Capítulo 47 - Coração Quebrado

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Depois que todos foram embora da praça, Joseph ainda teve de ficar para se livrar do corpo do príncipe Alessandro. Quase não conseguia olhar para o que tinha feito e sentiu-se terrivelmente desprezível por matar uma pessoa que arriscara a vida de tal forma para salvar quem amava. Arriscara a vida para salvar Isabela, alguém cuja vida também lhe era importante, enquanto ele... O temível cavaleiro das sombras, estava sendo na verdade um verdadeiro covarde.
__Sinto muito__ Joseph quase deu graça a Deus por ter alguém que o distraísse daquele mar de sangue, quando ergueu os olhos, viu Harry parado ali o olhando com cara de culpado__ juro que fiz o que me pediu, eu o escondi... Mas atacaram minha casa, iam destruir tudo, eu tive que deixá-lo e proteger meus bens, minha família. Quando voltei, ele tinha acordado e outros homens o pegaram. Sinto muito Joseph.
__Está tudo bem Harry__ Joseph tentou tranquilizá-lo__ não foi sua culpa.
__Ele era amigo da princesa, e você teve de matá-lo por minha causa.
__Já disse que não foi sua culpa__ repetiu__ agora já está feito, esqueça.
Harry o ajudou a limpar o resto, sem dizer mais nada. Não adiantava se lamentar agora pelo estrago, já estava feito e não tinha volta. Quando terminaram, Joseph caminhou pela cidade avaliando o estrago da noite passada, vendo pessoas tentando voltar a sua rotina e ajudar os feridos. No meio de toda aquela bagunça, Joseph avistou também Peter.
__Peter?__ chamou enquanto se aproximava, sentindo-se de repente aflito. O menino estava sentado no chão, com a espada que lhe Joseph lhe dera na mão e coberto de sangue__ PETER.
Correu até ele e se abaixou ao seu lado, o coração palpitando enquanto conferia se ele estava machucado.
__Você está bem?__ perguntou, aquele sangue todo não parecia ser dele__ está machucado?
__Não__ ele negou e ergueu os olhos para fitar Joseph, estavam vermelhos e cheios de lágrimas__ eles atacaram minha casa, tentei fazer como você me ensinou e defender os meus pais. Eu matei um deles com a espada que me deu, mas não fui rápido o bastante, eles... Eles mataram todos... Mataram... Minha família__ o menino soluçou__ não consegui ser como você... Não consegui.
Joseph não soube o que dizer, e mesmo que soubesse não sabia se conseguiria falar qualquer coisa. Tinha saído tudo errado, ele devia ter protegido o menino e sua família, tinha que ter impedido aquela loucura, agora estava tudo desmoronando porque ele não fora bom o bastante. Levantou-se e pegou o menino no colo, que o agarrou com força enquanto chorava.
__Harry__ ele sussurrou__ pode ir aos estábulos e ver como está meu cavalo? Houve uma confusão lá e não sei se...
__Tudo bem__ ele concordou__ não precisa que eu te ajude com o menino?
__Não, eu cuido disso__ garantiu.
Carregou o menino pelas ruas da cidade até o Bordel de Paola. Por um momento quis ser novamente uma criança, para poder sentar e chorar, e ter alguém que o consolasse, mas não podia.
__O que aconteceu?__ Paola perguntou quando o viu__ está machucado?
__Não__ ele negou__ pode cuidar dele por mim um instante?
__Claro__ Paola concordou e pegou Peter do colo dele.
__Onde ela está?
__No quarto.
__Está bem?
Paola só fitou o chão. Então ele passou direto por ela e subiu as escadas do Bordel em direção ao quarto da princesa. Teve medo de abrir a porta e encará-la, mas precisava saber como ela estava, precisava vê-la. Encontrou-a encolhida na cama, o olhar distante, vazio, estava com cara de quem chorara muito. Joseph aproximou-se lentamente e ergueu a mão para tocá-la, mas ela se afastou do toque, se encolhendo para longe dele na cama.
__Não toque em mim__ ela disse sem olhá-lo, sufocando mais lágrimas.
__ Isabela, me perdoe__ ele implorou__ eu não queria matá-lo, Deus sabe como me arrependo... Mas se eu não fizesse...
__Não__ ela ergueu a mão para que ele parasse de falar__ não quero ouvir suas desculpas, por favor, pare.
__Princesa por favor...
__PARE__ ela gritou finalmente o fitando com os olhos castanhos cheios de fúria__ será que não entende? Nada do que disser vai mudar o que aconteceu. Você o matou... Você o matou.
__Eu sinto muito__ ele sussurrou, e como sentia. Se fossem alguns meses atrás, não teria sentido nada ao arrancar a cabeça dele fora, teria sido só mais um dia. Mas agora era diferente, ela tornara tudo diferente.
__Eu sei que sente__ ela o surpreendeu com a calma que disse aquilo, apesar da fúria nos olhos__ eu entendo porque o fez. Você precisava fazer isso para salvar sua família, eu entendo Joseph. E penso que talvez em seu lugar teria feito o mesmo, não estou o julgando, não me entenda errado... Mas percebi uma coisa.
__Que coisa?
__Hoje Klaus mandou que você matasse Alessandro, amanhã pode ser que mande me matar e você o obedecerá.
__Eu nunca a machucaria__ ele protestou.
__Você teria que escolher entre mim e sua família e sejamos honestos... Ambos sabemos o que você vai escolher__ ela disse respirando para conter os soluços__ por isso temos que acabar com isso agora. Eu sou uma prisioneira, sempre fui, foi estupidez nos deixarmos envolver.
__Estupidez?
__Sim, estupidez__ ela gritou__ só torna tudo mais difícil... Só dói mais.
__ Isabela...
__Se não me tocar mais__ ela sussurrou, a fúria se dissolvendo e se transformando em tristeza__ se não me beijar daquela forma que só você sabe fazer. Se não me tocar e fizer sentir aquelas coisas... Se... Se ficar longe de mim, então talvez não doa tanto quando você fizer sua escolha.
Ele gostaria de poder dizer que ela estava errada, que se tivesse que escolher a escolheria. Mas como podiam lhe pedir que escolhesse entre a vida dela, e de sua família? Ninguém deveria ter que fazer tal escolha, era doloroso demais... Até mesmo para ele.
__Por favor vai embora__ ela pediu abaixando a cabeça para encarar os lençóis, enquanto as lágrimas desciam__ vai embora.
Não estava com raiva dele, queria estar, sabia que devia estar, mas por mais que tentasse não conseguia. Mas estava doendo, não conseguia olhar para ele sem lembrar de que tinha matado Alex, seu amigo, alguém que tentara salvar sua vida. E não conseguia deixar de pensar que a qualquer momento seria a vez dela, e ele faria... Ele a mataria porque era preciso. E o pensamento machucava mais do que deveria.
__Por favor, por favor, vai embora__ ela implorou, abraçando a si mesma e se desfazendo em lágrimas. No fundo queria que ele a abraçasse e a consolasse, era o único que poderia fazer a dor diminuir, mas deixar que ele a tocasse seria burrice, estava cansada de sofrer, estava cansada de tudo aquilo__ por favor, por favor, vai embora, por favor.
Ele nada pode fazer a não ser ir embora como ela pedia.
Esta Noite
Peter havia adormecido enquanto Paola cuidava dele, e quando saiu do Bordel, Joseph o levou para sua casa. Agora que a família do menino estava morta, ele se sentia ainda mais responsável pela vida dele, era tudo que Peter tinha. Enquanto o menino dormia em sua cama, tomou um banho para se livrar de toda sujeira e sangue que o cobriam, tentando esquecer por alguns minutos aquele dia terrível, as palavras de Isabela, mas quanto mais se esforçava para esquecer, mas forte as lembranças ficavam.
Depois que saiu do banho, vestiu uma roupa limpa e saiu de casa, deixando Peter adormecido. Correu até o estábulo e encontrou Harry por lá, cuidando de seu cavalo, que por sorte não estava machucado.
__Oi Joseph__ Harry forçou um sorriso ao vê-lo__ ele não está machucado.
__Ótimo, porque vou precisar dele inteiro esta noite.
__Como assim? Vai a algum lugar?
__Nós vamos__ ele corrigiu__ vamos colocar nosso plano em prática.
__O que?__ Harry arregalou os olhos__ hoje?
__Hoje__ Joseph concordou__ vamos partir de Murdor esta noite e invadiremos Harenwall. Cansei de ser o bonequinho do Klaus, vou por um basta nisso de uma vez por todas.
E quando ele finalmente estivesse livre... Klaus ia pagar por tudo que o havia feito passar.


Cavaleiro das Sombras.Where stories live. Discover now