CAPÍTULO 25

327 95 21
                                    

*** capítulo sem correção ortográfica ***

Ayla

Se eu pudesse descrever o olhar de alguém segundos antes de morrer com toda a certeza do mundo seria o olhar de Thales quando ele me viu em sua casa. Eu sei que poderá passar anos e eu nunca me esquecerei dele. Eu nunca o vi assim tão assustado, tão fora de si.
Mesmo agora que estamos na minha casa, que ninguém pode me machucar ele ainda parece prestes a vomitar.
— Thales. — o chamo, mas sinto como se ele estivesse em outro mundo, tão distante que não consigo alcança-lo.
Sem pensar, passo meus braços em torno do seu corpo, ele treme tanto que acho que está tendo algum tipo de surto ou algo parecido, aperto meus braços e deito a cabeça em seu peito tentando aquece-lo, mesmo que a temperatura lá fora esteja agradável.
— Thales fale comigo, você está me assustando. — digo com a bochecha ainda pressionado em seu peito. Ele me afasta e segura meu rosto em suas mãos, o cheiro forte de sangue me causa náuseas, mas mantenho meus olhos fixos nos dele.
— Ayla por favor eu preciso que você me prometa que nunca mais vai voltar lá. — ele pede enquanto olha dentro dos meus olhos e tudo que consigo ver é o medo em seus olhos. — Por favor, por favor Ayla, por favor.
— Tudo bem Thales, eu estou bem.
Não digo a ele que não gostei da forma como seu padrasto me olhou, talvez seja apenas uma coisa da minha cabeça, estou nervosa e saber de todas as coisas que ele já fez em Thales deve ter influenciado meu julgamento, no fundo eu sei que ele não seria capaz de algo tão terrível. Afinal de contas ele tem uma filha e Thales... enfim, não sei mais o que estou pensando.
— Não volte lá nunca mais, não importa o que aconteça, não importa o que te digam, não volte lá, não olhe naquela direção, aquele lugar é o inferno e tudo o que eu peço é que se mantenha longe de lá.
— Mas e você Thales. — pergunto segurando seus pulsos e tentando acalma-lo com meu toque.
— Eu já estou morto Ayla, não há nada que ele possa fazer que me fará mal.
— Não fale assim. — sinto as lágrimas pinicarem meus olhos enquanto absorvo suas palavras. — Você está me assustando. — continuo passando meus polegares em seus pulsos tentando tranquiliza-lo, mas ele não consegue se acalmar.
— Deus... quando eu vi você lá dentro com aquele maldito eu pensei...
Ele volta a me abraçar, suas mãos passeando por minhas costas, minhas costelas, meu quadril, como se estivesse em busca de algum machucado ou algo assim.
— Não aconteceu nada, sua mãe logo se levantou e veio para a sala e depois a Tati chegou e ficamos... conversando.
Ele não diz mais nada, apenas me abraça como se precisasse do meu calor para viver, seus tremores não diminuem e quando suas pernas ameaçam ceder eu me afasto passando seu braço por meu ombro.
— Acho melhor você se sentar um pouco. — eu tento leva-lo para o sofá, mas Thales nega com a cabeça.
— Banheiro. — ele começa a falar, mas não conseguimos chegar a tempo, Thales começa a vomitar em si mesmo e cai no chão, grito assustada e sem saber o que fazer, corro até a sala e tranco a porta com medo de que alguém apareça. Alguém não, Sandro.
Os sons que saem de sua boca são horrivelmente dolorosos, ele se curva e seu corpo sofre espasmos enquanto ele coloca para fora tudo o que tem dentro dele, o que não é muito. Quando ele termina não consegue sequer se levantar, seu corpo parece ainda mais trêmulo e me abaixo ao seu lado ignorando o cheiro horrível.
— Thales o que você fez? — afasto seus cabelos úmidos do rosto. — Por favor me diz o que fazer para te ajudar.
— Eu quero morrer Ayla, eu só quero morrer. — ele choraminga e é a primeira vez na vida que vejo a voz do meu amigo falhar dessa forma, começo a chorar enquanto ajudo-o a se levantar e o levo para o banheiro, estamos sujos e apavorados e nesse momento eu não sei quem treme mais, ele ou eu.
— Vem cá, eu vou te ajudar. — coloco-o sentado no vaso sanitário e começo a tirar sua roupa. De todas as vezes em que imaginei o momento em que minhas mãos estariam trabalhando em suas roupas, nunca, jamais eu pensei que seria por algo assim.
— Ayla não... — ele sussurra quando começo a puxar sua calça, mas não me importo, ele precisa se lavar.
— Vamos Thales, me ajuda aqui. — ele se ergue apenas o suficiente para que a calça de moletom possa ser retirada e então aqui está ele, o meu Thales, usando apenas uma cueca, o hematoma em seu braço e na lateral do seu corpo ainda vivo, o rosto pálido, os lábios sem cor, as mãos sangrando, a carne em tiras penduradas em seus dedos. Uma das imagens mais tristes que já vi na minha curta vida.
— Me desculpe. — ele diz quando consigo coloca-lo dentro do box. — Me desculpe Ayla. — ele repete arrasado quando me coloco na sua frente impedindo seu corpo de desmoronar.
— Shhhh pare de pedir desculpas, eu já disse. — ligo o chuveiro sem me importar se estou ficando toda molhada, apenas controlo a temperatura até que esteja agradável e o abraço sentindo seu corpo trêmulo contra o meu, o peso da sua dor sobre mim, a sua tristeza como água, penetrando sob minhas roupas, molhando minha pele e me fazendo chorar.
Thales apoia a cabeça em meu ombro, seus lábios próximos da minha nuca, a respiração pesada causando arrepios em minha pele enquanto minhas mãos molhadas acariciam suas costas nuas.
— Eu vou pegar o sabonete. — me afasto dele e pego a barra do outro lado do box, Thales se senta no chão, em meio a poça rosada que se forma ao nossos pés, me abaixo na sua frente e pego uma das suas mãos nas minhas, ele ainda treme muito, mas está diminuindo.
— Minha vó sempre diz que sabonete é ótimo para evitar infecções. — passo a barra branca em seus machucados e a espuma rosada se que forma, faz meu estômago embrulhar.
Thales permanece em silêncio, os lábios entreabertos, o rosto encoberto por seus cabelos que caem sobre ele.
— Está doendo muito? — pergunto quando chego ao dedo mais machucado, ele apenas nega com a cabeça enquanto olha para mim.
Quando termino de lavar seus dedos me aproximo dele, meu corpo inteiro sobre o jato d’agua, minha camiseta branca está encharcada e sei que ele está vendo meu sutiã, mas não me importo, passo o sabonete por seus ombros, seu pescoço, seus braços e peito, em movimentos circulares encho seu corpo de espuma e gostaria de limpar muito mais do que seus machucados, gostaria de poder limpar o que o intoxica seu coração.
Puxo seu corpo para debaixo do jato e esfrego seu cabelo com meu shampoo, ele fecha os olhos e aproveito para acariciar seu rosto bonito, sinto seus dedos tocarem minha cintura quando me inclino para beijar sua boca, sinto suas mãos se fixarem em meus quadris quando o beijo se aprofunda, sinto meu corpo se moldar ao seu quando ele me puxa para que eu possa sentar em seu colo. Sinto meu coração derreter no peito quando ele me abraça, não há nada demais nesse abraço, apenas a necessidade silenciosa de estar perto de alguém. Mas é o abraço mais importante da minha vida.
Quando o banho termina entrego uma toalha limpa para Thales e saio para que ele possa se secar, a casa está toda suja de sangue e vomito e faltam apenas uma hora para meu pai chegar com os meninos, corro para limpar tudo antes que Thales saia, meus olhos se enchem de lágrimas quando recordo a forma como ele desabou em meu braços.
Vou até o quintal jogar o lixo fora e quando tenho certeza de que Thales não pode me ouvir ligo para meu pai, a cada toque do telefone sinto como se estivesse em uma montanha russa, descendo a cem quilômetros por hora, espalmo minha mão em minha barriga tentando manter o estomago calmo.
— Ayla? — ele fala do outro lado da linha e o alivio que sinto é tanto que preciso respirar fundo para não chorar.
— Pai eu preciso que o senhor faça um favor para mim.
— O que houve Ayla, está tudo bem com você? — sua preocupação é tamanha que eu posso jurar que ouço ele se levantar.
— Sim, eu estou bem, por favor, deixe os meninos na vovó e venha para casa, eu preciso conversar com o senhor.
Olho para a casa onde Thales deveria se sentir seguro e a única coisa que consigo me lembrar é dos seus olhos ao me encontrar lá e da promessa que ele me fez fazer.
“Não volte lá nunca mais, não importa o que aconteça, não importa o que te digam, não volte lá...”

********************************

Hoje é dia de capítulo extra!
Obrigada por cada mensagem de carinho que Um Milhão de Promessas vem recebendo.
Sei que não é um tema leve,  mas ele é importante,  é um alerta  um grito de uma parcela silenciada pelo medo e  a vergonha e estou muito orgulhosa do nosso menino quebrado e da nossa menina corajosa.

Vamos continuar espalhando Thales e Ayla por aí.

Bjos e até sexta!

Um Milhão de Promessas - DEGUSTAÇÃO Where stories live. Discover now