Capítulo 8 - Não me ABANDONE

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AVISO DE GATILHO.
O capítulo a seguir conta com cenas focadas em transtornos psicológicos, tais como: depressão, anorexia, bulimia, ansiedade e o TOC.
Tais cenas podem gerar crises, por isso, peço que leiam com cuidado e tenham consciência de seus limites.

Obrigada pela atenção,
Boa Leitura!

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Ao acordar, ainda não conseguia sentir o seu corpo por completo, parecia que tinha sido atropelado por um caminhão em velocidade máxima. Sua mente, para combinar, era uma completa bagunça e somente o cheiro de desinfetante a inundava, acalmando o fluxo intenso de pensamentos que o aterrorizava. Flores da primavera, lembrou da denominação do odor. Sentiu seu pescoço doer por ter dormido de mau jeito no sofá — à base de medicamentos, começou a se recordar. Marina. Sua consciência gritou, como se gritasse a coisa mais importante do mundo e, talvez, gritasse. Enfiou seu rosto na almofada, apenas para esconder o rubor de suas bochechas.

Levantou-se um pouco confuso, sem saber direito em que lugar pisar. Não sabia qual canto da casa havia sido limpo, ou quantas vezes a menina havia passado o pano, tudo que sabia, ou melhor, sentia, era o cheiro de flores que invadia a sua cabeça. Mas, apesar de não saber de nada, decidiu andar — ainda estava meio drogue por conta do excesso de medicamentos e, além disso, estava com fome. Dirigiu-se então à cozinha, procurando uma fruta e uma faca, na esperança de que pudesse enganar o estômago — o relógio da parede indicava que já havia passado das dez horas. Estava tonto, não possuía mais Rivotril em sua casa, assim não poderia mais se beneficiar com o medicamento — teria que enfrentar suas batalhas sozinho, como sempre fez. Pensou em ligar para algum amigo médico, mas logo percebeu que não conhecia ninguém próximo o suficiente para pedir esse favor. Não conhecia ninguém.

Adams era solitário.

E isso o fazia tremer.

Pegou em seu telefone, o que não fazia desde o dia anterior, Angélica havia ligado sete vezes. Sorriu debochadamente, ela poderia ligar mais dez, não estava com ânimo para atendê-la e, por isso, não iria. Além do mais, se atendesse, não sabia como iria reagir. Desejava que ela o esquecesse, o apagasse de sua vida — como fez um dia. Por Angélica, os únicos sentimentos que floresciam em Adams era a raiva, o desapego, o abandono e o rancor.

Observou as mensagens que haviam chegado no aplicativo de conversa, havia uma em especial que chamou sua atenção. Marina, informando que ela havia chegado bem em casa e pedindo para ele avisá-la ao acordar. Entre corações, a moça informava que a casa estava limpa o suficiente para ele não se preocupar — estava enganada, não importava o quão limpa a casa estivesse, Adams sempre se preocupava com a limpeza da residência.

Contudo, apesar de todos os fatos que ocorreram, sorriu ao notar a preocupação dela com seu bem-estar. Ainda o amava, não da mesma forma que ele, não da forma que ele desejava, porém, o amava — de um jeito que só a garota podia amar — e isso era o suficiente para fazê-lo feliz.

Angélica o ligou novamente, provavelmente precisava de dinheiro — era apenas para isso que entrava em contato com o modelo, quando entrava — ou de algum favor que apenas ele podia realizar. Na primeira vez que se falaram após o estranho retorno da mulher, deixou lágrimas de felicidade escaparem de seus olhos, por conta de todo o tempo que havia se passado entre ambos, até que reparou a verdadeira intenção da moça. Para ela, Adams não era nada além de um banco que não a cobrava, todos os sentimentos que um dia nutriu — se é que nutriu — agora estavam mortos. Como alguém poderia ser tão fútil? Adams costumava pensar, e ainda pensa, toda vez que via seu nome estampado na tela do celular. Angélica era apenas mais uma que havia o abandonado quando ele mais precisava — e por mais que fosse incapaz de negar algum favor a mulher, ainda era extremamente capaz de ignorá-la, como ela havia feito com ele por muito tempo.

Não me TOC [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora