Capítulo 4 - Não me ESQUEÇA

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AVISO DE GATILHO.
O capítulo a seguir conta com cenas focadas em transtornos psicológicos, tais como: depressão, ansiedade e o TOC.
Tais cenas podem gerar crises, por isso, peço que leiam com cuidado e tenham consciência de seus limites.

Obrigada pela atenção,
Boa Leitura!

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A casa da estilista era rosa. Não por falta de escolha e sim porque a mulher adorava essa cor, já Adams, a odiava. Era extravagante demais e o deixava nervoso, por tudo isso e pela sua ansiedade, repetiu aquela cor mentalmente quatro vezes, uma para cada letra. Respirou fundo e contou até 11, esperando que sua mente demorasse pelo menos 3 segundos para que ela completasse — aquela era uma técnica que aprendeu logo nas primeiras consultas com a psicóloga. Fez o exercício quantas vezes foi necessário, até que demorasse cinco segundos para sua mente completar a contagem. Só então se sentiu seguro, e calmo, para dar o próximo passo.

Sua designer de moda era mais do que a mulher gentil que o conhecia desde a adolescência, talvez, por ser tudo isso, aquele recinto parecia tão perigoso. Aos 15, poderiam ser amigos, mas aos 24, olhar para ela machucava mais do que ficar sujo. Apertou a buzina do carro 6 vezes, porque buzina contém seis letras e ele permanecia ansioso, apesar dos exercícios, e, além disso, não queria tocar na maçaneta ou na porta. Então, uma moça de cabelo castanho com pontas rosadas abriu a casa, sorridente, como se não tivesse se incomodado com o barulho e, de fato, não se incomodou. Conhecia o rapaz. Sabia mais sobre ele que ele mesmo, talvez. Tudo bem? Perguntou puramente por educação, em seus olhos, a saudade dos velhos tempos era refletida.

— Por que sua casa é sempre tão bagunçada? — indagou Adams ao adentrar no ateliê. Não se sentou no sofá, não por falta de vontade e sim porque estava soterrado de panos e tecidos coloridos, toda aquela bagunça o dava nos nervos.

Marina não o respondeu, odiava toda aquela prepotência do menino, odiava também o que ele havia se tornado ao atingir a idade adulta. Para ela, a casa — que também era seu ateliê — estava arrumada, apesar de sua pequena bagunça com os tecidos, ela enxergava o lugar de cada coisa. Claro, não era perfeita como a moradia do modelo — ninguém seria capaz de ter uma moradia tão arrumada quanto a dele —, contudo, era estável. Era boa.

— Bem, vamos experimentar as roupas antes que você comece a organizar desesperadamente a minha casa — pronunciou a garota, ao notar que o moreno tentava organizar as linhas perto da máquina de costura por tonalidades. Do branco ao preto, como costumava fazer desde sempre.

Não demonstrou, mas aquele comentário o magoou profundamente, por isso, controlou-se e se afastou das linhas, observando-as atentamente. Estavam postas de forma errada, para ele, a ordem cinza, preto e branco era invasiva. Muito invasiva. Parecia feita de propósito para deixa-lo instável. A designer, então, o entregou as roupas novas, enroladas em um plástico filme transparente que deixava a cor azul marinho da blusa a mostra. O modelo segurou a proteção com nojo, apesar de utilizar luvas, não por maldade, mas sim porque odiava testar roupas e só fazia aquilo pois era parte de seu trabalho — e pela menina ser quem era, obviamente. Sabia que tudo aquilo não passava de um contato profissional, porém não gostava de acreditar naquilo. Entristeceu-se, uma parte de si ainda nutria algo pela bagunçada garota com quem namorou quando era jovem. Agora, ambos eram apenas amigos de longa data. Ou menos que isso, não sabia.

Só experimente as roupas, pensou, é apenas isso que ela deseja de você. Era um homem bonito, sempre se conferiu oito vezes antes de sair de casa, então, nunca compreendeu o motivo do término — e muito menos o aceitara. Tudo bem, havia sido sua culpa, entretanto isso não amenizava a dor que sentia. Olhou para os lados, confuso, e finalmente deparou-se com a porta do banheiro, não queria entrar naquele recinto.

Não me TOC [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora