Capítulo 12 - Não me ALEGRE

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AVISO DE GATILHO.
O capítulo a seguir conta com cenas passadas em hospitais, após o acontecimento do passado, podendo gerar crises.
Por favor, leiam com cuidado e tenham consciência de seus limites.

Obrigada pela atenção,
Boa Leitura!

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Ele é meu único filho!

Uma voz feminina gritou e, embora Adams tenha escutado, não foi capaz de reconhecer a importância daquelas palavras inicialmente. A vida o fez esquecer o que elas queriam dizer, o que elas procuravam expressar. É claro que buscou em sua memória o significado de cada uma delas, como se fosse o próprio dicionário, porém, logo chegou à conclusão que, se realmente fosse um dicionário, estaria em branco, ou então teria derramado vinho por cima de suas páginas, porque tudo que enxergava era um borrão negro.

Sua mente estava vazia, deslocada, pichada.

Suja.

Você não tem o direito de pedir para que eu vá embora.

Permaneceu escutando a conversa, mesmo que um pouco tonto. Em seguida, reparou que não era a mulher que estava gritando e sim o ambiente que estava extremamente silencioso, o seu cérebro também já não recebia mais os fluxos apressados de ideias e a combinação dos fatores acima o permitia focar no exterior.

Piscou, porque a luz incomodava.

As memórias eram desconexas entre si, vinham e partiam de maneira não-linear, deixando-o confuso.

Primeiro, via o rosto estável de uma mulher uns vinte anos mais velha. A imagem parecia fotográfica: o cabelo desarrumado, a face cansada e as linhas de expressão marcadas. Poderia ver essas coisas como se fosse uma capa de revista, sem ser capaz de enxergar mudança ou movimento.

Após, foi atingido por uma onda composta por algo que arranhava cada parte do interior de sua garganta, a sua boca tentava desesperadamente soltar algum som, contudo nada acontecia — a não ser um espasmo que percorria cada milímetro de sua existência. Aquela terrível sensação retornou como se fosse um choque, quis tocar em seu pescoço, na tentativa de conferir se ele ainda estava intacto, todavia não conseguia levantar a mão.

— Acalme-se, rapaz. — A mulher agia como se fosse um procedimento comum. Sua boca não se movia, ou ele não a via se mover. — Não está doendo tanto, é só impressão.

A impressão parecia muito real naquele exato momento.

Coçava, incomodava, e o moreno conhecia bem a sensação. Podia sentir ainda no presente. Como se retornasse no tempo, sentiu seu corpo ser inundado por chamas, o momento que chegou no hospital em um carro que também não conseguia enxergar. Tentou, de forma fracassada, definir como tinha andado até a recepção — assim como o carro, o rosto de quem havia o levado era apenas um borrão.

Tudo podia ser definido como um misto de toques e vibrações.

A sua boca coçava, estava desesperadamente tentando puxar oxigênio e este parecia inexistente, pois nada chegava ao seu pulmão de forma suficiente para minimizar a angústia e por mais que tossisse desesperadamente, a sensação de ser incapaz começava a dominar cada parte dele. Não conseguia ao menos definir suas roupas no momento, tudo que via era o vazio. Eram memórias de dentro, sentimentos, impressões, cores aleatórias — vermelho, marrom, preto e cor de sujeira.

Recordou uma cadeira de rodas, mas não conseguiu determinar em que tempo foi isso — ainda estava pensando no hoje, ou voltou para o ontem? Presente ou passado? Primeira ou última vez? Os tempos mesclavam, criando um universo em que a palavra relógio era inutilizável.

Não me TOC [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora