Capítulo 20 (Parte 2) - Não nos CULPE

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AVISO DE (que talvez não tenha) GATILHO.
O capítulo a seguir está relativamente leve.
O aviso acima é só para vocês relembrarem que "Não me TOC" ainda lida com transtornos psicológicos.

Obrigada pela atenção,
Boa Leitura!

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Ela caminhou até perto da mesa, segurando o copo de café na mão e assoprando.

Posso sentar? Não foram palavras, apenas olhares.

Não foi uma resposta, apenas instinto.

Sentou.

Ele esperou que Marina falasse algo, que quebrasse o silêncio que se instaurava entre meio sorriso e outro, nunca inteiro, já não eram inteiros há anos — pelo menos, quanto colocados frente a frente. Observou-a tomar um gole do café, ainda sem pronunciar qualquer palavra e, de forma insensata, deixou-se fluir até a época da adolescência. O cheiro da bebida, a forma que preferia a temperatura mediana, quase que fria, o gosto de ambos presentes em cada parte, cada gota, cada essência.

Eram ambos cafeína, energéticos. Ou foram, sim, tinham sido — a conjugação verbal indicava que não eram mais. Talvez, fossem apenas bebidas aleatórias, sem real intenção, sem real consequência. Apenas bebidas que passavam, gostavam, todavia nunca voltavam a experimentar.

Talvez ela fosse café — o deixava eufórico, o modelo gostava do cheiro, textura e sabor. Porém possuía noção de que deveria manter distância, sua ansiedade iria matá-lo se permanecesse tão perto e a dor de sempre olhar, consequentemente desejar, era insuportável.

Um dia, quem sabe, esperava voltar a tomar.

Mesmo que sem cafeína.

— Você não sentou aqui para ficar calada. — Rouco, prepotente, debochado, insensato, chato. As palavras que todos o definiam, não como se isso importasse, não sabia quem era, o que significava que não poderia negar ser tudo aquilo.

Mas algo no olhar da jovem o disse que não sentiu nada daquilo, não identificou se foi a forma como mexeu a colher de plástico, como deixou-se pronunciar um sorriso, o jeito que passou os fios do cabelo — agora curto, castanho, nada rosa. Modificado, indicando que talvez, a estilista fosse um tanto diferente do que foi há um mês —, ou simplesmente como parou, o fitou e voltou a tomar um gole antes de relatar alguma coisa.

— Sabe que sou péssima em iniciar conversas — pronunciou. Concordava, Marina nunca fora boa em iniciar debates, sempre se expressou pelo silêncio. Sempre deixou que seu olhar iniciasse a briga, uma maneira inteligente de não assumir os erros, ambos confessavam em seus íntimos.

Inteligente e inocente, Adams completava, pois sentia que os julgamentos escondidos por trás do castanho cor de tempestade eram pura paranóia de seus dias ruins.

Não que tivesse dias bons — não os tinhas, só que como já dito, sempre existiam os piores que os naturalmente ruins.

— Você tirou o rosa — apontou, a menina sorriu e, por um segundo, se preparou para responder: que bom que não está daltônico. Guardou as palavras, apesar de ter conhecimento que o moreno sabia seus pensamentos.

Anos de convivência geram uma falta de privacidade constante, mesmo que não se more junto.

— Sim, estava ficando entediante.

E permaneceram assim, escondendo as palavras, esperando um que o outro tivesse a coragem de puxar o assunto, de quebrar os muros feitos de silêncio. 

Não me TOC [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora