Capítulo 21 (FINAL) - Não me TOQUE

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AVISO DE GATILHO.
O capítulo a seguir conta com cenas focadas em transtornos psicológicos, tais como: depressão, ansiedade e o TOC.
Tais cenas podem gerar crises, por isso, peço que leiam com cuidado e tenham consciência de seus limites.

Obrigada pela atenção,
Boa Leitura!

Passos pequenos eram dados, enquanto sua respiração pesava

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Passos pequenos eram dados, enquanto sua respiração pesava. De um lado para o outro, todos o observavam — talvez por sua beleza, talvez porque estivesse andando em círculo de nervosismo, não sabe, nunca soube. O que se sabia é que não gostava de sair do lugar em que estava, não gostava quando remexiam em suas coisas, não gostava quando tocavam em suas coisas — não gostava de não gostar dessas coisas. Respirou profundamente outra vez, o moreno pegou o álcool em gel e olhou, já era a décima quinta vez ao dia que fitava a embalagem.
Tudo era uma questão de manter a calma, pensou.
Havia sido obrigado a sair e todo aquele peso era demais para ele, odiava odiar ter que se misturar com pessoas — odiava odiar pessoas.
Guardou o álcool em gel.

Havia colocado sorrisos falsos e tocado no máximo de coisas possíveis nos últimos meses, todas as vezes que as portas se abriam, em sua mente, os números passavam — um, dois, três, quatro, cinco (...), nove, dez, onze. Precisando sempre contar mais, precisando sempre respirar mais, nunca sendo o suficiente, nunca sendo quem realmente era. Um, tocava no vaso. Dois, na mesa. Três, nas paredes. Quatro, sorria — a ideia dos dentes estarem sujos o fez querer vomitar tantas vezes nos últimos meses —. Cinco, tentava retirar as luvas fracassava —. Seis, descobria que era incapaz de fingir desleixo e organizava as blusas. Sete, fazia o mesmo com as calças. Oito, evitava aperto de mãos. Nove, recusava comida. Dez, seja o que for. Não se importava.

Passos cronometrados para enganar que só funcionavam para ludibriar uma única pessoa: ele mesmo.
Passos cronometrados destinados a falhar.

Lembrou da última vez que esteve em um lugar como aquele, mentiu à psicóloga quantas vezes foi possível mentir em uma sessão. Disse que estava bem sem estar, mostrou as mãos sem luvas sete vezes e tocou em sua mesa quarenta e três, sem perceber ou sequer imaginar que quando saísse daquele lugar, estaria fadado a uma piora. Por fim, fracassou, depois de um tempo — pouco mais de seis meses — fora da visão da terapeuta ocupacional, não conseguia se ocupar com mais nada. Suspirou profundamente, sua cara séria logo deu lugar a um riso debochado diante da sua estupidez, pegou o álcool em gel e o observou, sentindo e buscando ignorar o desejo de passar em suas mãos, quis voltar ao carro, sentir o cheiro de limpeza entrar por suas narinas e adormecer — adorava aquele cheiro, ou talvez, fosse sua mente que o fizesse adorar. O quanto de si tinha sido perdido para ele mesmo?

Antes de dirigir, andar, sair, qualquer coisa, costumava pôr as luvas que geralmente comprava em sites internacionais. Adorava sentir o tecido passar por suas mãos e impedir a sujeira de adentrar em contato consigo mesmo, esquecendo que é preciso encarar alguns vírus para criar resistência. Agora, olhando as luvas, sentia ódio. Dirigiu a vida cuidadosamente, nunca infringindo o máximo de velocidade nenhuma vez sequer — o TOC fingia que o ajudava a não fracassar, enquanto o atacava e levava em direção ao fracasso que não enxergava. Antes mesmo de sair de casa, estava exausto, sabia que seria um dia exausto, um dia cansativo, um dia de lutar. Sabia de muitas coisas, mas não costumava ser bom com mentiras, não até ter sido absorvido em uma rotina de números, compulsões, obsessões, pensamentos intrusivos e armas invisíveis que ameaçavam destruir o pouco que ainda restava em sua consciência caso não fizesse uma maldita rotina que deveria acreditar ser boa, acreditar e repetir todas as vezes possíveis que conseguia lidar com tudo aquilo, que era forte.

Não me TOC [COMPLETO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora