Capítulo 57 - Tudo Bem se Quiser Chorar

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Isabela tomou um banho demorado aquela noite, vestiu uma camisola confortável para tentar dormir um pouco e recusou o jantar, sentindo-se tão mal como nunca estivera na vida. Ver Joseph abaixado no chão, ao lado do corpo da mãe, sabendo que em parte era sua culpa, que ela devia estar morta em seu lugar, tirara toda a alegria que sentira por estar de volta a sua casa.

__Como você está?__ ela se sobressaltou ao ouvir a voz do pai.

__Bem, eu acho__ forçou um sorriso__ e Joseph?

__Ele é um homem forte, vai superar.

__Nós precisamos conversar__ Isabela disse__ tem tanta coisa que...

__Eu sei__ Robert concordou__ mas não agora. Você precisa descansar. Diremos tudo que tem de ser dito amanhã, e, você e Joseph. Mas não quero discussões hoje, só quero dormir sabendo que você está aqui, segura de novo no seu quarto.

Ela assentiu, podia esperar mais um dia. Também não queria brigas aquela noite. Quando seu pai a deixou só, Isabela jogou um manto sobre o corpo e saiu do quarto, caminhando pelos corredores com os pés de descalços e indo de encontro a Joseph no fim do corredor. Sabia bem onde seu pai o havia deixado. Encontrou-o em pé olhando pela janela.

__Hey__ ela chamou baixinho, parada na porta.

Joseph se virou lentamente para fitá-la, não esboçou nenhuma reação ao vê-la, estava ocupado demais se esforçando para não chorar, dava para ver só de olhá-lo, os olhos azuis cheios de água, o maxilar cerrado, a respiração profunda e lenta.

__Sinto muito__ Isabela sussurrou, também sentindo vontade de chorar ao vê-lo daquele jeito__ eu... Eu devia...

__Não foi sua culpa Isabela__ ele a interrompeu__ eu já disse isso.

__Mesmo assim__ ela suspirou__ eu só... Não quero discutir, só... Sinto Muito.

Ele desviou os olhos do rosto dela, fitando o chão. A princesa caminhou até ele lentamente, segurou o rosto dele entre suas mãos e o ergueu para que pudesse olhá-lo nos olhos. Aqueles lindos olhos azuis tão lindos e tristes, cheios de lembranças e dor.

__Tudo bem se quiser chorar__ sussurrou acariciando o rosto dele__ não é vergonha, nem fraqueza.

Ele fechou os olhos com força e então às lágrimas que tanto repeliu escaparam, escorrendo por seu rosto.

__Dezoito anos__ ele disse__ dezoito anos de sofrimento para nada. Ela está morta Isabela, eu não consegui salvá-la.

__Não foi sua culpa.

__Foi sim__ ele balançou a cabeça, parecia um garotinho magoado__ eu falhei, prometi que a salvaria e falhei. Agora ela morreu e eu nem pude dizer adeus. Não pude dizer que a amava, nem o quanto sinto muito por tudo que ela teve que passar.

Isabela não discutiu com ele, o abraçou e deixou que ele desabafasse.

__Fico imaginando se Macayla viu o que fizeram__ ele murmurou__ ela deve achar que eu a abandonei, deve estar com medo. E se ele a machucar também? Se eu não puder salvá-la, nunca vou me perdoar Isabela, eu não sei o que fazer.

__Você me salvou, vai salvá-la também.

__A salvei tarde demais__ lembrou__ deixei que a machucassem tantas vezes. Também foi tarde demais para minha mãe e se acontecer de novo? E se eu falhar mais uma vez?

Isabela se afastou do abraço para poder olhá-lo novamente.

__Sei que está triste, sei que está doendo, acredite, eu sei bem como é__ ela disse__, mas não pode pensar assim. Tudo bem, você não conseguiu salvá-la, mas tem que acreditar que vai ser diferente dessa vez. Não pode se esquecer de quem é Joseph, não pode esquecer que é o cavaleiro das sombras e nem da promessa que fez. Não pode desistir antes de tentar.

Ele a encarou meio perdido, parecendo pela primeira vez totalmente indefeso.

__Eu confio em você e sua irmã também, ela precisa de você, precisa que seja forte. Não pode deixar que Klaus vença.

Isabela estava certa, sua mãe e seu pai estavam mortos, mas Macayla estava viva, e precisava dele. Precisa que ele fosse forte, que fosse o cavaleiro das sombras. Ele não deixaria que Klaus saísse impune, ele o mataria e faria com que sofresse, era o que ele merecia e Joseph cumpriria todas as suas promessas.

__Você está certa__ ele assentiu, respirando fundo__ está certa.

__Eu sei que você pensa que está sozinho, mas não está__ ela o lembrou acariciando delicadamente seu rosto__ eu estou aqui com você, não posso lutar numa guerra, mas se precisar de um ombro amigo, se precisar de um abraço, eu estou aqui. Eu também amo você Joseph.

Ele sorriu, um sorriso trêmulo em meio as lágrimas e a abraçou de novo. Suas doces palavras e sua companhia acalmavam seu coração machucado. Tinha a feito sofrer tanto e mesmo assim ela ainda estava ali, ela o amava.Ficou por longos minutos abraçado a ela chorando, botando para fora tantos anos de dor e agonia que tinha guardado para si e em nenhum momento ela disse nada, não o deixou envergonhado ou pediu que parasse, apenas o abraçou e sussurrou mais alguma vezes que o amava e que ele não estava sozinho e logo a dor não era mais tão insuportável assim.

__Você precisa dormir__ ela disse um tempo depois__ tem que descansar e eu também.

__Não vai embora__ ele pediu__ fique aqui comigo esta noite, por favor.

__Tudo bem__ ela sorriu concordando.

Dormiram abraçados aquela noite, confortando um ao outro e apesar da tristeza Joseph não se lembrava de ter dormido tão tranquilamente como aquela noite. Sentiu-se bem e seguro nos braços dela, pela primeira vez não temera que alguém tentasse machucá-lo enquanto dormia, ela estava ali para espantar todos os medos, todos os fantasmas que o atormentavam.

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