CAPÍTULO 19

403 101 46
                                    

*** capítulo sem correção ortográfica ***

Thales

Seus olhos negros como a noite me observam, quero desviar o rosto mas não posso, eu prometi ficar quieto, prometi não dizer nada a ninguém, afinal de contas, quem acreditaria em mim? Ele ri e tenho calafrios ao ouvir o som da sua risada, é como o som da morte que em noites como essa vem me visitar, me torturar, me matar um pouco mais.
Sua mão grossa e áspera puxa minha cabeça com força, quero morrer, imploro mentalmente para que isso aconteça, mas nesse momento tudo o que vejo são seus olhos me consumindo enquanto se diverte com a minha desgraça.
— Fica quietinho garoto e tudo vai ficar bem. — sua voz grossa e maligna invade meus ouvidos e estremeço quando ouço o som das suas calças sendo abertas. A gargalhada que sai da sua garganta é tão alta que tenho a sensação de que qualquer um pode ouvir a sujeira que está acontecendo, então todos saberão, inclusive ela.
Ele se aproxima colocando a mão em meu ombro e me afasto, não... por favor não, já chega, eu quero implorar, quero gritar, quero chorar....

Acordo sobressaltado, há uma mão em minha nuca, segurando-me com força. Empurro-a e me afasto, não consigo respirar, não consigo pensar, me levanto sem saber onde estou, ainda está escuro e estou confuso, olho em volta e vejo a cama de Ayla, o abajur ligado, olho para o chão e a encontro adormecida, o braço que estava em volta de mim está caído para o lado, há travesseiros e um cobertor que ela usou para nos cobrir enquanto dormíamos.
Inclino-me e apoio minhas mãos nas minhas coxas puxando o ar para dentro dos meus pulmões, preciso me acalmar, mas não quero fechar os olhos, o pesadelo ainda está vivo em minha memória e não quero voltar para ele, então observo ela dormir, a curva do seu quadril se eleva sob o cobertor, ela respira suavemente, como só quem tem um sono livre de fantasmas pode fazer.
Me ajoelho a sua frente e puxo o cobertor para cobri-la, seus braços estão gelados e ela se encolhe quando o cobertor encosta em seu pescoço, ela estica um braço, será que está procurando por mim? Será que mesmo dormindo ela ainda pensa em mim?
Balanço a cabeça me afastando dela e sentando na ponta da sua cama, preciso ir embora daqui, não posso correr o risco do seu pai acordar e nos ver assim, ele vai pensar coisas e não quero que ele se decepcione comigo. Não vou suportar se Milton achar que sou um filho da puta. Eu posso ser qualquer coisa, mas eu jamais faria algo com Ayla. Jamais!
Levanto e arrumo a sua cama, coloco os travesseiros de volta no lugar, pego o livro e marco a página que ela parou, não consigo me impedir de pensar se algum dia ela voltará a ler ele para mim, daqui a dois dias tenho um teste e se em nome de Deus eu passar, provavelmente não voltarei mais para minha casa,  e provavelmente para minha amiga.
Me abaixo e retiro o cobertor de cima dela, sua camiseta está levantada e posso ver uma faixa de pele escura exposta, sempre amei sua cor, a forma como sua mão se destaca quando está sobre a minha.
Preto e branco.
Garoto e garota.
O correto, como deveria ser.
Puxo a camiseta para o lugar com cuidado. Passo um braço embaixo da sua nuca e outro em suas pernas e preciso de toda a minha força para conseguir ergue-la, mas quando ela está aninhada em meu colo, me sinto forte e poderoso, capaz de protege-la de qualquer coisa, assim como venho fazendo.
Caminho a curta distância até sua cama maravilhado em como ela parece perfeita em meus braços e quando a abaixo para deita-la seus braços se prendem ao meu pescoço me surpreendendo.
— Você estava acordada o tempo todo? — sussurro e ela sorri ainda de olhos fechados.
— Quase amputaram meu braço agora a pouco.
— Desculpa. Não fiz por mal.
Ayla me puxa para junto de si e me ajoelho no colchão para não a machucar. Me inclino sobre ela apoiando minha testa na sua, seus dedos voltam a brincar com meus cabelos e sinto um arrepio bom quando suas unhas passam levemente por minha nuca.
Eu não entendo porque é tão bom quando ela me toca, mas estou cansado de pensar, então me permito sentir, não me lembro a ultima vez em que foi tão bom ser tocado assim, talvez nunca tenha sido, talvez toque para mim sempre esteja ligado a algo ruim, feio, doloroso.
— Você está tremendo... — ela diz ainda de olhos fechados e fecho os meus me concentrando em seu toque. — Pesadelo?
— Uhum. — me limito a dizer.
— Odeio que você não me deixa te ajudar.
— Você não tem ideia do quanto está me ajudando. — admito quando abro meus olhos e vejo que ela está olhando para mim. Seus olhos caem até meus lábios e preciso umedecer os meus que de repente ficaram secos e trêmulos.
— Acho que esse livro vai ser bem legal. — tento mudar o foco dos meus pensamentos em seus lábios.
— Seu filho da mãe, você dormiu na segunda página. — ela diz e sorrio erguendo o ombro.
— Por isso mesmo, só quando o livro é muito bom que consigo essa façanha.
Ayla espalma sua mão em minha nuca e meu coração dispara em antecipação, sei o que ela quer, é o mesmo que eu desejo desde o dia em que a beijei naquela construção abandonada.
— Thales... — ela me chama, um pedido embutido em meu nome que desejo realizar, mas que tenho medo. — Por favor... — ela implora e me inclino sobre seu corpo aproximando nossos rostos, tocando o seu nariz com o meu, sentindo o seu hálito quando minha boca toca a sua, e antes que eu possa me arrepender de algo, eu a beijo, com todo o desejo do meu coração e do meu corpo, ela me puxa para cima de si e preciso me segurar para não esmaga-la enquanto minha boca se funde na sua, minha língua percorre o interior da sua em busca de mais, o beijo é esquisito, meio atrapalhado e afoito, mas é apenas meu segundo beijo e tenho certeza de que Ayla também não beijou ninguém, eu saberia se ela tivesse beijado.
Antes que as coisas possas se tornar mais profundas do que apenas um beijo eu me afasto e sento apoiando minhas mãos em suas coxas, estou ofegante e meu coração bate tão forte que sinto que vou morrer, mas dessa vez é uma sensação boa, eu quero ser tocado, quero beija-la, fazer carinho nela, quero abraça-la e dizer que gosto dela. Dessa vez é certo e bonito, é algo de que vou me lembrar para sempre.
— Me desculpe. — passo a mão nos meus cabelos e desvio os olhos dos seus peitos que sobem e descem com a força da sua respiração.
— Porque você está sempre pedindo desculpas? — ela se senta de frente para mim enquanto aguarda a minha resposta.
— Porque isso não deveria ter acontecido.
— Você não queria me beijar? — ela parece magoada enquanto me observa por baixo dos cachos rebeldes que escondem seu rosto.
Sem saber como explicar eu a seguro em minhas mãos e puxo seu rosto para mim, quando minha boca toca a sua. Dessa vez não sou afoito, nem bruto ou desesperado, eu a beijo lentamente, como se fosse o último beijo da minha vida, absorvo seu gosto, a textura da sua boca, o som que ela faz quando minha língua penetra no seu interior.
— Isso responde a sua pergunta? — digo quando o beijo termina mas não consigo me afastar ainda. Ayla move a cabeça pra cima e pra baixo e sorrio satisfeito.
— Não quero que peça desculpas para mim, nunca mais.
Ela passa a mão em minha cintura e me abraça por um instante, depois deixa um beijo em meu ombro e se afasta voltando a deitar na cama.
— Agora vamos dormir, estou com sono.
Observo-a me olhar por um instante, sei que deveria ir embora, que isso só vai piorar tudo, mas quando ela me estende a mão tudo o que posso fazer é aceita-la e me deitar ao seu lado, ficamos um de frente para o outro, uma distância segura separa nossos corpos e eu volto a cobri-la com o cobertor, protegendo seu corpo do frio e de mim. Ayla estica a mão e segura a minha, seus dedos entrelaçados aos meus.
O certo e o errado.
O limpo e o sujo.
O belo e o feio.
— Dorme Thales. — ela diz de olhos fechados e a voz pesada de sono.
— Eu já vou. — minto porque a ultima coisa que quero nessa vida é fechar os olhos e deixar que as sombras voltem a dominar a minha mente.
— Estou feliz que você voltou. — ela sussurra, mas tenho quase certeza de que ela não está mais acordada.
— Eu não voltei Ayla. — admito, só para sentir meu coração doer com a verdade e me preparar para o fim.

Um Milhão de Promessas - DEGUSTAÇÃO Where stories live. Discover now