CAPITULO 28

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*** capítulo sem correção ortográfica ***


Thales

Eu juro por Deus que se eu colocar mais um pedaço de pão na minha boca eu vou vomitar.
Claro que não digo isso em voz alta, na verdade ultimamente eu tenho medo de que Milton tenha adquirido algum super poder e possa ouvir meus pensamentos, logo um comprimido para enjoos vai aparecer na minha frente, é sempre isso, basta eu falar que estou enjoado e ele me faz engolir um desses, de acordo com ele eu preciso consumir o máximo de calorias possível até o teste, tipo como os lutadores fazem, mas eu não sou um lutador, sou um covarde que ainda não teve sequer  coragem de sair na rua por medo de encontrar seus fantasmas.
— Hoje você vai para a escola Thales. — ele diz enquanto começa a arrumar as coisas e eu sei que não é um pedido, ele nunca pede, exige e não ligo, nunca tive tanta atenção antes na minha vida e sei que ele faz pro meu bem.
No dia seguinte a conversa de Milton e minha mãe, ele me fez contar a ele tudo o que estava acontecendo na minha casa, eu contei, tudo o que eu pude contar, as surras, as torturas psicológicas, as agressões verbais, a fome, o medo, a tristeza. Falei por horas, contei sobre o apagão do campo, ele disse que falaria com Diego e que explicaria tudo, falei sobre meus sentimentos por Ayla e ele disse que tentaria ser maduro e aceitar que sua filha tinha um namorado. Falei sobre minhas dificuldades na escola e ele disse que falaria com a coordenadora pedagógica se comprometendo a me levar a um psicopedagogo.
Para tudo o que eu disse, recebi uma resposta, uma solução.
Só deixei uma coisa de fora, porque essa eu sabia, não havia nada nesse mundo que poderia consertar.
— Eu ainda não me sinto bem. — minto enquanto encaro o pão na minha mão e ele vira o rosto para olhar para mim.
— Eu posso encher o seu estomago de remédios para enjoo, você sabe disso não é?
— Eu sei, mas não é bem isso...
Milton para de guardas os pratos e se senta de frente para mim, seus olhos caem no pão em minhas mãos, ele sabe o que estou falando, ontem ele teve que fazer o papel de pai e se desculpar com o pai do moleque que quebrei o nariz garantindo que eu nunca mais faria isso. Depois passou uma hora ao telefone com a coordenadora da escola, ele vem feito muito por mim, está abrindo mão de ficar com os gêmeos para que eu possa usar o quarto deles. Estou envergonhado e ainda não sei porque ele me quer aqui.
— Escuta aqui, eu fiz uma promessa a sua mãe, que você só sairia da minha casa para um alojamento em um clube esportivo, e você vai, porque eu acredito em você garoto, apostei tudo em você, estou aqui aguentando ver você e minha garotinha juntos como um casal e acredite, um dia você terá uma filha e saberá que isso não é nada fácil para um pai, então trate de fazer valer a pena tudo isso.
Suas palavras são duras e quando ele bate na mesa fazendo com que todos os talheres trepidem eu me afasto olhando para ele.
— Não me faça me arrepender, porque eu nunca me arrependo.
— Sim senhor. — respondo e enfio o resto do pedaço de pão na minha boca antes de sair para arrumar minhas coisas.

***

— O que meu pai disse para te fazer ir a escola? — Ayla pergunta pouco depois enquanto estamos caminhando. Meu coração ainda está disparado desde que saímos da casa dela.
— Basicamente me rogou uma praga. — seguro as alças da mochila enquanto chuto uma pedrinha de um pé para o outro como se fosse uma bola de futebol.
— Oi?
— Ele disse que um dia eu terei uma filha e vou saber o que é ver ela com um cara. — ergo os ombros e olho para ela. — Se isso não é uma praga, eu não sei mais o que é.
Ayla ri, não na verdade ela gargalha, alto o suficiente para que um grupo que está na nossa frente se vire para trás para ver o que está acontecendo.
— Meu pai gosta muito de você. — ela passa os braços em torno do meu pescoço e planta um beijo em meu rosto. — Você sabe disso não sabe?
— Sim. — respondo rapidamente.
A verdade é que não me sinto muito confortável com a atenção que recebo do seu pai, sei que ele gosta de mim, embora eu não compreenda o motivo. De qualquer forma é estranho aceitar algo sem ter que dar nada em troca, ou ser ofendido, agredido...
— Estou ansiosa para amanhã. — ela fala com uma alegria tão grande que não consigo não sorrir de volta.
— Só porque amanhã é o dia do cara mais bonito dessa cidade? — provoco-a e ela revira os olhos exageradamente. — E da garota mais sortuda. — acrescento e ela dá um tapa em meu braço.
Ele já não dói mais, nem minhas costelas, assim como os meus dedos que estão se curando, mas dentro de mim há uma sombra que nunca vai embora, um pensamento que me perturba dia e noite. Tatiana.
Agora não estou mais lá para protege-la e isso me angustia, me tira o sono. Por várias vezes tentei contar a Milton na esperança de que ele possa tirar minha irmã de lá, mas não tive coragem, e se ele não acreditar em mim?
Sinto-me sufocar todas as vezes em que me pego pensando nisso, eu prefiro morrer, prefiro não estar mais aqui a ter que ver a minha humilhação espelhada nos olhos dele. Ou dela.
— ... mas ele não me disse mais nada, eu acho que ele tá preparando alguma coisa... — ela fala sem se dar conta que não estou ouvindo, me perco em suas palavras e aproveito para observar seu rosto bonito, seus cachos escandalosos balançando a medida que ela caminha e saltita como uma criancinha, sua pele marrom, tão suave e quente, tão linda que meu coração acelera no peito por saber que ela é minha namorada e por mais que o seu pai tenha dito que somos jovens demais, eu sei que isso que sinto por ela nunca mudará.
— Ai Thales, que susto! — ela grita quando a seguro pela cintura e a puxo para um beijo, ouço o assobio das pessoas a nossa volta, mas não me importo, assim todos na escola saberão que ela é a minha garota.
— Não resisti. — sussurro em seu ouvido antes de entrarmos.
De mãos dadas.

***

Estamos no meio da aula de educação física, para meu desespero, o professor decidiu que hoje vamos nos exercitar, pensei em dizer a ele que não posso por causa da minha mão, mas não quero parecer fraco e sei que um pouco de exercício vai me fazer esfriar a cabeça.
Duda está me evitando, na sala de aula ele está sentado em outro lugar, no intervalo ele ficou com outros moleques idiotas de quem sempre falamos mal. Quando seus olhos se cruzam com os meus ele desvia, no fundo ele sabe que eu já sei, ele sabe que eu acreditei nela e ele sabe que mais cedo ou mais tarde teremos um papo sobre isso.
Sempre fui um cara de poucos amigos, que eu me lembre, Duda sempre fez parte deles, desde pequeno, o garoto riquinho da rua de cima, não que ele seja realmente rico, mas quando se é muito pobre, o pouco vira muito. Para mim, Duda e Ayla sempre foram ricos, o que não deixa de ser uma verdade de certa forma, ambos tem pais amorosos que cuidam deles, e para mim essa é a maior riqueza.
Um novo grupo começa o circuito que o professor montou, Duda está do outro lado da quadra, Ayla está conversando com as pessoas do seu grupo e não está vendo nada. Caminho até onde ele está, a lembrança daquele dia enchendo minha mente de merda, ele a beijou e se eu tivesse visto? Era isso que ele queria? Porque diabos Duda beijou Ayla? E o mais importante, porque mentiu para mim?
Há uma parte de mim que está me pedindo para deixar para lá, ele é meu amigo e deve ter havido um engano, além do mais, não estávamos juntos, mas há a outra parte, a mais forte, a mais violenta, a parte que está nas sombras, junto com as imagens, os sons, junto com o medo e a raiva, essa parte fala mais alto e nesse momento ela diz que eu devo fazer isso, que eu devo mostrar a ele que não deve mexer com ela. Que Ayla é tudo de bom que tenho e se ele tentar tirar ela de mim eu não terei mais nada na minha vida.
— Ei Thales. — ele sorri quando me vê chegar, mas não sorrio de volta. — O que aconteceu lá no campinho? O Die... — não deixo Duda terminar de falar, assim que me aproximo, fecho meu punho e acerto sua cara, bem no meio dela. Ele cai no chão completamente sem noção do que foi que o acertou enquanto abro e fecho a mão ignorando a dor em meus nódulos. Bater dói, bater em que a gente acreditava que era nosso amigo dói ainda mais.
— Mas que porra! — ele grita quando vê o sangue em sua mão. — O que diabos deu em você caralho!
Rapidamente um grupo de pessoas nos cercam e a cacofonia que estava prestes a me enlouquecer se silencia, tenho a sensação de que só existem eu e ele no mundo, e tudo mais é apenas o silêncio. O silêncio que precede a merda.
Me abaixo devagar e inclino meu rosto até chegar bem perto dele, Duda se afasta, mas seus olhos estão fixos em mim.
— Nunca mais chegue perto dela. — coloco meu dedo no seu peito e ele se encolhe com a força com que o acerto. — Se eu souber que você tentou beija-la isso aqui vai parecer um carinho de mãe perto do que vou fazer com você.
— O que está havendo aqui? — o professor se aproxima, mas não me movo.
— Nada não professor. — Duda diz enquanto limpa o sangue com as costas das mãos. Não digo nada, toda a minha concentração está em manter meu punho aberto e longe, bem longe da cara dele.
— Thales Reis para a diretoria, agora!
A coordenadora surge atrás de mim como num passe de mágica, ela me segura pelo braço como se eu tivesse cinco anos de idade, penso em afasta-la, mas desisto, ela precisa fingir que põe ordem nessa droga de hospício, então deixo que ela me guie até a sala da diretoria onde sei que vou me dar mal. Minha mão pulsa, abro e fecho várias vezes, mas a sensação de alivio que sinto ao saber que deixei meu recado para ele faz valer a pena, cada consequência.
O grupo se afasta dando passagem para que possamos sair, algumas meninas vão ajudar Duda a se levantar e meus olhos se fixam em Ayla, ela está olhando para mim, o sorriso que antes parecia ter sido colado em seu rosto agora se desmancha em um tristeza, mas não me importo, nesse momento permito que a parte sombria se satisfaça,  e então eu sorrio.

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Bom dia pessoal!
Hoje é dia de capítulo extra de 8k e esse capítulo tá cheio de emoções.

E as perguntas não param!

Parece que o Thales está finalmente cedendo a escuridão.

Será que nosso menino vai se deixar levar pelo ódio?
Será que Ayla e Milton vão conseguir sustentar ele?

Vamos aguardar os próximos capítulos que prometo que tem muita coisa pra acontecer

P.S. devido a BLACK FRIDAY amanhã não teremos capítulo,  ele será postado na segunda.

Um Milhão de Promessas - DEGUSTAÇÃO Hikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin