CAPÍTULO 23

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*** capítulo sem correção ortográfica ***

Ayla

É difícil fingir que eu e Thales ainda somos apenas amigos, principalmente depois da noite passada, ver ele ir embora daquela forma, magoado e machucado, sem querer ajuda de ninguém me deixou triste. Pior ainda, saber que ele teve que voltar para o lar onde ele é tratado dessa forma me destrói.
Hoje de manhã ele estava no meu portão como sempre, as costas apoiadas na parede, a mochila a seus pés e a droga de uma camiseta de manga longa escondendo a sua realidade.
Dessa vez não houve beijos embaixo da árvore, Duda estava a nossa espera e Thales sequer se aproximou de mim durante todo o caminho. Ainda me sinto um pouco desconfortável na presença de Duda e mesmo que eu saiba que o que houve entre nós foi apenas um pequeno ato de alegria misturada com álcool da parte dele, eu não gosto de saber que ele me beijou e por isso eu tento ao máximo não pensar sobre aquilo.
As aulas se arrastam e quando o sinal do intervalo toca me sinto aliviada.
— Ayla. — ouço uma voz me chamando e quando me viro encontro Elisa, uma das garotas mais bonitas da escola e que, até esse momento eu tinha certeza absoluta que sequer me conhecia, me chamando.
— Oi Elisa. — a cumprimento curiosa para saber o motivo para ela vir até mim.
— Oi, está ocupada? — ela começa a andar e sigo ao seu lado sem ter a mínima ideia do que estou fazendo.
— Estou indo para o pátio, assim como todo mundo. — aponto para a direção que todos estão tomando e ela ergue um ombro de forma delicada.
Eu sou uma garota de bem comigo, não tenho neuras e nem me ligo muito nessas coisas de vaidade, gosto de quem sou, da cor da minha pele e da forma como posso brincar com o meu cabelo deixando ele de mil formas diferentes, acredito que ter crescido em uma família que se ama e se orgulha de ser quem é tem muito a ver com isso, amo ser a Ayla que sou, mas se existe no mundo uma garota que me faz sentir invisível, essa garota é Elise. O fato de saber que Thales e Duda também acham ela linda faz com que minha raiva aumente um pouco.
— Sabe Ayla, a gente nunca se fala muito, mas eu quero que saiba que eu gosto de você. — ela diz enquanto cumprimenta algumas pessoas que passam por nós, como se ela fosse alguma espécie de celebridade.
— Fico aliviada em saber. — tento não soar tão irônica, mas é um pouco inevitável, Elise consegue ser ainda mais arrogante do que Duda, um fato incrível, devo afirmar.
Por falar em Duda, assim que chegamos ao pátio, avisto ele e Thales, eles estão conversando com Leandro, um babaca que senta ao meu lado e vive fazendo piadinhas de mal gosto durante a aula, Thales parece irritado com algo e quando ele olha para mim não consigo mais me concentrar no que seja lá que a garota na minha frente está falando. Tudo o que consigo ver são seus lábios lindos e deliciosos que estou louca para beijar novamente.
— Você quer que eu fale com o Duda? — adianto o papo porque é sempre assim, esse tipo de garota só se aproxima de mim para pedir para ajuda-la a chegar no Duda.
— Na verdade, não é o Duda. — Elisa respira fundo e seu rosto fica corado. — É o Thales. — ela olha para eles e tudo o que consigo pensar é que a garota mais bonita da escola está corada e o motivo é o Thales, o meu Thales.
O Thales que me beijou cinquenta e oito vezes.
— Desculpa, acho que não entendi, você está interessada no Thales? — minha voz sai um pouco mais alta que o normal e sinto o sangue aquecer nas minhas veias.
— Você acha que tem algum problema? — ela morde o cantinho da unha e não consigo pensar em nada que possa dizer que justifique o motivo para que Thales não se interesse por essa garota, ela é perfeita.
— N-não, quer dizer, não sei o que dizer. — olho novamente para ele, seu rosto está fechado, um vinco entre suas sobrancelhas e a forma como ele olha para o garoto faz parece que ele está prestes a bater nele.
E eu estou louca para bater nessa garota.
— Eu sei que todo mundo morre pelo Duda, ele é bonito e tal, mas o Thales está tão... — ela suspira, a garota está suspirando pelo Thales na minha frente e eu não consigo fazer nada.
Eu sou uma idiota.
Eu deveria dizer que ele não está disponível, que ele é meu, que passamos todas as noites juntos e que eu leio para ele porque ele ama minha voz, que eu o vejo dormir e que o beijo, e beijo muito, mas tudo o que consigo fazer é imaginar se Thales dormiria se fosse Elisa ao seu lado ao invés de mim.
Idiota eu sei.
— Olha, eu vou... — respiro fundo porque nesse momento Thales está olhando para mim e mesmo que ele não faça a menor ideia do que está acontecendo aqui, uma parte de mim fica brava por ele não estar ao meu lado. Se ele ao menos me abraçasse, se nós não agíssemos como se ainda fossemos uma droga de amigos, eu não estaria tendo essa conversa com Elisa.
— Você fala com ele por mim? — ela pede como se fossemos melhores amigas e eu confirmo com a cabeça sem saber ao certo o que fazer, quando o garoto levanta bruscamente se afastando de Thales, sei que algo de ruim está acontecendo, ele não é o cara mais amigável do mundo, mas não me lembro qual foi a última vez que Thales brigou com algum moleque na escola.
— Eu preciso ir Elisa. — me afasto da garota sem dar a menor atenção ao que ela está falando, Thales está quase em cima de Duda e preciso correr quando ele grita com nosso amigo como se estivesse prestes a bater nele.
— Ei, tá tudo bem por aqui? — pergunto esperando que Thales se vire ao ouvir minha voz, mas ele sequer se mexe, como se eu não fosse ninguém.
— Thales? — toco seu braço na esperança de que ele não tenha me ouvido, mas quando ele empurra minha mão bruscamente percebo que seja lá o que está acontecendo aqui, é mais grave do que imaginei. Duda olha para mim como se esperasse que eu pudesse acalmar Thales, mas as coisas não são assim, quando ele fica bravo, ninguém consegue alcança-lo, nem mesmo eu.
— Vocês querem me falar o que tá acontecendo? — insisto e quando Thales se vira e olha para mim, tudo o que consigo ver é raiva e decepção.
— Quer saber, vão se foder.
Ele diz, passando por mim como se eu não fosse nada, observo ele se afastar sem compreender o que o deixou desse jeito. Olho para Duda e sua expressão é tão neutra que não consigo definir se ele está puto ou se está se divertindo com o que está acontecendo.
— É sério isso? Ele realmente mandou a gente se foder? — aponto para Thales que nesse momento está saindo da escola sem nem ao menos se importar que ainda temos mais meio período de aula.
— Thales tá estressado com o lance da peneira, sabe como é, ele não é tão completo quanto os times exigem, esse lance todo tá deixando-o nervoso.
Duda fala com uma velocidade esquisita, como se ele já tivesse esse discurso preparado, como uma forma de esconder a verdade.
— O que eu tenho a ver com isso?
— Sei lá Ayla, você sabe que o Thales tem esse lance da raiva, todas essas merdas com o padrasto e a mãe, as brigas e o problema da cabeça dele, é como uma bomba relógio, ele está prestes a explodir. — Duda ergue os braços como se estivéssemos falando de um estranho e não do nosso amigo. — Meu pai acha que ele precisa de ajuda, um médico de cabeça sabe?
Não gosto de saber que Duda fala dele, gosto menos ainda da forma como cita a dificuldade escolar dele como se Thales fosse um retardado ou algo assim, abro a boca para corrigi-lo, mas desisto no momento em que ouço a coordenadora chamando a nossa atenção.

Um Milhão de Promessas - DEGUSTAÇÃO Where stories live. Discover now