Prévias Temáticas: Idealismo

1.3K 155 11
                                    

“Ninguém pode reclamar da sociedade, se contribui para a sua alienação”

Pág. 181.

 

Eles são engenhosos...

“Dan: Bom dia, eu sou Daniel Vasconcelos e vim falar sobre as drogas, também. Já sei que todos sabem dos riscos e das consequências que o uso delas tem sobre vocês. Então, vim falar de algo que muitos insistem em não perceber: Ao usar narcóticos, a onda é só de vocês, mas o prejuízo é de todos. ("Lindo! Canta pra gente de novo!", pediram algumas calouras, em estado de euforia, que o assediavam desde o aniversário da morena): Foi bom vocês falarem isso! Como eu sei que ficar discursando aqui vai ser entediante, fiz uma coisa diferente que me dará uma boa porcentagem de chance de me fazer escutar. Essa é uma paródia que eu fiz da música Já sei namorar, dos Tribalistas. (começou a tocar violão, acompanhado por Babi e Naty, que faziam o coro): 

“Já sei saquear. Já sei fumar maconha, agora só me falta comprar. Meu pai é juiz; ele vende sentença, eu ponho cola no nariz. Se cheiro cocaína, fico bem doidão. Pra conseguir a droga, roubo até cartão. E você vai ver: ou sustenta minha onda, ou a porrada vai comer. Não quero saber! Dane-se a realidade e o que é bom pra você. Não sei atirar, mas financio armas que, depois, vão te matar. O ego que vença sustentando o tráfico, aumentando a violência. As “balas” que eu tomo viram munição, seja pro TCP, seja pro caveirão. Não levam a mal: "ele só tá perdido, o favelado é marginal". Vão justificar: “a ele falta caráter, a mim, estrutura familiar”. Sou viciado e não admito. Digo que paro quando eu quiser. De vez em quando, passo dias de cão só pra cheirar bagulho do bom. Sou viciado e não admito, digo que paro quando eu quiser. Sou viciado, não quero me internar, tô enriquecendo o Beiramar. Sou viciado...”

 

... Conscientes

              “[...] Não tenho pão, faço meu brioche e vou vivendo de poesia. Melhor fugir da realidade a viver esse teatro miserável. Tantas mulheres inteligentes tendo que viver atrás do espanador ou do bolso do marido. Que decepção! Cadê a atitude, companheiras? A passividade é tanta que vivemos a la Bela Adormecida: tão apáticas, que esperamos o príncipe encantado dormindo! E tomara que ele tenha boa vontade, porque, até subir aquela torre toda e enfrentar os dragões, reza muito para não aparecer uma camponesa bonitona no meio do caminho!

Essa vida regrada me é insuportável! Não posso ser pedreira, piloto, maluca, rockeira, nem sair com quem eu quiser. Os grilhões de cascavéis acorrentam as minhas pernas, prontos para me picar. Encaixar-se na sociedade? Para quê? Todos dizem que ela está doente! Você aceita a sua função e desiste da sua alma até partir em pedaços. Volta para a estante da indiferença até que as cortinas se abram outra vez, e o ventríloquo lhe ofereça a mão gélida para iniciar mais um espetáculo de marionete social. [...]”

 

Inovadores...

 

E a resposta está Allende

Além de que pode compreender a razão

Fraqueza passional do desarmado

Apenas com o medo e a esperança na mão

E o Pano das vítimas não é santo nem sudário

É símbolo da vergonha que diverte Tio Sam

E o petróleo sangra em luto pelo revolucionário

Mártir de hoje, camiseta do amanhã

 

Felicidade de um dia, breve, sádica e gostosa de ver

No centro do Rio, choveu cultura a um soldado

Apocalíptica máquina de escrever

E o cidadão vive em jingle Silvio Santos

“Não sei se fico, ou se vou. Não sei se vou, ou se fico”

De ideal ou sangue, é sempre vermelho o manto

E a roda viva desacelera como previa o sabiá de Chico

 

Ooo wow, anistia vem aí, oposição não está mais a sós

Ooo wow, um é mil. Mil é um. Aquele um é todos nós!

...Artistas

Rodrigo: Dizem por aí que a arte imita a vida. Logo, de uma maneira muito estranha, ela tem o poder de explicar com exemplos tudo aquilo que não conseguimos aprender do real. Mal ou bem, uma obra feita de pessoas para as outras não pode deixar de refletir o homem, mesmo que esse seja o próprio autor. É intrínseco, entende? O criador compõe o seu universo particular com base em conceitos assimilados do mundo. Então, é impossível que ao menos parte da essência dele ou dos que o rodeiam não seja passada para o papel. (destrinchou o sublime idealizado por Wilde de que todo retrato revela mais o artista que o modelo. Explicou, dessa forma, que os rumos tomados por qualquer indivíduo ao longo de sua trajetória dizem respeito, sobretudo, exatamente a quem ele é. Isso porque cada um pode ser herói e vilão de si mesmo, tem uma identidade multifacetada que se revela gradualmente, com o passar dos anos, pelas escolhas que faz. [...]”

 

Um ideal de juventude que ainda sonha em mudar as coisas...

“Vanessa: Ah, monitor, tem sido o mesmo de sempre, né? Só se importam com números e a economia quando a sociedade está um caos, e a política cada vez mais asquerosa. Soube da última do deputado cara de pau? Foi flagrado com dinheiro na cueca e ainda teve a coragem de dizer que não sabia de nada! Tenha dó, né?

Dan: Olha, melhor ele ficar mais atento ao que se passa na própria cueca, ou em qualquer festinha, ônibus, ou metrô lotado, vai ser o primeiro a se dar muito mal! (arrancou algumas risadas de uma parte dos alunos): É sério, gente. Depois dizem que não somos capazes de rir da própria desgraça! Estamos mais que ferrados e achamos engraçado. Esquisito, né?

Vanessa: Melhor rir do que chorar. “A gente se ferra, mas se diverte!”

Dan: Típica frase de conformado. Nossa geração tá muito acomodada. Computador, Ipod, mas consciência e atitude? Nada! Se bem que não posso falar muito, nem me interessei em fazer parte da UNE, pesquisar sobre ela ou algo do tipo. Tô tão alienado ou até mais do que vocês!

[...]

Rafael: É foda mesmo de decidir que ideologia seguir.

Dan: Faça a sua, você não precisa seguir ninguém. Não é ovelha para ser pastoreado até um curral. Seja você, e pronto!

Rafael: Tu é foda! Sério...

Dan: Que nada! Tô falando sério, mesmo. Acho que, apesar das ideologias maiores em que acreditamos, todos temos uma filosofia própria e intransferível; eu fico com a minha, e você com a que lhe completa, a que lhe faz sentido.

Vanessa: Você nem parece ter vinte anos, só.

Dan: Já passei por muita coisa, geniazinha. É o que eu digo: às vezes, o melhor lugar para refletir é o fundo do poço. Porque, dele, você não passa!”

Sinfonia - Destino Trocado (vol. 1) COMPLETO!Where stories live. Discover now