Capítulo 6 - Não me CONTE

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AVISO DE GATILHO.
O capítulo a seguir conta com cenas focadas em transtornos psicológicos, tais como: depressão, ansiedade e o TOC.
Tais cenas podem gerar crises, por isso, peço que leiam com cuidado e tenham consciência de seus limites.

Obrigada pela atenção,
Boa Leitura!

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O dia amanheceu, juntamente com o modelo, que começou sua limpeza diária às seis horas da manhã em ponto, pois gostava de ser exato — gostava até demais. Não conseguia compreender como sua casa se sujava tão rapidamente, visto que já havia varrido a residência sete vezes e continuava enxergando as pequenas partículas de poeiras no chão. Passou o pano quatro vezes seguidas, na esperança de ver os germes sendo eliminados, porém, fracassou. Fez todo o trabalho com luvas, é claro. Não arriscaria sujar suas mãos com a estopa imunda. Porém, o látex começava a incomodar à medida que o tempo passava, visto que tocava e fazia arder a pele queimada por conta da água sanitária, contudo, o modelo ignorou a dor. É só psicológico, pensou sobre o ardor.

Pegou uma esponja e começou a esfregar no chão — como se via nos filmes —, na tentativa de deixá-lo brilhando, porém, quanto mais esfregava, mais via os germes se dissipando pelo piso branco. À medida que seus dedos se friccionavam no chão, o modelo sentia o látex das luvas descartáveis queimar. Depois de algumas horas, finalmente as retirou e só então observou o relógio. Era onze horas em ponto. Sorriu. O garoto era perfeccionista, precisava ser. A casa finalmente estava limpa e perfeitamente organizada, agradeceu-se por não a encher de coisas, sendo sempre simplista e não materialista — ao contrário de seu pai. Ter menos coisas significava ter menos trabalho para limpar. Odiava perder o dia por ter enlouquecido por germes, talvez, mais que odiava os germes em si.

Colocou as luvas de algodão para proteger as mãos — e por conta da dor que sentia —, talvez não seja tão psicológica assim, admitiu para si mesmo, respirando fundo. Deitou-se no sofá branco e pegou seu telefone, queria ver notícias sobre seu último ensaio — o que foi obrigado a retirar as luvas para participar — e sorriu ao ver as fotos, estava bonito e todos estavam surpresos pelo fato de ele ter feito um ensaio mais natural. Contudo, ninguém ali sabia algo de verdade sobre o Adams natural, as luvas não eram para dar um toque de charme ou elegância, como todos falavam, sim para o proteger. O proteger do mundo, como sua mãe faria — se não o tivesse abandonado. Retirando Marina, ninguém compreendia de fato quem ele era, a forma como agia e como vivia, por isso que todos seus amigos o tinham abandonado — por isso que Marina precisava ser protegida. Se bem que, depois de Luan, ele era apenas um colega. Marina não admitia, mas sabia dos sentimentos do modelo pelo seu marido — ódio, rancor, ciúmes, inveja, todos os sentimentos sujos possíveis — e, por isso, sempre o chamava para ir testar roupas quando o fotógrafo estava trabalhando. No fundo, Adams não era uma pessoa ruim, ele só não suportava ter perdido tão rápido a pessoa que amava.

O problema é que Marina não era dele, era dela mesma. Marina era mar e aguara as praias de outras pessoas, pois o oceano é infinito demais para permanecer preso a um só país.

Já era dezembro quando Marina o ligou, animada, chamando-o para ir jantar em sua casa com Isabella e Pedro, seus amigos de escola. Segundo ela, era uma reunião de velhos colegas de sala para comemorar uma surpresa, pensou em não ir, não queria ver seus antigos companheiros de classe, mas a sua mente estava presa na razão de Marina tê-lo chamado. Será que iria viajar com Luan? Ou será que apenas gostava de esfregar na cara do modelo o quão perfeitos eram um para o outro?

Bochechou a água sanitária e a cuspiu rapidamente, não fazia isso há uma semana e já se sentia imundo — a realidade, é que não saia de casa direito há duas semanas, pois havia tirado umas férias dos ensaios e se dedicado completamente à linha de acessórios que iria lançar em conjunto com Sofia, uma estilista que trabalhava na empresa de seu pai há quase uma década e que havia visto o modelo crescer e enlouquecer. Logo após a escovação dental, pegou uma esponja e mergulhou na água sanitária, passando por todo o seu corpo — aquilo ardia. Não costumava se banhar daquela forma, mas precisava ficar branco, e somente isso importava. Deixou o Hipoclorito de Sódio fazer efeito por míseros segundos e, só depois, entrou debaixo do chuveiro, molhando-se e sentindo toda a queimação se amenizar. Saiu do banheiro com cuidado para não molhar toda a casa e se enxugou com uma toalha limpa, vestindo mais uma roupa perfeitamente organizada e passada. Pegou um cubo de gelo de aloé vera e colocou em algumas partes do corpo em que havia se queimado com o líquido, precisava passar menos tempo nesses seus banhos ou acabaria cheio de bolhas. Tomou um ibuprofeno para amenizar a dor e seguiu em frente.

Não me TOC [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora