Capítulo 20 (Parte 1) - Não me CULPE

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AVISO DE GATILHO.
O capítulo a seguir conta com cenas focadas em transtornos psicológicos, podendo ter momentos que tratam  ansiedade, depressão, TOC, ou relatos sobre solidão e relacionamentos abusivos.
Tais cenas podem gerar crises, por isso, peço que leiam com cuidado e tenham consciência de seus limites.

Obrigada pela atenção,
Boa Leitura!

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Dias péssimos existiam para enganar o conceito de dias ruins, fazendo-os parecerem bons.

O fato de não ser um, fazia com que Adams quase acreditasse que seu dia poderia ser o outro.

Com a chegada do novo ano, as coisas voltaram ao seu ritmo normal. Ficou a primeira semana atualizando-se, falando com algumas pessoas, entrou em contato com Lucas diversas vezes para resolverem juntos assuntos diversos — trocaram uma ou duas conversas fora de forma, nada além do habitual. O agente até tentou puxar algo além do comum, porém a apatia voltou a tomar conta do modelo, transformando-o novamente em mais um conjunto de cálculos e números.

Acordou, caminhou até o banheiro — porta, oito vezes —, escovou os dentes, passou hidratante nos braços como fazia compulsivamente há dias em uma tentativa desesperada de melhorar a pele.

Chegou à conclusão que não estava adiantando muito, ainda conseguia sentir o momento que a pele, já rachada, entrou em contato com a água sanitária e cada parte do seu corpo se fechou com a ideia da ação. Tentou não pensar, pois não sabia, ao menos, o que não queria saber.

Lavou o rosto e observou os traços que, aos poucos, pareciam mais harmoniosos ao seu ponto de vista. Quase como se o sentimento de se sentir bem fosse familiar, quase como se fosse algo próprio dele — como se os traços fossem dele por completo, não apenas por sobrenome.

Foi à cozinha, colocou um par de luvas descartáveis e limpou a casa como sempre.

Primeiro varreu — a fricção queimava —, depois passou o pano, esfregou manualmente diversos locais que ainda não pareciam limpos o suficiente e passou o álcool em gel nos que ainda detinham de digitais.

Finalizou com o limpador de móveis.
Varreu novamente quando teve o pensamento de que poderia ter varrido errado.

Passou o pano quando o da vassoura ter feito o trabalhado anterior ser inútil o corrompeu.

Negou com a cabeça qualquer ideia relacionada a água sanitária e pele, tentando sempre focar em outro lugar — tarefa que era difícil e, na maioria das vezes, falha. Acabava sempre fazendo o que, em seu íntimo, não desejava

A culpa não era sua se aquilo parecia o melhor a ser feito.

Neste momento, em específico, conseguiu se distrair. Não abusou da sorte e permaneceu na rotina, até tentou se arriscar e encostar a porta apenas uma vez, obrigando seu olhar a centrar em qualquer outra coisa que não fosse a fechadura.

Contudo foi impossível. A multidão de possibilidade de erros que poderiam ocorrer caso aquela porta não estivesse fechada e não conferisse que estava fechada o fez voltar.

Oito vezes.

Uma.

Duas.

Três.

Quatro.

Cinco.

Seis.

Sete.

Oito.

Oito vezes.

Tudo bem, Adams. Você está seguro agora. Brincou consigo mesmo, quase como se estivesse debochando da situação.

Não me TOC [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora