14 - Esperança

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Me levantei e segui o mesmo caminho que Hyun-su havia feito

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Me levantei e segui o mesmo caminho que Hyun-su havia feito. Ele já deve ter voltado a Sala de Quarentena. Nunca fica fora de lá por muito tempo quando está no primeiro andar.

Regras de Sobrevivência da Casa Verde, número quatro; por em quarentena os infectados.

Parei em frente a Du-sik, que todas as noites ficava de guarda para que ninguém entrasse ou saísse da Sala.

- Hyun-su não está em um bom dia, Ryu. Ele pediu para não te deixar entrar hoje. Além disso, eu não posso ficar te deixando entrar sempre.

- Preciso falar com ele.

- Hoje não.

- Eu sou um deles. Também tenho que ficar na Sala de Quarentena. Me deixe entrar.

- Você não é como eles.

- Hyun-su também não, mas ele precisa ficar aí dentro. - estiquei minha mão. - A chave, senhor Du-sik, por favor.

Ele suspirou, cansado. Me entregou a chave e no mesmo segundo, abri o cadeado na porta, depois o entreguei.

- Vou passar a noite aqui.

Ele assentiu, sabia que discutir comigo não mudaria minha decisão. Ele tentou isso nos primeiros três dias. Entrei na sala escura, iluminada por uma única lâmpada amarelada. Vi Hyun-su sentado na sua cama improvisada, desviando o olhar da porta assim que me viu entrar.

Ele parecia irritado comigo. Seus olhos ainda estavam pretos. Era algo preocupante, nunca o vi ficar tanto tempo assim.

Caminhei até ele devagar e me sentei ao seu lado sem pedir permissão. Tenho certeza que se perguntasse, ele me pediria para ir embora.

- Está bravo comigo? - esperei por sua resposta, mas não recebi. - Por que? Você vai mesmo fazer tratamento de silencio comigo? Quantos anos você tem?

- Quero ficar sozinho.

Os cabelos dele cobriam seus olhos, e não saber se eles ainda estavam pretos mesmo comigo aqui, junto dele, me deixa nervosa. Quanto mais tempo eles ficassem assim, mais tempo o monstro ficava no controle, o que era perigoso para alguém que ainda não tivesse passado pelo décimo quinto dia.

Respirei fundo, tomando coragem. Levei minha mão até o queixo de Hyun-su, virando seu rosto para mim. Nossos rostos estavam próximos, o que me causava um tipo de calafrio, mas não era algo ruim.

Então, virado para mim, seus olhos voltaram a coloração normal, o que me deixou aliviada. Soltei seu queixo cuidadosamente, abaixando minha mão. Ele a segurou carinhosa mente, enquanto ela ainda estava no ar, antes que tocasse minha perna, mas ao mesmo tempo, parecia afobado para fazer aquilo o mais rápido que podia. Seus olhos continuavam fixos nos meus e tive a impressão de que nos aproximávamos cada vez mais, mesmo que não estivéssemos nos mexendo.

- Você... - ele parou de falar, como se estivesse pensando na próxima palavra. - Você também tem a sensação de que vai perder alguém a qualquer momento? Alguém importante.

Eu assenti.

- Por que acha que não quero que suba aquelas escadas? Estou a um mês tentando evitar que essa sensação esteja certa, Hyun-su.

Ele não disse nada, e nós voltamos a ficar em silencio. A mão de Hyun-su desceu a minha e ao tocar o lençol macio abaixo de nós, ele entrelaçou os dedos nos meus. Eu estava prestes a observa-las, curiosa, quando vi o olhar de Hyun-su desviar dos meus olhos para minha boca por um único segundo.

Sempre tive a impressão de que os olhos de Hyun-su eram tão vazios quanto os meus. E isso me fazia acreditar que a vida dele tenha sido tão difícil quanto a minha. Mas aqui, agora, tão próxima dele e podendo ver cada detalhe do seu rosto com maior perfeição do que nunca, acredito que seus olhos não sejam tão vazios assim. É como se no fundo, ainda existisse algum tipo de esperança que pudesse traze-lo de volta a qualquer momento. Que pudesse fazer com que Hyun-su voltasse a sentir vontade de viver.

Eu também tenho isso.

E o problema de ainda ter esperança, é que toda vez que você se olha no espelho, você tem certeza de que ela nunca vai sair de "apenas um pontinho de esperança". Então seus olhos continuam vazios, porque por mais que você queira, você não acredita o suficiente nisso para transforma-la em algo além de um ponto.

Me preparei para dizer algo que nos tirasse dessa situação constrangedora, onde eu não conseguia parar de pensar nos olhos castanhos hipnotizadores daquele garoto. Mas antes disso, a mão livre de Hyun-su segurou minha nunca com delicadeza e me puxou para perto devagar, enquanto ele também se aproximava.

Ele fechou seus olhos, a deixa para que eu também fechasse os meus. Nossos lábios se tocaram e agora, o ponto de energia que eu sempre sentia com o toque das nossas mãos parecia estar ainda mais forte.

Seus lábios eram macios, com gosto de chocolate. Seu polegar tocou minha bochecha e eu virei levemente meu rosto para esquerda, para que o beijo se encaixasse perfeitamente. Então nos separamos. Os rostos ainda próximos, a mão de Hyun-su ainda em minha nuca, enquanto seu polegar acariciava minha bochecha.

Os olhos dele não pareciam mais tão vazios assim.

- Você comeu chocolate? - perguntei.

Ele riu, mostrando os dentes. Nunca pensei que o sorriso de Hyun-su fosse ser tão bonito assim. Talvez seja porque ele não sorri, então é algo difícil de imaginar. Eu deveria ter feito ele rir antes. O barulho da sua risada era calma e tímida, o que combinava perfeitamente com sua personalidade. As duas covinhas de cada lado da sua bochecha tornavam a expressão feliz em seu rosto fofa e contagiante. Toquei uma delas, encantada. Hyun-su nunca sorriu assim para mim.

- Você tem covinhas. - eu sorri, feliz. - É a primeira vez que as vejo.

O rubor vermelho tomou conta do seu rosto. O garoto desviou os olhos, se afastando.

- Desculpe. Eu não quis...

- Você me deixa envergonhado.

Ele murmurou, voltando a me olhar. Agora, com um sorriso mais simples. Não importa. Ele ainda está sorrindo. Me pergunto se esse é o recorde de sorrisos que consegui de Hyun-su em um dia. É, com certeza é um recorde.

- Foram dois sorrisos. - sussurrei. - E ainda te deixei envergonhado. É um bônus!

- Está contando quantas vezes eu sorrio pra você?

- Agora eu estou.

Ele gargalhou, escondendo o rosto ao olhar para o chão.

- Agora são três. - sorri. - Não, são quatro. Você sorriu uma vez, semana passada.

- Certo. Vou avisar quando passar das vezes em que eu te fiz sorrir.

Ergui as sobrancelhas, surpresa.

- Você está me copiando.

- Eu comecei a contar antes de você.

Cruzei os braços.

- Então quantas vezes eu sorri?

- Quatro. Contando com aquela vez que você forçou um sorriso para fingir estar bem.

- Falsos sorrisos não contam! Estamos empatados.

- Não estamos não.

Antes que eu pudesse retrucar, Hyun-su puxou minha cintura, me beijando de novo.

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Os Mais Fortes Sobrevivem - Sweet HomeWhere stories live. Discover now