CAPÍTULO 17

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*** capítulo sem correção ortográfica ***


Ayla


Já passa das nove da noite quando chego em casa, Duda permanece o caminho inteiro em silêncio, seu pai não gostou nem um pouco de ter sentido cheiro de álcool em seu hálito e Duda não gostou de ter sido repreendido na minha frente.
Não falamos mais sobre o beijo que ele me deu, não sei o que houve e prefiro acreditar que foi culpa da quantidade de álcool que ele ingeriu do que imaginar que ele por algum motivo, tenha tido vontade de me beijar.  De jeito nenhum!
— Prontinho, está entregue. — o pai do Duda se vira para trás e sorri gentilmente para mim quando para o carro, agradeço e me despeço dele. Duda sai do carro e me acompanha até o portão, posso sentir o constrangimento crescer entre nós enquanto caminhamos em direção a minha casa e odeio essa situação estranha.
— Ayla. — ele me chama sem me olhar nos olhos e estremeço em antecipação.
— Oi Duda.
— Me desculpa, eu não devia ter feito aquilo, eu acho que bebi demais e...
— Tudo bem. — espalmo minha mão em seu peito para pará-lo de falar, mas no instante em que ele olha para minha mão eu a removo me arrependendo de tê-lo tocado.
— Eu não quero que você fique brava comigo nem nada. — ele diz e posso sentir o arrependimento em sua voz para meu alivio.
— Você acha que o Thales viu?
— Isso importa?
— Claro que importa, ele é nosso amigo e...
— Na boa Ayla, eu não acho que o Thales está ligando muito para o que acontece, cada dia que passa ele tá mais estranho e...
— Ele ainda é o nosso amigo. — interrompo-o irritada.
— Será que ainda somos amigos dele? — Duda abre os braços exageradamente. — Cadê ele? Porque ele não tá aqui?
Abro a boca para falar, mas desisto, talvez ele tenha razão, o garoto que conheço desde criança jamais nos excluiria da sua vida.
— Vamos esquecer que isso aconteceu tudo bem?
Duda bufa batendo os braços ao lado do seu corpo e assente, me sinto um pouco triste porque no fundo eu sei que ele tem razão, ele não está aqui e provavelmente nunca mais estará.
A porta da sala se abre e meu pai sai para meu alivio.
— Ei garoto, parabéns! — ele cumprimenta Duda com um abraço caloroso e meus olhos se voltam para o outro lado da rua, me pergunto se ele está lá dentro, se está nos vendo, se não sente a nossa falta.
— Obrigado senhor. — Duda diz educadamente.
— Pai ele e o Thales vão fazer um teste para o Santos. — digo animada e logo um sorriso enorme surge nos lábios com sabor de cerveja do Duda.
Deus preciso me esquecer desse beijo.
— É mesmo? Nossa, mas isso é maravilhoso.
Logo o pai de Duda parece e eles conversam sobre como estão esperançosos em ver Duda no grupo de jogadores do clube e meu pai lhes enche de palavras motivadoras.
Alguns minutos depois eles se vão e antes de entrar meus olhos caem para a casa do outro lado da rua, tudo está escuro e silencioso, como se não existisse mais ninguém morando lá e um calafrio se espalha pela minha espinha quando penso nos segredos que se escondem dentro daquelas paredes tristes que abriga meu amigo.
— Está tudo bem filha? — meu pai pergunta quando me vê olhando para a casa dele.
— Está sim pai, vamos entrar? — meu pai passa o braço em meu ombro e não diz mais nada, embora eu saiba que ele também está preocupado com a evolução sombria do novo Thales.


***


O livro que estou lendo fala exatamente sobre amigos, um grupo de pessoas diferentes que se reconhecem nas fraquezas e medos um do outro e escolhe ama-los mesmo assim. É  um daqueles livros que aquecem nosso coração e nos fazem chorar, cheio de mensagens incríveis e que nos ensina que as pessoas são muito mais do que elas nos deixa ver, é lindo e tenho certeza de que ficará para sempre em meu coração. Quando chego a última página estou em lágrimas e embora eu saiba que a história em si é suficiente para me fazer chorar, sei que um pouco disse se dá pelo fato de que Thales sequer veio falar comigo hoje.
Tudo bem, eu sei que estamos nessa situação esquisita, que nossa amizade está numa droga de limbo e que mal falamos meia dúzia de palavras nos últimos oito meses,  mas eu tinha certeza que hoje ele estaria mais feliz e que talvez assim pudéssemos deixar tudo pra trás e resolver as coisas antes que ele vá embora definitivamente, porque eu sinto, no fundo do meu coração, que ele vai embora, é só uma questão de tempo.
Vou ao banheiro lavar o rosto depois de chorar por quase dez minutos, meus olhos estão inchados e começo a rir imaginando o que meu pai diria se me visse assim, embora ele saiba que sou uma chorona, ele nunca compreende quando choro por causa de um livro.
Estou me enganado, fingindo que é por causa desse livro.
Vou a cozinha atrás de algo para comer, me decido por um pacote de Oreo que levo  para meu quarto. É a bolacha favorita de Thales e me odeio por ainda pensar nele desse jeito, as vezes tenho a impressão de que nunca vou superar o que aconteceu entre nós.
Entro decidindo se assisto algum filme ou se começo um novo livro, estou sem sono, agitada e emotiva, uma péssima combinação e não quero ter tempo para pensar em nada.
Assim que fecho a porta solto um grito quando noto a presença de alguém.
— Thales... — sussurro sem acreditar que ele está aqui, nas sombras da escuridão,  ele se parece maior do que a oito meses atrás,  mesmo de costas para mim, ainda reconheço seu corpo, sua respiração,  seu cheiro.
— Não conheço esse. — Ele segura um livro ainda de costas para mim.
— Tem muita coisa aí que você não conhece.
Thales balança a cabeça enquanto folheia o livro e eu estou aqui, apoiada na porta, segurando o pacote de bolacha como se ele pudesse salvar a minha vida.
Eu deveria estar com raiva dele, deveria estar magoada por ele ter me afastado por todos esses meses, mas estou tão feliz de te-lo aqui que não tenho forças para odia-lo nesse momento.
Talvez depois,  quando ele for embora novamente. Porque eu sei que ele vai. Eu sinto.
— Eu te assustei?
— Sim. — sussurro me afastando da porta e colocando o pacote na mesinha ao lado da cama. Thales finalmente se vira e lamento por estar tão escuro, queria poder ver seus olhos, compreender o que está acontecendo.
— Desculpa. — ele diz e odeio esse clima estranho entre nós, eu não me lembro de me sentir sem graça na sua frente antes e nem de ver ele tão deslocado no meu quarto.  A saudade machuca e me surpreendo porque ele está aqui, na minha frente, se eu der dois passos e estender a minha mão posso tocá-lo, mas é como se isso só fizesse com que a falta que sinto de tudo o que fomos aumente.
— Tudo bem. — digo tentando não demonstrar o quanto estou afetada com sua presença, mas se ele ainda me conhece, não precisa ver meu rosto para saber que estou nervosa.
— Eu só... precisava te ver. — ele passa a mão nos cabelos sem corte e meu coração bobo se agita com a possibilidade dele estar voltando para mim.
— Eu estava lá hoje.
— É,  eu sei. — Sua voz parece tão séria, dura, triste. — Eu te vi lá.
Meus batimentos dobram, ele viu? O que ele viu? Ah não...
— É por isso que você está aqui? — minha voz soa frágil, insegura, baixa.
Thales caminha até que seu rosto esteja livre das sombras, ele ainda está a uma certa  distância, mas já posso sentir seu calor aquecendo meu corpo trêmulo e agitado.
— Eu sinto muito, Ayla. — ele fala, os olhos castanhos fixos nos meus, como se ele tivesse ensaiado essa frase ao longo dos últimos oito meses e finalmente estivesse aliviado de poder se livrar delas.
as três palavras que esperei ouvir desde o momento em que ele me deixou naquele beco depois de me beijar, mas no instante em que elas saltam da sua boca, perdem toda a força que tinham, porque sinto que elas são vagas demais para tudo o que ele me fez.
— Pelo que você sente , Thales? — questiono-o cruzando os braços, tentando me defender dos sentimentos que permeiam meu quarto e que fazem minha cabeça girar.
— Por tudo. — ele fala ainda me encarando.
— Me desculpe, mas isso é vago demais para mim.
— Eu sabia que não seria tão fácil.
— Fácil? Você me ignorou por oito meses e acha realmente que um simples sinto muito resolve tudo Thales? — sinto a magoa aumentar dentro de mim ao ponto de meus olhos se encherem de lágrimas, mas não as permito caírem, não vou chorar na frente desse menino idiota que machucou meu coração e acha que pode vir aqui  e então tudo fica bem.
Não mesmo, não dessa vez.
— Por Deus Ayla. — ele esfrega o rosto e caminha até a janela, por um instante me arrependo de pressiona-lo, tenho medo que ele vá embora novamente, sei que Thales não é bom com palavras e muito menos com sentimentos, sei que algo muito ruim aconteceu com ele e quero com todo meu coração compreender o que foi, mas isso não muda o fato de que estou magoada.
— O que você quer que eu fale? — ele resmunga baixinho como se estivesse lutando contra a vontade de se calar.
— Sério isso? Você não sabe o que falar? 
Ele demora um instante para responder e por um momento sinto que ele sequer sabe o que está fazendo aqui.
— Eu sei, quer dizer, eu acho que sei, mas não quero. — ele fala e me confundo com suas palavras.
— Será que você pode ser um pouco mais especifico?
Thales se vira de frente para mim apoiando a cabeça na parede ao lado da janela que está fechada e trancada.
— Eu sei que devo um pedido de desculpas por causa daquele dia.
— Que dia?
— Porra, Ayla. Você sabe qual o dia.
— Não eu não sei  acredite, foram tantos dias que eu não sou capaz de adivinhar sobre qual das vezes em que você foi um babaca, está se desculpando, e não fale palavrão no meu quarto. — o repreendo mais por estar chateada do que por causa das suas palavras.
Thales bufa, esfrega o rosto mais uma vez e olha para o teto antes de voltar a falar.
— O dia em que te beijei.
Um som escapa da minha boca, ele se parece com uma risada, um gemido de frustração,  raiva, ódio,  tristeza.
— E você veio aqui para pedir desculpas por ter me beijado? — meu coração se aperta no peito e me odeio por conseguir estar ainda mais ofendida.
— Não, Ayla... — ele resmunga um palavrão baixinho e esfrega o rosto, ele está pressionado, tenso e confuso e nunca imaginei que um dia eu o faria se sentir assim. — Eu sei que deveria, quer dizer, eu sei que não deveria ter te beijado, mas eu não me arrependo.
— Ah... — aperto os lábios e me concentro nele, na sua dificuldade em falar, na forma como ele parece lutar contra algo que o impede de estar aqui comigo. Busco por baixo do corpo atlético, magro e alto, o garoto que me deixou na chuva depois de roubar meu coração,  o dono das minhas palavras, o guardião das minhas promessas. Mas não consigo encontra-lo, Thales vem fazendo um bom trabalho em se esconder.
— Eu peço desculpas por ter te deixado aquele dia, eu não queria, quer dizer. — ele esfrega a nuca e resmunga em frustração. — Eu não queria ter te deixado.
— Então porque me deixou?
— Porque eu gosto de você, de verdade.
Sinto como se uma onda elétrica atingisse meu corpo e suas palavras ecoam em meus ouvidos até  chegarem ao meu coração.
Eu gosto de você...
— Eu não entendo porque você fez isso.
Eu gosto de você...
— Porque foi preciso.
— Porque isso agora? Porque você decidiu que tem que se afastar de mim e agora veio aqui me assombrar como a droga de um fantasma?
Thales se afasta da parede e vem até mim até estar tão perto que posso notar a agitação em seu corpo.
— Porque eu sinto a sua falta, muito mais do que eu imaginei que poderia suportar, porque eu não aguento mais ver você e o Duda conversando e não saber o porque você está rindo, porque eu sinto falta de ouvir você ler seus livros para mim e me ajudar com a matéria mesmo que eu não dê a mínima para isso, porque eu sinto falta de estar com você.
— E você precisou de oito meses para perceber isso?
— Eu precisei de apenas oito segundos, no instante em que virei a esquina naquele dia eu já estava arrependido.
Ele se aproxima mais, apoiando sua testa na minha, ergo minha mão e toco seu peito e sinto ele se retesar com o meu toque, como se fosse doloroso senti-lo, mesmo assim não me afasto, ao invés disso, espalmou minha mão sobre sua camiseta,  e diferente de quando toquei o Duda, agora me sinto viva, acesa de um jeito que me faz querer toca-lo mais e mais
— Então porque não voltou? Porque me deixou sozinha depois de me beijar? — Pergunto encarando o desenho na camiseta.
— Porque eu não quero te machucar.
— Você já me machucou, é o que você vem fazendo nos últimos meses. — ergo os olhos e observo seu rosto e como senti saudades de admirar suas sardas, os risquinhos esverdeados da sua iris, a cicatriz embaixo da sobrancelha, Thales... o meu amigo.
— Eu só estava tentando te proteger. — ele sussurra como uma confissão.
— Não precisava, eu sou forte. — meus dedos se fecham em torno do tecido, como se assim eu pudesse segura-lo junto a mim.
— Ninguém é forte quando o mal o domina Ayla, ninguém.
Thales apoia sua bochecha na minha, estamos tão perto, posso sentir seu coração sob meus dedos e o calor da sua bochecha na minha. Mas ele, o meu melhor amigo, o garoto por quem me apaixonei, não sei onde está e isso me desespera.
— Se você suporta,  eu suporto.
Thales estremece com minhas palavras,  como se elas o machucasse e então ele se afasta,  as mãos em punho ao lado do corpo, a cabeça balançando em negação.
— Não diga isso, nunca mais, não diga isso, não... não, você nãosuportaria... não... eu nunca vou permitir... nunca... — Ele anda de um lado para o outro, as mão nos cabelos, puxando-os em agonia.
— Thales! Ei olhe para mim. — Seguro seu rosto enquanto o chamo.
— Eu sinto tanto Ayla.
— Tudo bem,  já passou.
— Não,  não passou,  nunca vai passar, enquanto eu viver, nunca vai passar.
— Eu não ligo, já disse, não me importo, não tenho medo, só preciso que você confie em mim. — Olho dentro dos seus olhos implorando para que ele acredite em minhas palavras.
— Eu não queria te meter nas minhas merdas e ultimamente são tantas que eu nem sei como lidar com elas, eu queria não ter uma vida de bosta, queria que pudéssemos ser apenas Thales e Ayla como quando éramos crianças, queria me sentir seguro como me sentia naquela época, mas agora tudo mudou e eu sei que não deveria estar aqui, o melhor seria se eu nunca mais falasse com você...
Antes que ele continue falando envolvo meus braços em torno de sua cintura e o abraço com força,  ele estremece, mas não me afasta, apenas aceita enquanto respira com dificuldade.
— Hoje quando te vi com o Duda senti tanta saudade.
Será que ele viu quando o Duda me beijou? Será que ele viu quando me afastei com tanta força que até cai? Porque diabos ele precisa se afastar de mim? São tantas perguntas que quero fazer, mas não consigo fazer com que nenhuma delas saiam da minha boca, ao invés disso eu inclino meu rosto para seu peito e inalo seu cheiro de terra e Thales, fecho meus olhos e me concentro nas batidas do seu coração e fico em silêncio absorvendo esse momento.
— Você não precisa sentir saudades, eu ainda estou aqui. — digo baixinho. — Eu sempre vou estar aqui. Sempre.
Thales respira fundo, com tanta força que seu peito se expande e o som do seu coração acelerado parece ainda mais forte e alto, e então, como se finalmente compreendesse minhas palavras, ele me abraça,  e sinto como se tudo voltasse ao normal.

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Quem quer abraçar esse menino levanta a mão 🙋‍♀️

Acho que é real, Thales é o garoto mais machucado da minha história e a forma como ele se fecha em uma casca impedindo que as pessoas o alcance torna tudo tão mais sofrido...

Mas somos leitores e como tal, somos fortes e apaixonadas por Thales, estamos prontas para dar colinho para ele, não é?

Brincadeiras a parte, preparem os corações que os próximos capítulos serão dolorosamente reveladores.

Não deixem de votar, comentar e convidar mais pessoas a conhecer essa história.

Beijos e um ótimo fim de semana a todos ♡♡♡

Um Milhão de Promessas - DEGUSTAÇÃO Where stories live. Discover now