CAPÍTULO 10

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*** capítulo sem correção ortográfica ***

THALES

— O que você está fazendo? — pergunto assim que entro em casa e encontro Sandro sentado com o pote onde está o meu bolo nas mãos

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— O que você está fazendo? — pergunto assim que entro em casa e encontro Sandro sentado com o pote onde está o meu bolo nas mãos.
Ele coloca um pedaço enorme na boca enquanto olha para mim, meu sangue ferve e sinto meu peito doer com a força que meu coração bate.
Filho da puta!
— Aquela velha até que cozinha bem hein? — ele balança a colher no ar enquanto fala de boca cheia.
— Isso é meu.
— Não, isso é nosso, tudo o que tem aqui dentro da minha casa é meu. — ele passa a língua na boca, limpando o chocolate e minha mente gira com todas as palavras que quero gritar para ele.
— Porque você faz isso?
— Do que você está falando? Precisa ser mais especifico Thales.
O desgraçado abre o pote de doces e pega dois brigadeiros, enfiando-os na sua boca imunda.
— É da sua filha seu maldito. — esbravejo, e sem que eu me dê conta, estou em cima dele, meu rosto a centímetros do seu, minhas mãos em punho, sedentas de vontade de realizar o que mais quero, quebrar a sua cara maldita.
— Vai Thales, faz... — ele olha dentro dos meus olhos e me sinto diminuir, enfraquecer, me acovardar. — Vamos lá garoto, eu estou louco para ver você perder o controle, vem. — ele me provoca e sinto o estomago embrulhar de nojo, vergonha, ódio. Tanto ódio que mal ouço minha mãe chegar, não noto quando ela toca meu braço, nem quando a afasto em um gesto brusco.
— O que está acontecendo? — ela grita me empurrando para longe do seu marido.
— O bebê chorão ai está bravinho porque peguei um pedaço de bolo.
— Era o meu bolo. — grito porque não é só isso, é a representatividade que esse bolo tem para mim, é o fato de que não importa o que aconteça, todos os anos eles se lembram de mim, me fazem sentir especial enquanto aqui...
— Amanhã você pega mais lá na Ayla. — minha mãe fala como se não fosse nada, porque para ela nunca é.
— Mas que porra! — grito, sufocando com a raiva que me inunda.
— Olha a boca moleque. — Sandro dá um passo, mas minha mãe se coloca na frente dele impedindo-o de me alcançar.
— Não Sandro, hoje não. — ela diz e sinto uma dor triste em meu peito por saber que isso é tudo o que ela tem para mim no dia de hoje.
— Vou me deitar. — saio da cozinha sem olhar para trás, não me importo mais com o bolo ou com qualquer outra coisa.
Coloco a mão no bolso e envolvo meus dedos na superfície áspera da pedra que Ayla me deu, imagino que sejam seus dedos me confortando enquanto caminho em direção ao meu quarto, não troco de roupa, apenas me jogo na cama e encaro o teto ansioso e agitado demais para sequer fechar meus olhos, tento contar as batidas do meu coração, mas me atrapalho e desisto, tento respirar, mas também é difícil, então permaneço quieto, encarando o escuro, ouvindo os passos que se aproximam da minha porta e fazer meu corpo tremer.
A porta se abre devagar, mas não me movo.
Ouço sua respiração, lenta e profunda, como se estivesse criando coragem para falar seja lá o que for. Mas ela não diz nada, apenas fica lá, me observando, como se esperasse que eu me transforme em um monstro a qualquer momento, ou desapareça para sempre. Mal sabe ela o quanto desejo que isso aconteça de verdade, que um dia ela abra essa porta e não me encontre mais.
O tempo passa e meu corpo dói de tanto que treme, seu silencio é agonizante, prefiro mil vezes as surras de Sandro do que o seu silêncio, porque com o ódio eu sei lidar, mas a indiferença me tortura.
Algum tempo depois ela respira fundo mais uma vez e então fala as duas palavras que aguardei o dia inteiro para ouvir.
— Feliz aniversário.
Ela despeja de uma vez só e sai fechando a porta e me deixando sozinho com uma dor quase insuportável no peito.
Viro para o lado e olho o radio relógio que Milton me deu quando fiz dez anos.
São 01:25 da manhã.
Não é mais o meu aniversário.

Um Milhão de Promessas - DEGUSTAÇÃO Where stories live. Discover now