Um recado do Narrador

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Um recado do Narrador

O primeiro contato com o homem por detrás da narrativa...

 Querido leitor desavisado,

Gostaria de convidá-lo a conhecer a minha índole para não dizer que eu agi com traição. Porém, antes de lhe proporcionar uma ejaculação precoce por me apresentar tão de pronto, saiba que estamos na iminência de ficarmos separados por tempo indeterminado.

Acontece que narrativas convencionais me causam tédio e, tendo eu sempre as “melhores intenções”, esteja certo de que laçarei inclusive pingo d’água apenas para não presenteá-lo com uma corda retilínea e sem graça. Existem muitos meios de se contar uma história e, em nome do seu total divertimento — demais motivos escusos —, resolvi seguir o mais complexo deles; o que, ainda que eu fracasse, faz de mim um original. Somente gostaria de pedir à sua simpática pessoa compradora para que esqueça resolutamente este livro se não estiver disposta a ampliar os seus horizontes o pouco que seja.

Narro quando e como quero, e todos os meus aliados seguem friamente o esquema porquanto sabem ser ele arquitetado por um bem muito maior: lapidar a visão de mundo de todos os envolvidos no crescimento dessa trama, especialmente a sua. Portanto, saiba desde logo que é impossível me trapacear, tampouco me pegar com as calças na mão, a não ser que eu queira lhe mostrar a minha cueca.

Sou do signo sorrateiro, ascendo na casa do cinismo e tenho lua na filosofia. Contudo, nem os melhores astrólogos sabem fazer o meu mapa astral. Aliás, apesar de mudar de humor mais do que troco de roupa, fique seguro de que, se você me der a mão nessa jornada, serei incapaz de deixá-lo partir. Sou a fidelidade que não diz o nome, afinal...

Abomino inércia quando natureza mal acomodada e vim aqui para acabar com a sua, como faço questão de destruir a minha própria dia a dia; basta você colaborar. Não conservo regras nem conto o fim da piada antes do tempo. Então, não se assuste se eu mudar de rumo e revelar que a graça estava justamente em confundi-lo por inteiro; mera questão de saber rir de si...

Enfim, como resumo da prosa, somente deixarei claro que todas as minhas escolhas sempre têm ao fundo um conjunto de falsas verdades a serem reinventadas: o sinônimo de boa obra não é formalismo, é função social. Sendo assim, se optei por fluxos outros e pelo coloquial nos volumes primeiros, por mais que demore, trarei uma justificativa deliciosa para tanto à mesa (palavra de um “arteiro”!). Sirva-se gradualmente e evitaremos a indigestão; é um exercício de paciência!

De todo modo, sem mais delongas, seja mais do que bem-vindo ao clube! Prometo me fazer conhecer um pouco menos do que, anteriormente, terei a honra de apresentá--lo a você mesmo.

Com cinismo às vezes literário e nem sempre filosófico,

Narrador Oculto.

P.S: descubra-se, se for sensato; descubra-me, se for capaz.

Sinfonia - Destino Trocado (vol. 1) COMPLETO!Où les histoires vivent. Découvrez maintenant