II - Matrimônio

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AVISO DE QUE NÃO TEM GATILHO.
O capítulo a seguir está tão leve que pode ocasionar surpresas. Na verdade, ele é um especial que retrata o passado romântico do protagonista, então, eu até mesmo coloquei uma música de amor para escutarem —  caso queiram.
O aviso acima é só para vocês relembrarem que "Não me TOC" ainda lida com transtornos psicológicos.

Obrigada pela atenção,
Boa Leitura!

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Marina escutou os dedos dançarem perante as finas teclas de cores opostas, imaginando que, talvez, estas representassem seus desejos. O que sonhou, o que alcançou e o que, agora, queria abdicar. Os olhos verdes a sua frente, brilhantes, se divertiam ao ver seu sorriso. Até que pararam — ou ela que parou de sorrir.

— O que foi? Parece meio triste, quer que eu pare de tocar?

— Não! — interviu afobada com o fato de ter deixado transparecer que algo a estava perturbando. — Adoro te ouvir tocar, você é bom.

Deixou fluir um leve sorriso e esperou que isso o acalmasse.

— Meu pai me mataria se eu não fosse. — E mesmo o tom brincalhão do modelo não foi capaz de apaziguar a namorada.

Sentiu seu peito contrair como se estivesse presa a um mal pressentimento. Sabia o que se escondia por trás da beleza daquela residência, a dúvida do quão real poderia ser aquilo a naufragava no ar. Nenhuma pessoa nascia para ser perfeito, a perfeição não deveria ser a meta da vida de ninguém, incluindo a de Adams. Não se é possível esconder os defeitos e fingir que eles não existem, focando-se apenas nas qualidades. As coisas ruins também eram parte da essência de cada um, viver negando-as era viver sobre uma pressão constante para não errar.

Não errar e não amadurecer parecia a mesma coisa aos olhos dela. Fora que viver sem se permitir errar não era viver. Não de verdade.

Além disso, tinha a questão de Henrique. O pouco que conhecia do pai do menino a fazia tremer diante daquelas palavras, o pavor que a dominava era por conta do medo de que apesar de serem ditas de forma engraçada, as palavras fossem um reflexo deturpado da verdade. Os roxos na pele, a forma dura e rígida que Henrique tratava o filho, como Sofia parecia detestar o chefe apesar de adorar o filho do homem, não era burra. Não. Qualquer pessoa com um pouco mais de proximidade enxergaria os sinais e, assim como ela, temeria que toda aquela situação se agravasse. Entre tantos medos, existia o de que o garoto de olhos verdes se tornaria quando estivesse longe, caso entrasse no intercâmbio.

O tempo era perigoso, não era a mesma de um ano atrás e enxergava que o namorado não era o mesmo também, estavam em constante evolução e qualquer ideia de estagnação se assemelhava a um pesadelo.

Estava dividida, completamente dividida.

Seu coração a pedia para ficar.

Seus sonhos a pediam para partir.

E se resumia a pedir para ser capaz de se repartir em múltiplos fragmentos ou, ao menos, não sentir tanto.

Sentia muito, de todas as maneiras.

— É véspera de Natal... — murmurou, observando a hora. Passava das seis, teria que ir embora em menos de duas horas e, novamente, a confusão se instalava no seu interior. Adams a fazia ir contra sua alma hiperativa e querer parar um pouco no passado. — Por que ainda está sozinho em casa? Seu pai não volta hoje?

Ele negou com a cabeça, apertando algumas teclas que formavam sons de forma aleatória, sons que formavam memórias, sentimentos e que, no futuro, corriam o risco de se converterem em lágrimas.

Não me TOC [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora