Capítulo 16 - Não me JULGUE

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AVISO DE (que talvez não tenha) GATILHO.
O capítulo a seguir está relativamente leve.
O aviso acima é só para vocês relembrarem que "Não me TOC" ainda lida com transtornos psicológicos.

Obrigada pela atenção,
Boa Leitura!

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Observou-se no espelho.

Há quanto tempo estava em pé na frente daquele reflexo distorcido?

Os traços, que um dia foram tão familiares, pareciam ser de outra pessoa, como se pertencessem a um passado distante — mesmo que tenha ocorrido há poucos meses. Caso lhe pedissem para recitar o que enxergava, sentiria dificuldade em definir com palavras e acabaria por optar pelo termo "inexistente". O que já foi reconfortante, soava apenas cansativo. Os mimos da adolescência que levava consigo na esperança de retornar a ser quem foi um dia não faziam mais tanto sentido.

Era como se apenas de não ter caminho de volta, permanecesse observando um mapa.

Ninguém deveria viver em uma prisão feita de memórias, lembranças e de passado. Se existia algo que sabia — e sabia de diversas coisas, inclusive, chegou a ser a melhor aluna de sua classe diversas vezes — , esse algo era que se é preciso cortar alguns laços antigos para se construir novos, é preciso destruir tudo que lhe prende, todas as amarras, é preciso desmontar velhos conceitos para se reconstruir como uma nova pessoa.

Quando tudo parece perder o sentido, é preciso começar do zero.

Um dia, quando mais nova, pintou o cabelo para se relembrar dos seus desejos, em meio a todas aquelas pessoas diferentes, queria poder se destacar em algo e ao mesmo tempo permanecer a mesma, o tom rosa lhe caia bem. Compaixão, ternura, feminilidade, empatia. Características que sempre foram suas e, mesmo o termo feminilidade — agora, já tão antiquado — , parecia simpático na época. Achava interessante a sua capacidade de permanecer com os atributos impostos pela sociedade e ao mesmo tempo manter os que impôs para si, não queria que sua força fosse apagada pela sua imagem ou vice-versa. Queria ser bonita e capaz, inteligente e interessante, não queria abdicar de nenhum de seus lados — entre vaidade e capacidade, tinha decidido escolher os dois.

Por mais difícil que tudo isso fosse.

Quem sabe foi esse o motivo de manter a cor por tanto tempo, para relembrá-la de todo o esforço que fez para chegar até onde chegou. Para relembrá-la que, independente do que a vida tinha feito, ainda carregava consigo a ternura, carregava o desejo de não deixar de ser quem um dia foi, mesmo que em forma de cor.

Por que aquele seu rosto, que por muito tempo lhe fora agradável, parecia tão ridículo?

Por que não conseguia sentir o mesmo afeto de antes por tudo aquilo? Por que estava cercada de tantas dúvidas? Não era um modo de agir, falar ou pintar o cabelo que a definiria como uma boa ou uma má mãe, então, por que estava tão receosa?

Por que a tesoura, que por muito tempo a assustou, parecia tão interessante?

Não me TOC [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora