Antes mesmo do novo vírus se espalhar pela Coreia, Ryu já sabia que estava infectada. Usada como cobaia em um Laboratório Militar, fugiu semanas antes da doença que transformava os humanos em monstros se espalhar pelo país até destruí-lo. Até então...
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NARRADORA
A arma de Ui-Myeong estava apontada para Ryu. Os braços da garota estavam abertos. Atrás dela, uma parede feita por fogo se formava, impedindo que qualquer projétil que saísse daquela pistola passasse por ela sem virar cinzas. A bombeira passou correndo por eles, deslizando pelo chão enquanto utilizava o fuzil que havia roubado de um dos soldados mortos para atirar em Ui-Myeong. Três deles atingiram a bochecha de Ui-Myeong, mas as balas saíram de dentro da carne do seu rosto sozinhas, o barulho fino e agudo ecoando pelos ouvidos de Ryu com clareza ao tocarem o chão.
Ficou evidente que as balas de Yi-kyeong haviam acabado quando ele puxou o gatilho algumas vezes, a expressão desesperada tomando conta do rosto. Se levantou, tirando uma pistola da cintura e se escondendo atrás de uma das pilastras, tentando não ser atingida por uma bala. Ryu arregalou os olhos quando viu Eun Hyuk logo atrás dela, totalmente exposto.
Voltou-se para Ui-Myeong, os olhos dele totalmente pretos encontrando-se com os delas por alguns segundos, um sorriso ameaçador surgindo-lhe no rosto. Ele deitou ligeiramente a cabeça, a mão ainda esticada apontando a arma para Yi-Kyeong, mas a atenção nos olhos diferenciados de Ryu. Ele não sabia que os olhos dela continham uma pupila avermelhada, e aquilo o encantava, ao mesmo tempo que o deixava extremamente irritado.
Aquela era mais uma prova de que Eun-Ji Ryu era um monstro mais evoluído que ele.
E ninguém podia ser mais evoluído que ele.
Ui-Myeong apertou o gatilho e em um piscar de olhos Ryu havia se jogado na frente da bala, sendo atingida no peito. Deu um passo para trás, sentindo a dor consumi-la por alguns segundos, antes do próprio corpo expulsar o projétil, o buraco por onde o sangue deveria sair se fechando com uma coloração amarela, muito parecida com a cor que eram as veias de Outra, o que indicava que ela estava ali, a ajudando.
Estavam trabalhando juntas.
Precisavam estar juntas, caso quisessem matar Ui-Myeong.
O garoto foi jogado para longe com um empurrão, o corpo de Hyun-Su colando no dele e os dois atravessando a parede, quebrando-a no meio. Ryu se virou rapidamente para Eun Hyuk e Yi-Kyeong, conferindo se estavam bem. Esticou o braço na direção deles, a palma da mão aberta iniciando um fluído de fogo que voou para perto dos dois, se transformando em uma redoma a sua volta.
- Fiquem aí!
Ela gritou, correndo até Sunwoo, que levantava devagar, as gotas de sangue escorrendo na testa, mas o ferimento já havia se fechado. Os tiros se reiniciaram, então Ryu viu Hyun-su sendo jogado para longe de novo, voando alguns metros no ar antes de cair no chão. Ui-Myeong estava de pé, caminhando até o garoto, que tossia e gemia de dor. A namorada correu até ele, empurrando seu inimigo para trás, o observando recuar alguns passos, a expressão agora evidentemente irritada.
- Eu devia saber que você não confiava em mim. - a voz dele estava diferente, uma mistura de robô e monstro, diferente da forma que a voz de Ryu costumava a ficar quando Outra estava no controle. - Quer ouvir uma coisa engraçada? A verdade é que eu nunca desisti de matar você.
Ryu não esperava que aquela conversa fosse uma distração de Ui-Myeong, que agora agarrara seu pescoço, o apertando com força enquanto a erguia no ar, imprensando o corpo da garota contra um espelho de vidro. Sunwoo e Hyun-Su, por mais que estivessem intercalando entre si para tentar atacar Ui-Myeong, não conseguiam fazer muita coisa. Eles mal conseguiam chegar perto o suficiente para sequer conseguir atingir um golpe.
Sunwoo, desesperado para ajudar a melhor amiga, estava deixando o monstro assumir o controle e direcionava rajadas de ossos pontiagudos para Ui-Myeong, por mais que todas elas tocassem nele, nenhuma ficava dentro do seu corpo por muito tempo. Tudo que atravessava a pele de Ui-Myeong era automaticamente expulso segundos depois. Ele precisava mudar sua estratégia, mas não podia fazer nada enquanto estivessem do lado de dentro do prédio. Era perigoso demais.
- Solta ela!
Hyun-su gritou, correndo em direção a Ui-Myeong pela quarta ou quinta vez, mas sendo jogado contra a parede de novo. Parecia haver algum tipo de barreira invisível ao redor deles que impedia que os dois chegassem perto demais, como a barreira de fogo que Ryu tinha feito em volta dos sobreviventes, mas que parecia estar consideravelmente mais fraca agora, já que sua coloração estava bem mais fraca do que antes. Ryu estava ficando sem ar, o que a fazia concentrar toda sua atenção em se desvencilhar de Ui-Myeong antes de desmaiar. Os escudos que protegiam os sobreviventes desapareceriam se ela demorasse mais tempo para se afastar daquele meio-monstro.
- Achei que você fosse mais forte. Agora eu vejo, eu posso ser o Rei. Eu posso comandar o mundo! - ele gargalhou, a risada amedrontadora. - Mas antes, preciso ter certeza de que eu sou o único que pode fazer isso. Não se preocupe, Ryu, eu vou matar você primeiro. Não quero que se culpe por não os proteger.
O rosto de Ryu estava vermelho, a falta de ar rapidamente chegando ao seu cérebro. Ela não duraria muito mais que dois minutos, o que já era muito para qualquer humano. Envolveu o pulso de Ui-Myeong que agarrava seu pescoço com as duas mãos, usando toda força que tinha, em conjunto com Outra, para afastá-lo.
O céu havia escurecido de repente, a sombra tomando conta de boa parte do primeiro andar, o fogo de Ryu que estava espalhado pelo local, sendo a única coisa que os iluminava.
As mãos de Ryu que seguravam o pulso de Ui-Myeong se tornaram fogo, uma chama grande e alta queimando rapidamente todos os dedos do garoto e seguindo o caminho para o restante do corpo. Os pés dela tocaram o chão quando ele a soltou, tentando apagar o fogo de seu braço antes que fosse consumido por ele e resumido a um pó cinza irrelevante. Ryu não tinha forças para se manter de pé. Seus joelhos bateram no piso sujo de sangue, uma das mãos dela pousava no pescoço avermelhado enquanto tossia, tentando recuperar o folego que perdera.
Hyun-su e Sunwoo aproveitaram o momento de distração para atacar Ui-Myeong, finalmente conseguindo lhe causar algum tipo de incomodo, mesmo que pouco. Hyun-su estava segurando os braços de Ui-Myeong para trás do corpo, enquanto os ossos do corpo de Sunwoo causavam furos um atrás do outro.
Ryu voltou a se levantar, o corpo apoiado na parede, os olhos correndo pelo local para observar a situação. Os sobreviventes atrás do primeiro escudo haviam corrido para longe, mas Eun Hyuk e YI-kyeong ainda estavam ali, os olhos atentos em tudo que acontecia, envolvidos pela redoma, sem possibilidade de irem embora. Ryu liberou o escudo, uma abertura distante da visão de Ui-Myeong, dando a possibilidade para que os dois corressem para qualquer outro lugar.
Qualquer humano que continuasse naquele local morreria.
Quando virou-se para o melhor amigo e o namorado, os viu sendo jogados para longe de novo. A parede onde Sunwoo havia batido se desfez, caindo sobre ele. O garoto desmaiou ao ser atingido por um grande pedaço de concreto que caiu do teto. Hyun-su também estava no chão, ainda acordado, os olhos preocupados fixos na namorada. Ele gemia com a dor, esforçando-se para levantar.
Se Hyun-su e Sunwoo continuassem interferindo na luta, acabariam mortos.
Ryu não podia, de forma alguma, deixar isso acontecer.
