16 - Carinha Feliz

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Hyun-su balançou a cabeça, confirmando. Depois, virou-se e caminhou devagar em direção a saída, planejando se encontrar com Du-sik para entender as armadilhas que ele planejou. Achei que Eun fosse ir com ele, como acontecia todos os dias, mas hoje, ele ficou.

Estava um pouco distante de mim, os olhos seguindo Hyun-su até que ele desaparecesse da sua visão ao virar o corredor. Virou-se para mim, ajeitando os óculos que escorregava pelo seu nariz. Eun estava planejando dizer algo.

— Você quer ir com ele?

Ergui as sobrancelhas.

— O que?

— Não quero que vá, mas acho que agora, minha desculpa de que você pode morrer não vai mais funcionar. – ele suspirou. – Sabe, na primeira vez, eu realmente não queria que você fosse por causa disso. Mas depois, percebi que se você fosse, Hyun-su nunca deixaria nenhum monstro chegar perto de você.

— Então porque continuou me proibindo de ir?

— Ji-su disse que você tinha vontade de voltar ao décimo quinto andar, para o seu apartamento. Tive medo de deixar você ir e não te ver mais. Não porque você podia morrer pelo caminho, mas porque achei que você não fosse voltar.

Ele colocou as mãos no bolso, algo que eu costumava a fazer. Acho que Eun Hyuk anda passando tempo demais comigo.

— Eu não ia te segurar aqui por muito mais tempo. Teria que te deixar ir, você sendo um monstro ou não. Para mim, sua opinião é importante. E se você não está feliz no primeiro andar, então... acho que tenho que te deixar ir. Mas, se você for...

Ele fez uma pausa, parecia triste. Abaixou a cabeça, pensativo, depois voltou a me olhar.

Você vai voltar, não vai?

Um sorriso triste se formou no canto da boca de Eun.

— Não quero jantar sozinho. E também, acho que vou sentir falta de você me chamando de babaca depois de uma discussão. Então, você vai voltar?

— Vou. Você ainda está me devendo um desafio.

O sorriso de Eun não parecia triste agora.

Hyun-su e eu estávamos preparando as armadilhas que Du-sik planejou. Ele não estava muito feliz com a minha vinda, parecia estar tendo o dobro de atenção que o de costume.

Eu estava alguns degraus a sua frente, subindo as escadas de emergência enferrujada na lateral do prédio, as que ficavam do lado de fora da construção. Hyun-su enrolava um fio em zigue-zague por ela, a pedido de Du-sik.

Segundo ele, qualquer coisa que esbarrasse nos fios acionaria o alarme no primeiro andar, feito por sinos e latinhas de refrigerante. Enquanto Hyun-su arrumava o fio, eu contava os degraus. Du-sik pediu para colocar pelo menos três das coisas barulhentas na bolsa que ele me entregou nos fios, mais um tipo de alarme para os que estiverem lá embaixo.

Hyun-su parou, abrindo espaço para que eu pudesse colocar algumas latinhas no fio, já que chegamos ao degrau número dez, desde que colocamos pela última vez.

Eu arrumei e subi mais dez degraus, esperando Hyun-su chegar para concluir a minha função. Achei que fazer um alarme fosse ser mais demorado, mas nós dois saímos do primeiro andar a pouco mais de uma hora, e acabamos de chegar no décimo quinto, o último.

Se ele estivesse sozinho, tenho certeza que demoraria tanto tempo que só voltaria ao primeiro andar depois do cair da noite.

Parei em frente a porta. O número quinze, que indicava o andar, estava gasto. O cinco pintado de preto estava descascando e o número um perdeu uma parte dele, mas eles ainda eram legíveis, por causa das marcas de cola. O barulho do fio que desenrolava como uma vara de pesca parou, o que significava que Hyun-su estava atrás de mim, esperando que eu fizesse o que havíamos combinado.

O objetivo era terminar a escada de emergência do lado de fora, para que depois pudéssemos fazer exatamente a mesma coisa com a escada do lado de dentro do prédio.

Mas agora que estou de frente para essa porta, vendo o desenho de uma carinha feliz feita por Sunwoo no nosso primeiro dia depois da mudança ao lado da maçaneta, não sei se quero continuar.

Ele costumava a deixar desenhos como esse nos novos lugares por onde passávamos. Sunwoo nunca me disse o porquê, mas eu sempre soube.

A primeira tatuagem de Ishida foi uma carinha feliz, atrás da orelha.

Era a mesma carinha feliz que Sunwoo passou a fazer depois da morte dele. Aquela era uma pequena demonstração de carinho. A forma que Sunwoo tinha para lembrar que Ishida ainda estava com a gente, de alguma forma.

Ele não demonstrou muito seus sentimentos em relação a morte de Ishida, e eu sei que foi só mais uma das suas tentativas de me proteger contra o meu próprio eu. Depois que Ishida foi morto, eu passei a ser uma pessoa incrivelmente autodestrutiva.

Tinha dificuldades para continuar uma conversa por mais de dois minutos. Não conseguia me manter em um local com muitas pessoas sem ter uma crise de pânico.

Acho que nunca vou conseguir me esquecer do dia em que Sunwoo gritou comigo, quase dois meses após a morte de Ishida. Foi a minha pior semana. Quando eu finalmente aceitei que aquilo não era um sonho ruim, e que Ishida não iria voltar.

Eu não conseguia mais levantar da cama porque não acreditava que podia viver sendo que por minha causa, Ishida estava morto.

Me lembro de cada detalhe daquele dia.

Eu estava deitada no sofá da sala completamente escura, porque eu precisaria fazer muito esforço para ligar a luz ou abrir as cortinas. A porta do meu apartamento abriu de repente, a luz de fora me obrigando a fechar os olhos depressa enquanto dava um grunhido de reclamação.

A pessoa que entrou acabou de pisar nas cartas de despejo espalhadas no chão. O síndico não parava de empurrar os avisos pela frecha embaixo da porta, e eu nunca fiz questão de ler nenhuma delas.

Ouvi os ‘clacs’ em seguida, o suficiente para saber que quem entrara havia feito o esforço que eu tanto me recusava. A luzes estavam ligadas.

O barulho dos tênis tocando o chão com uma certa irritabilidade parou e eu me recusei a abrir os olhos, porque sabia que ele estava do meu lado, irritado.

“Levante”

Sua voz grossa e séria fez os pelos da minha nuca arrepiarem.

“Abra os olhos e levante, Ryu!”

Eu não me mexi ou respondi. Odiava quando as pessoas gritavam comigo, e ver Sunwoo fazer isso me doía. Ele nunca gritou comigo em uma briga. E eu nunca pensei que ficaria tão triste quando isso acontecesse. Na verdade, eu nunca acreditei na possibilidade disso acontecer.

Suas mãos seguraram meus ombros e ele levantou meu corpo, me obrigando a sentar no sofá. Abri os olhos, franzindo as sobrancelhas, prestes a reclamar por ele estar sendo tão bruto. Mas então, pude ver seu rosto.

A ponta do nariz estava vermelha, os olhos inchados e os cílios molhados. Sunwoo estava chorando. Minha feição mudou repentinamente. Sunwoo não chorava.

O que tinha acontecido?

“Você precisa levantar, Ryu”

Sua voz não era a mesma da última frase. Estava rouca, mas ele continuava sério.

Por que?”

“Porque eu não aguento mais.”
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Os Mais Fortes Sobrevivem - Sweet HomeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora