que aconteceu.
— Me solta, Ayla. —  ele repete, dessa vez com calma, ele poderia se soltar de mim, ele é com certeza mais forte do que eu, mas o que ele está pedindo nesse momento não tem absolutamente nada a ver com minha mão em seu pulso, mas da minha presença em sua vida e isso eu não posso fazer.
— Você sabe que eu não vou te soltar, nunca.
— Você não pode me manter junto a você. — ele diz com a voz cheia de raiva.
— Eu vou continuar tentando, até que seja impossível para mim.
— Já é, só você que ainda não notou.
A chuva aumenta, os trovões me fazem estremecer, mas não me movo, nenhum de nós se movem, apenas ficamos aqui, um olhando para o outro, sem coragem de falar o que realmente importa, inexperientes, assustados, mas cheios de um sentimento que ainda não dominamos.
— Você sabe que o meu pai pode te ajudar, podemos ir até ele e...
— Você ama seu pai? — ele me interrompe
— Claro que amo.
— Então deixa ele fora da merda da minha vida. Pede para ele parar de tentar me ajudar, ele só tá fodendo ainda mais as coisas.
Então meu pai está tentando, assim como ele me prometeu que faria.
— Eu amo você também. — digo e nesse instante não sei o que estou falando, não sei se o que disse tem a ver com a força com que meu coração está batendo ou se é apenas o medo de perde-lo, mas minhas palavras não causam nenhum efeito nele, seu olhar ainda é frio sobre mim.
— Então me solta. — ele olha para minha mão e seu peito começa a subir com força enquanto ele respira com dificuldade. — Me solta porra! Não me obrigue a te machucar. — ele volta a gritar, mas não se move, como se ele não fosse capaz de fazer isso e precisasse que eu fizesse, mas eu não vou fazer, eu ficarei aqui, pelo tempo que for.
— Você já está me machucando.
— Eu vou machucar mais. — seu olhar se torna perverso e preciso de toda a minha coragem para não fazer o que ele pede, um raio ilumina o céu atrás dele e quando o trovão retumba no ar sinto como se o mundo estivesse rachando no meio.
— Eu sou sua melhor amiga, não tenho medo do que você está fazendo.
Thales não diz nada, seu braço se torna mais pesado em minha mão e sinto que ele está parando de resistir, sua cabeça tomba entre seus ombros e sem pensar em nada, me aproximo do seu corpo, devagar como quem se aproxima de um animal selvagem ferido e assustado. 
Ele está tremendo e quando deito minha cabeça em seu ombro ele não me afasta.
Quando solto seu pulso e passo minhas mãos em suas costas, ele não me repele.
Quando encosto meu corpo no seu, ele respira fundo.
Então ele deita a sua cabeça em meu ombro, passa suas mãos trêmulas em volta das minhas costas e me aperta com tanta força que tenho dificuldades para respirar, mas não me movo, tenho medo de que esse seja o nosso ultimo abraço, tenho medo de que no instante em que ele se afastar de mim ele nunca mais vai voltar e eu ainda não estou preparada para isso.
— Eu não sou mais o seu melhor amigo Ayla.
Ele sussurra, os lábios a centímetros de distância do meu ombro, seu hálito quente causando arrepios em minha pele molhada. Viro meu rosto para a curva do seu pescoço, tem cheiro de chuva, poeira e Thales, o cheiro do meu melhor amigo.
— É sim, você quem não consegue enxergar, mas você ainda é o mesmo Thales. — digo fechando os olhos e o apertando ainda mais.
Ele nega movendo a cabeça devagar.
— Se você soubesse.
— Então me conta. — peço pela milionésima vez.
— Não posso. — ele diz e sinto os nós dos seus dedos pressionando minhas costas.
— Porque?
— Porque eu não quero que me olhe diferente.
Me afasto apenas um instante, somente o suficiente para que eu possa olhar para meu amigo, a água cai entre nós, gotas de chuva escorrem por seu rosto, desenham o contorno dos seus lábios e chegam ao meu rosto, seus olhos castanhos estão escuros e hoje não consigo ver os riscos esverdeados neles, sua boca se move, mas ele não diz nada, meus olhos caem até ela, estendo minha mão e toco a ponta dos meus dedos em seu rosto, o seu hálito me aquece, sua mão espalmada em minhas costas me aperta, mantendo-me junto a si. Passo as pontas dos dedos por sua testa sentindo as rugas bonitas que tanto odeio, porque são a expressão da sua dor, toco sua sobrancelha escura, passo por seus olhos tristes que se fecham para receber meu toque, por seu nariz, seguindo por todas as sardas que nesse instante estão encobertas pela chuva, mas que conheço tão bem, toco sua bochecha, e quando meus dedos descem tocando sua boca ele abre os olhos e me encara.
— Para mim você sempre será o meu Thales, nada nem ninguém pode me impedir de enxergar você.
— Ayla... — ele exala, como uma respiração pesada que  já não suporta mais segurar.
— Não foge de mim. — imploro rezando para que ele me atenda.
Sua mão sobe um pouco mais até o meio das minhas costas e embora eu saiba o que estamos prestes a fazer, não tenho a menor ideia do que isso significa, meus olhos caem para sua boca novamente e quando sinto seus olhos me analisando eu sei que ele quer o mesmo que eu.
— Não posso ficar.
— Não posso te deixar... — sussurro baixinho, sem terminar a frase por medo de estar interpretando errado seus atos. — Thales...
Não consigo falar mais nada, sua boca se cola na minha, sufocando minhas palavras, passo meus braços em torno dele, segurando sua camiseta encharcada enquanto ele inclina a cabeça para o lado e força seus lábios no meu. É um beijo duro, atrapalhado, assustado e triste, cheio de emoções que eu acredito que não deveriam existir em um primeiro beijo, mas não me importo, eu aceito o que ele tem para me oferecer, e nesse momento Thales é feito de dor e tristeza e isso faz com que nosso beijo seja ainda mais especial, mais único, inesquecível.
Triste...
Movo meus lábios desejando saber ao certo o que fazer, ele coloca a sua língua dentro da minha boca, exigindo, tomando, dando... cambaleio um pouco tonta com sua brutalidade, mas suas mãos me mantém no lugar e se não fosse pela chuva, tenho certeza que estaria pegando fogo.
Quando o beijo acaba estamos ofegantes, ele dá um passo para trás e me olha como se fosse a primeira vez que estivesse me vendo.
— Me desculpa, Ayla. — ele fala caminhando para longe. — Eu não devia ter feito isso. — ele diz se afastando. — Por favor, esquece o que aconteceu aqui. — ele continua me machucando.
— Tudo bem Thales, está tudo bem. — sinto o estalo do meu coração se rachando no peito enquanto o observo se afastar e quando ele olha para mim uma ultima vez eu ainda encontro forças para lhe dar um sorriso, mas ele não passa de um movimento involuntário dos meus lábios que ainda não se deram conta de que isso não foi um beijo, foi um rompimento.

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Olá pessoal!
Desculpem o atraso, o capítulo era pra ter saído ontem, mas estava com muito trabalho e acabei não conseguindo tempo para vir aqui.
Mas espero que tenha valido a pena a espera.
Esse é um dos capítulos mais delicados e tristes, Thales quer tanto não querer e ao mesmo tempo,  Ayla luta contra o medo de se aproximar demais da escuridão do seu amigo.

O que será que Thales tanto teme? Porque ele se esconde tanto e porque afasta Ayla dessa forma? Quais os motivos para que ele oscile tanto emocionalmente? E a mais importante de todas.
Será que o futebol vai conseguir salva-lo?

Comentem aqui comigo e não deixem de curtir.

Beijos e até segunda!

Um Milhão de Promessas - DEGUSTAÇÃO Where stories live. Discover now