CAPÍTULO 15

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*** capítulo sem correção ortográfica ***

Ayla

Crescer é algo inevitável, não podemos conter, é como água que escorre por nossos dedos, sutil, suave e poderosa. Crescer deveria ser belo, mas crescer dói, porque enquanto ainda somos crianças, há um véu que nos protege da realidade e da dor, ele nos impede de ver o que realmente está acontecendo, como um anestésico. Mas a medida que esse véu se desmancha, a realidade nos atinge, mostrando o quanto somos frágeis.
Não me sinto mais criança, embora ainda não seja uma adulta, hoje tenho uma visão diferente da vida. oito meses se passaram desde aquela tarde chuvosa em que uma garota que acreditava ser capaz de salvar o mundo deu o seu primeiro beijo no seu melhor amigo.
Oito meses desde que Thales me deixou naquele beco e tive que encontrar forças para voltar para casa.
Oito meses em que aprendi a viver sozinha e agora eu vejo tudo com mais clareza.
O véu se desfez, a dor se alojou em meu peito e não tem intenção de me deixar.
— O que você quer fazer no seu aniversário? — meu pai pergunta enquanto jantamos, na verdade eu acho que é a segunda vez que ele me faz a mesma pergunta, ou será que é a terceira?
— Oi? — pergunto confusa e dispersa.
— Filha, estou ficando preocupado com você. — ele solta o garfo no prato e me olha daquele jeito doce que ele sempre faz quando sente que esse é um daqueles momentos em que minha mãe deveria estar aqui.
Sinto falta da minha mãe, nos últimos meses senti tanto a falta dela que achei que poderia morrer de tanta saudades, sinto falta de alguém com quem conversar, de poder contar sobre os meus sentimentos por um menino que se partiu ao meio e se esconde em uma carcaça fria e maldosa, mas que não consegue encarar ninguém nos olhos porque no fundo tudo o que ele faz é um jeito estranho e  doloroso de pedir socorro.
— Não tem com que se preocupar pai. — forço um sorriso em meus lábios enquanto o encaro, sei que estou me esforçando, continuo sendo uma boa filha, uma excelente aluna, uma irmã dedicada, uma boa dona de casa, supro a falta que minha mãe faz e não me importo com isso, vivi a vida inteira assim e para mim está bom, só preciso encontrar uma maneira de fazer com que o meu coração encontre um novo ritmo para bater. Principalmente na presença fria do novo Thales.
No fim das contas ele não foi reprovado, graças ao péssimo estado da educação, mas ele também não se importa mais com a escola, passa a maioria das aulas sentando lá no fundo, isolado de todos, no intervalo ele mal fala com Duda, e desaparece, e isso tem se repetido em todos os lugares.
As vezes acho que tudo isso que estou sentindo é um pouco de exagero, que a adolescência me tornou uma garota dramática e que o que sinto por ele no fundo é apenas uma mágoa por ter sido abandonada. Eu adoraria que fosse realmente isso.
— Sou seu pai, é meu dever me preocupar com você.
Respiro fundo em busca de alguma coisa para dizer a ele, mas não encontro nada então apenas agradeço e volto a comer.
— Então, seu aniversário é daqui a dois dias e você ainda não me disse o que quer.
Eu quero o Thales de volta.
Quero poder abrir a janela para que ele entre no meio da noite, quero ouvi-lo dormir enquanto leio, quero seu abraço caloroso e tímido, quero o sorriso largo e bonito que ele só dava para mim, quero minha vida de volta.
No começo repassei cada uma das nossas conversas, revivi o nosso beijo tortuosamente, chorei novamente a cada vez que me lembrei da forma como ele foi embora. E hoje, a cada nova semana sinto que é real e definitivo, ele não vai voltar, não como era, não para mim.
— Não quero nada pai, de verdade. — digo porque infelizmente não há nada que seu dinheiro possa comprar para mim.
— Tudo bem então, se é o que você quer. — Seus ombros caem derrotados e terminamos o jantar em silêncio. Como fazemos quase todas as noites.

***

Não me recordo a ultima vez que estive aqui, se dependesse apenas de mim, muito provavelmente eu não voltaria nunca mais, mas devo isso a Duda, ele tem sido incrível nesses dias sombrios em que passo a maior parte do tempo chorando, é ele quem tem suportado minhas lágrimas e ouvido todas as minhas lamentações sobre o nosso amigo e quando ele me ligou na noite passada dizendo que haviam ganhado o campeonato eu soube naquele momento que eu não poderia dizer não.
Assim que chego ao campo de futebol onde passei os últimos anos da minha vida a primeira coisa que vejo é Thales, ele está de costas para mim, mas o reconheço em qualquer lugar, embora tenha crescido muito no último ano, Thales tem uma elegância que não é comum a garotos da sua idade.
Quinze anos... daqui a alguns dias será o nosso aniversário, sonhei com essa data por toda a minha vida, durante alguns anos cheguei até a me imaginar usando um daqueles vestidos bufantes enquanto Thales me girava pelo salão como uma cinderela negra. Mas na grande maioria das vezes apenas imagino nós dois assoprando as velinhas de nosso bolo juntos. Como não foi no ano passado, não será nesse e provavelmente, nunca mais.
Olho para ele aproveitando o fato dele estar de costas e não me ver, ele está conversando com um homem, na verdade está ouvindo o que o homem diz, as vezes ele move a cabeça concordando e embora esteja magoada com ele, sinto uma alegria absurda ao imaginar que esse homem pode ser o inicio do seu futuro.
— Você veio. — Duda se aproxima, ele tem um copo de cerveja em sua mão e seu rosto está vermelho.
— Claro que vim, eu disse que viria.
Duda abre um sorriso enorme e bebe um longo gole da cerveja enquanto seus olhos seguem exatamente para o lugar onde eu estava olhando.
— Ele ganhou o troféu de melhor da partida e o de melhor jogador do campeonato.
— Ele é incrível. — falo baixinho e quando Duda suspira eu acrescento. — Você também, claro.
— Eu fui o artilheiro. — ele diz cheio de si.
— Não diga...  — brinco e ele se enche de orgulho. — Vocês serão os próximos Robinho e Diego do Brasil.
— Não, eu quero ser mais do que eles.
Reviro os olhos e deixo pra lá, as vezes a ambição de Duda me incomoda um pouco. Mas sei que ele é um bom garoto.
— Aquele lá é o olheiro que vocês estavam vendo? — aponto para o homem de cabelos grisalhos que continua falando com Thales.
Duda balança a cabeça enquanto termina de beber toda a cerveja.
— É sim. — ele diz com desdém.
— Ele ainda não falou com você?
— Falou sim.
— E qual o problema?
— Ele falou com quase todos os moleques, vamos passar por uma peneira.
— Duda isso é maravilhoso. Qual o clube?
— Santos.
— Ah meu Deus... parabéns! — Não me contenho e envolvo meus braços em torno do seu pescoço. Duda joga o copo vazio no chão e me abraça segurando-me pela cintura e me erguendo do chão, o abraço demora um pouco mais do que deveria e preciso me esforçar para me afastar.
— Obrigado. — ele fala com uma voz meio sonolenta e tenho vontade de dizer a ele que não deveria estar bebendo, mas hoje eles estão comemorando e não quero ser chata.
Olho na direção de Thales e ele está olhando para nós, sinto meu peito se agitar de saudades, e um fio de esperança se acende dentro de mim. Talvez a alegria possa traze-lo de volta para mim.
— Santos então? — digo quando nos sentamos um do lado do outro como nos velhos tempos.
— Pois é, acho que você vai ficar um tempo sem ver a nossa cara. — ele pega o copo de plástico e começa a desfiar os pedaços.
— Vai ser bom tomar um pouco de sol, quem sabe assim você deixa de ser tão branquelo. — brinco e ele dá uma gargalhada jogando a cabeça para trás. — Quando vai ser o teste?
— Daqui a uma semana, um ônibus vai vir buscar a gente.
— Eu estou tão feliz por vocês. — apoio minha mão em seu braço e ele segura minha mão no lugar.
— Obrigado por ter vindo. — Duda fala com uma voz que me deixa desconfortável. — Não, para, me escuta. — ele diz quando tento tirar minha mão da sua.
— O que?
— Eu sei que você tá chateada com o Thales, mas eu quero que você saiba que não estaríamos aqui se não fosse você. — balanço a cabeça negando. — Sério, eu e o Thales só estamos aqui porque você sempre esteve conosco.
— Vocês só estão aqui porque vocês são incríveis.
Ele sorri para mim enquanto seu polegar faz um carinho gentil em minha mão.
— Você é especial demais Ayla.
— Obrigada. — Agradeço sentindo meu rosto esquentar.
O sol está se pondo, deixando o céu em um laranja forte e escurecendo alguns cantos, uma brisa fresca espalha algumas mechas do cabelo claro de Duda em seu rosto e ergo a mão para afasta-la, não há nada além de carinho fraterno em meu gesto, mas ele parece não achar isso e antes que eu possa sequer me preparar, Duda se inclina e me beija.
É um beijo rápido, apenas o toque gelado da sua boca com gosto de cerveja na minha, mas é o suficiente para que eu me assuste e caia para trás, puxando-o comigo.
— Mas que merda Ayla. — Duda se levanta estendendo a mão para me ajudar a levantar.
— Você me assustou. — digo com uma voz irritada e ele sorri.
— Me desculpa, eu só estou feliz. — ele ergue os ombros como se não fosse nada demais beijar a amiga.
— Não se sai por ai beijando pessoas só porque está feliz, não faça mais isso. — ordeno e ele coloca a mão em continência na frente do rosto.
— Sim senhora!
Limpo minhas roupas enquanto tento processar o que acabou de acontecer, Duda me beijou e preciso acreditar que foi culpa do álcool, ele não quis fazer isso, principalmente com Thales lá embaixo nos vendo. Ele não é assim, nunca foi, Duda é nosso amigo, ele jamais faria algo que magoasse Thales, a menos que isso não o magoe.
Desvio meus olhos para o lugar onde ele estava um minuto atrás, mas graças a Deus ele não está mais lá.
Talvez ele não tenha nos visto.
Ou talvez... ele realmente não dê a mínima para isso.

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Olá pessoal!!!
Segunda feira é dia de capítulo e eu acho que vocês terminaram esse ainda mais nervosas né kkkkk
Ahhh Thales Thales... porque se esconde desse jeito?
Alguém suspeita de algo?
Conta aqui pra mim.
Beijos e rumo aos 6k.

Um Milhão de Promessas - DEGUSTAÇÃO Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt