Capítulo 11 - Não me SALVE

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AVISO DE GATILHO.
O capítulo a seguir conta com cenas focadas em transtornos psicológicos, tais como: depressão, ansiedade e TOC, podendo abordar pensamentos negativos em relação ao suicídio.
Por favor, leiam com cuidado e tenham consciência de seus limites.

Obrigada pela atenção e por todo o apoio,

Boa Leitura!

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As luzes brancas se refletiam nas paredes de mesma cor, deixando transparecer a pureza, a limpeza, o que Adams almejava ser.

Os dias que se passavam desde o encontro com a mais velha permaneciam obscuros. O modelo continuava se sentindo morto por dentro, cansado de sua própria essência, envolto a uma sujeira que se recusava a sair. Recusava-se a ser limpa.

Envolto de si mesmo.

De seus pesadelos.

De seus vícios.

Sua boca permanecia seca desde a situação da semana passada, como se as lágrimas derramadas houvessem ressecado todo seu corpo, ressecado seus sentimentos. Olhava as mãos, a imagem delas queimando, o cheiro do desespero que rodopiava em torno do menino, a água gelada que atingia sua pele, gota por gota, como se fosse um piano. Conseguia escutar a triste melodia da infância ser tocada, tecla por tecla, voz sobrepondo voz, tonteando-o. O que tinha feito consigo mesmo? O que tinha se tornado?

Estava exausto. Não conseguia comer direito desde a visita da mulher, mesmo que estivesse acostumado a controlar seus hábitos alimentares de maneira extrema, aquela rotina o matava, pouco a pouco. Tudo aquilo doía. Não conseguia parar, se controlar, estava sempre a limpar. A casa era arrumada a cada segundo que se passava, milímetro por milímetro, procurando atingir a perfeição, na esperança de que ela refletisse em seus pensamentos. Sempre organizando, trocando os móveis de lugar, enlouquecendo, buscando um método de obter a segurança que a residência um dia o passou — tentando retirar a imagem de Angélica de suas memórias, de suas cores. Aquele forte, que antes era seu refúgio, agora era o centro de seus pesadelos, não havia mais lugar em que pudesse ficar em paz. A cada movimento que fazia, seu corpo doía, as dobras de seus dedos ardiam, como se fosse um aviso incessante de quem era — do que havia se tornado.

Depois daquela situação com o suco, demorou alguns minutos até que conseguisse levantar e se movimentar. Mas, se levantar não era sinônimo de se recuperar. Levantou-se fisicamente, pois emocionalmente ainda estava preso naquela parede, chorando. Era um prisioneiro de guerra e o adversário era o seu próprio reflexo. Enquanto permanecia no chão frio, apertava as mãos até que as unhas ferissem sua pele, enquanto batia suas costas contra a parede e rezava para que alguém o salvasse do inimigo invisível que era seus próprios pensamentos. Agora, ao observar suas mãos, sentia a água sanitária corroê-las, pouco a pouco, ultrapassando a fina camada de pele, como havia ocorrido naquele dia, tudo que restou foram as memórias do vermelho em destaque no seu corpo, seguido de passos rápidos em direção à pia da cozinha. O tropeço nos próprios pés o levou ao chão e, desesperado, aceitou sua própria realidade.

Já não conseguia dizer com tanta certeza se a maneira que levava sua vida era boa ou segura. O pensamento de que realmente fosse um louco, um doente, começava a se expandir — começava a lutar contra seus antigos ideais, em uma guerra que acabaria por destruí-lo, independente de quem vencesse.

Já não movia mais as mãos de maneira tranquila, enxergava-as rosadas, manchadas, em chamas — deveria ter ido ao médico? Também não conseguia dormir, os pesadelos frequentes o transportava aos catorze anos e o incomodava de forma dura, o espancava de forma dura, gritava de forma dura, as palavras eram ditas de forma dura.

Não me TOC [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora